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América escolhe hoje quem odeia menos

Quer ganhe Trump quer ganhe Hillary, os EUA não devem acordar amanhã um país menos dividido do que hoje. A eleição presidencial coloca frente-a-frente os dois candidatos menos populares da História norte-americana recente.

Reuters
08 de Novembro de 2016 às 07:00
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Esta noite, os norte-americanos escolhem quem odeiam menos: Donald Trump ou Hillary Clinton? Os dois candidatos mais impopulares das últimas décadas têm atrás de si um país partido. Se os americanos chegam às urnas entrincheirados, deverão acordar amanhã mais divididos.
É comum ouvir algumas pessoas perguntar como é que Trump consegue ter tantos votos. Uma parte da resposta é simples: ele está a correr contra a segunda candidata mais impopular da História recente dos EUA: 55% dos americanos têm uma opinião negativa de Clinton, enquanto 58% diz que não gosta de Trump. 

A proximidade nas intenções de voto não tem apenas a ver com desdém pela personalidade e acções de cada um dos candidatos. Uma parte importante tem as suas raízes num contexto político cada vez mais dividido. Há 20 anos, apenas 10% dos americanos se assumia como "consistentemente" liberal ou conservador. Hoje, essa percentagem saltou para 21%. Segundo os números da Pew, há também cada vez menos pontos de comuns entre os apoiantes de ambos os lados: 92% dos republicanos estão ideologicamente à direita do "democrata mediano", enquanto 94% dos democratas estão à esquerda do "republicano mediano". Em 1994, os valores eram 64% e 70%, respectivamente. Os dados mostram que, para os dois extremos de cada partido, o compromisso político ideal é quando o seu lado consegue tudo aquilo que quer. São também estes extremos que mais votam e mais contribuem financeiramente para as campanhas eleitorais.

Hoje, há quase um desespero em garantir que o outro lado não ganha: mais de um terço dos republicanos acha que o Partido Democrata é uma ameaça ao bem-estar do país (27% no caso dos democratas).

Destituição eminente?

Se o leitor é dos que não acredita que Trump tenha hipóteses de ganhar a eleição, imagine que colocava seis balas numa arma e rodava o tambor. Com ela apontada à cabeça teria coragem de disparar? É que a probabilidade de morrer é a mesma de uma vitória de Trump. Pelo menos é isso que calcula o modelo do New York Times. E há estimativas ainda mais simpáticos para o milionário: o FiveThirtyEight diz que há um terço de hipóteses de uma Administração Trump. 

Mesmo que Clinton ganhe, a sua governação será muito complicada. Na Presidência Obama, o processo legislativo esteve muitas vezes bloqueado e houve até uma paralisação do Governo para tentar travar o Obamacare.

A próxima legislatura poderá trazer uma versão mais agressiva destes oito anos. Os últimos dias tornaram este cenário mais provável. Por um lado, alguns republicanos começaram a falar abertamente de iniciar um processo de impeachment (destituição) mal Clinton tome posse. Por outro, depois das notícias sobre o FBI, é mais provável que os republicanos mantenham o controlo do Senado. A ingovernabilidade será mais provável se os populistas vencerem a guerra que se avizinha pelo controlo do Partido Republicano.

Mundo não quer Trump

Numa sondagem online da Global Vote a mais de 100 mil pessoas de 130 países, Clinton recebeu mais de metade dos votos (52%), seguido pela candidata dos Verdes Jill Stein (19%). Trump consegue reunir apenas 14%, enquanto libertário Gary Johnson tem 7%.
Mas a verdade é que uma percentagem elevada dos americanos gosta daquilo que Trump tem para dizer. Em especial, os brancos sem licenciatura. Entre eles, Trump tem uma vantagem de 57% contra 29%. Apesar de alienar quase totalmente as minorias raciais – as sondagens dizem que terá 6% do voto dos eleitores negros e 20% dos hispânicos -, o republicano tem uma hipótese real de vencer a eleição.

Há algum tempo que muitos dentro do Partido Republicano pedem propostas mais amigas das minorias e esta seria a eleição para o fazer, com um candidato como Jeb Bush ou Marco Rubio. No entanto, a vitória de Trump nas primárias enterrou esses planos. Ainda assim, se ficarem perto de vencer com um candidato tão indisciplinado como o magnata, porque não continuar a insistir nesta estratégia nos próximos quatro anos? Porque não destituir Clinton? Afinal, também não há muitos americanos a gostar dela.

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