Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Portugal desconhece o número de profissionais de saúde que estão a trabalhar

Portugal desconhece o número de profissionais de saúde que estão efectivamente a trabalhar, o que ameaça "qualquer definição política de prioridades de recursos humanos", segundo o Relatório de Primavera 2018 do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS).

Bruno Simão
19 de Junho de 2018 às 00:31
  • 1
  • ...

"Sabemos quantos estão habilitados para trabalhar, mas não sabemos quantos profissionais estão efectivamente a trabalhar", à excepção dos farmacêuticos, porque "as ordens não facultam esses dados de forma pública ou porque não têm essa contabilização feita", disse à agência Lusa o coordenador do capítulo "Recursos Humanos na Saúde" do relatório, Tiago Correia.

 

Segundo o relatório, que é apresentado hoje, o Ministério da Saúde tem esta informação mais controlada no Serviço Nacional de Saúde, mas pouco se sabe sobre o que se passa nos sectores privado e social, pela inexistência de uma agregação semelhante de dados à realizada pela Administração Central do Sistema de Saúde para o SNS.

 

"A isto associa-se o multiemprego, que é estimado em níveis não menosprezáveis, tanto no sector privado como entre o sector público e privado, e as situações de prestação de serviço e trabalho por conta própria", sublinha.

 

Para Tiago Correia, investigador do ISCTE -- Instituto Universitário de Lisboa, esta situação "ainda é mais importante e grave" porque "um número indeterminado de profissionais trabalha tanto no sector público como no sector privado".

 

Segundo o investigador, "qualquer definição política de prioridades de recursos humanos está desde logo ameaçada", porque não se consegue fazer "um bom diagnóstico se efectivamente faltam ou não faltam profissionais" e em que especialidades e valências.

 

Para ultrapassar esta situação, o relatório recomenda que seja implementada a lei de 2015 que criou o Inventário Nacional dos Profissionais de Saúde. "Estamos em 2018 e não houve grandes desenvolvimentos a este respeito", o que "também é ilustrativo do problema que o sistema de saúde tem", afirma Tiago Correia.

 

Por um lado, há "um Serviço Nacional de Saúde que está definido na lei como uma peça pivot do sistema, o principal prestador e financiador de cuidados de saúde em Portugal", mas quando o Ministério tenta obter informações sobre outros prestadores percebe-se que "há uma grande resistência" na obtenção desta informação, sendo argumentado que o SNS é um "concorrente e uma parte interessada" nesta informação.

 

"O ministro da Saúde não é, não pode ser à luz da lei, o ministro do Serviço Nacional de Saúde e, portanto, tem que ter acesso a esta informação e todos os prestadores públicos e privados devem reportar uma informação uniformizada, padronizada, regular e bastante aprofundada sobre os seus recursos humanos para que se possa definir, por exemplo, medidas de alargamento dos 'numerus clausus' ou o aumento do número de cursos ou a emissão de licenças profissionais ou a contratação de profissionais estrangeiros", defendeu Tiago Correia. Sem ter estes dados, "neste momento fazemos um pouco uma navegação à vista", considerou.

 

O Observatório Português dos Sistemas de Saúde é constituído por uma rede de investigadores e instituições académicas dedicadas ao estudo dos sistemas de saúde.

 

Tem como finalidade proporcionar a todos aqueles que podem influenciar a saúde em Portugal, uma análise precisa, periódica e independente da evolução do sistema de português e dos factores que a determinam.

Ver comentários
Saber mais SNS Administração Central do Sistema de Saúde Observatório Português dos Sistemas de Saúde Ministério da Saúde Tiago Correia Serviço Nacional de Saúde Inventário Nacional dos Profissionais de Saúde saúde
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio