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Heroína, nazis e o agente laranja: um outro olhar sobre a fusão do ano

Devido ao domínio da Monsanto no ramo de sementes e à força da Bayer no segmento de químicos agrícolas, as empresas poderão vender aos agricultores um abrangente conjunto de pesticidas e sementes geneticamente modificadas.

Bloomberg
17 de Setembro de 2016 às 11:30
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Duas gigantes dos sectores agrícola e químico fecharam um acordo de fusão na quarta-feira, um negócio de 66 mil milhões de dólares: a Monsanto, dos EUA, e a Bayer, da Alemanha, a fabricante original da aspirina. Trata-se do maior negócio do ano, que criará a maior fornecedora de sementes e químicos agrícolas do mundo, com 26 mil milhões de dólares em receitas anuais. Se concretizada, a fusão juntará duas companhias com longas e célebres histórias que moldaram o que comemos, os medicamentos que tomamos e como cultivamos os nossos alimentos.


Bayer: passado e presente

Em 1863, dois amigos que produziam corantes a partir do alcatrão de hulha criaram a Bayer, que se transformou numa empresa química e farmacêutica famosa por comercializar a heroína como remédio para tosse em 1896, e depois a aspirina, em 1899. A empresa foi contratada pelos nazis durante a Segunda Guerra Mundial e usou trabalhos forçados. Actualmente, a empresa com sede em Leverkusen, na Alemanha, fabrica medicamentos e tem uma unidade de ciências agrícolas que produz cannabis e pesticidas. Tem como objectivo dominar os mercados de químicos e medicamentos para pessoas, plantas e animais.

 

Monsanto: passado e presente

A Monsanto, fundada em 1901, originalmente produzia aditivos alimentares como a sacarina, antes de expandir-se para produtos industriais químicos, farmacêuticos e agrícolas. É famosa por produzir alguns químicos controversos e altamente tóxicos, como os bifenilos policlorados, mais conhecidos como PCBs e actualmente banidos, e o herbicida agente laranja, que foi usado pelo exército dos EUA no Vietnam. A empresa comercializou o herbicida Roundup nos anos 1970 e começou a desenvolver milho e sementes de soja geneticamente modificados nos anos 1980. Em 2000 surgiu uma nova Monsanto a partir de uma série de fusões corporativas.

 

A empresa agrícola definitiva

Recentemente a Monsanto tentou posicionar-se entre os agricultores como uma empresa química e de sementes completa. A ideia é usar informação directamente dos campos para descobrir exactamente quando, onde e como os agricultores devem aplicar produtos químicos no cultivo para ter uma colheita maior.

 

O acordo concretiza-se?

A transação seria a maior da história da agricultura, mas não é certa, porque podem surgir obstáculos anti-concorrenciais. A combinação da Bayer com a Monsanto formaria o maior actor de um sector com apenas três mega-empresas ainda restantes. Além disso, o acordo pode enfrentar reacções na Alemanha, onde a maior parte dos cidadãos questiona se é seguro consumir e cultivar alimentos modificados.

 

Futuro da agricultura?

Devido ao domínio da Monsanto no ramo de sementes e à força da Bayer no segmento de químicos agrícolas, as empresas poderão vender aos agricultores um abrangente conjunto de pesticidas e sementes geneticamente modificadas. A Monsanto também investiu no emergente sector de agricultura de precisão, que é uma forma dos produtores descobrirem exactamente a quantidade de fertilizante ou o tipo de semente que devem usar. Tal é possível através da colecta e da análise de dados sobre o clima e o cultivo em campos em níveis cada vez mais frequentes e detalhados. A Monsanto e a Bayer argumentam que a ampliação das colheitas possibilitada pelo uso desses métodos será necessária para alimentar a crescente população mundial, que gera uma procura maior por carne e produtos lácteos.

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