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Ministra do Mar afasta cenário de proibição de pesca da sardinha durante 15 anos

A ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, afastou hoje o cenário de uma proibição de capturar sardinha durante 15 anos, como proposto por um organismo científico que aconselha a Comissão Europeia, afirmando que isso é "impensável".

Pedro Elias
26 de Julho de 2017 às 16:01
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Ana Paula Vitorino, que falou aos jornalistas à margem de uma visita a Portimão, onde participou com o ministro da Defesa na assinatura de protocolos e na inauguração do sistema de radares "Costa Segura" na cidade algarvia, garantiu que a definição dos 'stocks' de sardinha para 2018 será definida, como estipulado, em Outubro, depois de ser feito um novo cruzeiro de monitorização da espécie em agosto.

 

"As decisões que existirem, não são tomadas agora, serão tomadas em Outubro, conforme planeado e previsto, conforme os dados que existirem na altura", afirmou Ana Paula Vitorino, frisando que a definição dos 'stocks' de sardinha para Portugal é uma matéria "acompanhada pela Comissão Europeia mas não é fixada pela Comissão Europeia".

 

A governante precisou que a "capacidade de pesca é uma questão entre Portugal e Espanha, porque é um sector gerido conjuntamente" pelos dois países, e será feita "de acordo com essas avaliações" das quantidades de pescado existentes e em "diálogo intenso com o sector".

 

"Tal como fizemos no ano passado, este ano estamos a trabalhar com os pescadores, porque não é uma questão que se trate de forma majestática desde o ministério, é uma gestão que se faz com dados científicos, com dados reais, porque os próprios pescadores podem dar dados importantíssimas sobre o estado do stock, eles são extremamente conscientes e quando o 'stock' está bom dizem que está bom e quando está mau também", explicou a ministra.

 

Ana Paula Vitorino disse que o ministério vai "continuar a trabalhar com eles", mas frisou que "a fixação da quota que poderemos ter só em Outubro" será definida.

 

"Mas nunca será de parar a pesca e, muito menos, por um período de 15 anos, isso seria impensável", assegurou.

 

A governante disse haver neste momento "uma questão que é transversal" a todos os países e espécies e que o problema não se coloca só com a sardinha.

 

"De facto as alterações climáticas têm provocado alterações nos fluxos migratórios de várias espécies e aquelas que havia maioritariamente nos países do sul estão também a aparecer nos países do norte, à procura de águas com temperaturas mais frias que costumavam existir na nossa costa", argumentou.

 

Ana Paula Vitorino acrescentou que esta situação obriga a ter "um maior controlo com o que se passa com as nossas espécies" e anunciou que, "por isso, vão existir este ano, contrariamente ao que havia no passado, três cruzeiros científicos do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) para avaliar o estado do 'stock'".

 

"O próximo vai ser realizado em agosto", afirmou, frisando que esse trabalho permite ter "planos de gestão mais ajustados ao estado do stock" e saber, por exemplo, "quando se pode começar a pescar, quando se acaba, quais são as quantidades ou se há variações durante os dias da semana".

O conturbado mundo da sardinha em sete gráficos:

 

População de sardinhas em níveis mínimos

População de sardinhas em níveis mínimos
A população de sardinhas nos mares explorados por Portugal e Espanha caiu de forma abrupta e, segundo o ICES, não dá sinais de recuperação. A tendência de recuperação cíclica começou a perder força e não há sinais de retoma desde 2006. No gráfico: Stock de sardinhas no mar com um intervalo de confiança de 95% (a cinzento) Fonte: Relatório do Parlamento Europeu

Sardinha incapaz de crescer

Sardinha incapaz de crescer
É um dos sinais de alarme: o nível de recrutamento da sardinha, ou seja o número de espécimes que superam o limite de um ano de idade, mantém-se historicamente baixo, contrariando a tendência cíclica do passado. No gráfico: Número de espécimes em milhões Fonte: Parlamento Europeu; Nota: a cinzento a margem de erro para um intervalo de confiança de 95%.

Menos pescada, mais cara

Menos pescada, mais cara
Enquanto as toneladas capturadas de sardinhas caíram para quase um quarto em dez anos, o valor gerado até aumentou 6%. Isso terá ajudado a equilibrar as contas dos armadores e pescadores. No gráfico: Rendimentos (em euros) e quantidade capturada (em toneladas) Fonte: INE

Sardinha é o peixe que gera mais dinheiro

Sardinha é o peixe que gera mais dinheiro
Os peixes mais capturados são a cavala e o carapau, mas o seu preço é baixo. Já a sardinha, embora seja só a terceira espécie mais capturada, é de longe o peixe que mais rendimento gera quando é descarregado na lota. A explicação está no preço. No gráfico: Rendimento gerado na lota (em milhares de euros) e quantidade capturada (em toneladas) Fonte: INE

Preço da sardinha dispara a partir de 2012

Preço da sardinha dispara a partir de 2012
O preço médio dos peixes marinhos aumentou 23% em 10 anos, ao passo que o da sardinha cresceu 213%. É a partir de 2012 que o preço da sardinha descola dos seus pares. No gráfico: Evolução do preço do peixe 2006=100 Fonte: INE

Preço da Sardinha é mais do dobro do carapau

Preço da Sardinha é mais do dobro do carapau
Em 2010, o preço do carapau na lota era o dobro do da sardinha. Agora, passa-se o oposto, com a sardinha a valer 2,06 euros ao quilo contra 0,86 euros do carapau. No gráfico: (Valores em euros/quilo) Fonte: INE

Maioria dos pescadores está no Norte

Maioria dos pescadores está no Norte
Dos 1924 pescadores que trabalham em frotas de cerco, onde se pesca a sardinha, 55% são da região Norte de Portugal. Seguem-se o Centro e Algarve que concentram cerca de 20% dos pescadores. No gráfico: Número de pescadores Fonte: INE
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