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PPE avisa: consolidação das contas públicas é para continuar
O Partido Popular Europeu, que representa a família política do centro-direita, defende que o Brexit não deve levar à flexibilização das regras orçamentais em vigor no seio da União Europeia. Pelo contrário: elas devem manter-se para o dinheiro ser bem aplicado.
A saída do Reino Unido da União Europeia não deve alterar a estratégia europeia de aposta na consolidação orçamental. É essa a posição do Partido Popular Europeu (PPE), a maior força política do Parlamento Europeu, e da qual fazem parte o PSD e o CDS. "A Comissão Europeia tem de aplicar as regras orçamentais da mesma forma a todos os países. Não sou favorável a inventar novas regras ou flexibilizá-las por causa de algum acontecimento", declarou esta manhã, em Bruxelas, o eurodeputado Sigfried Muresan, porta-voz do PPE, numa conferência de imprensa para alguns jornalistas.
Muresan recusa que os britânicos tenham decidido sair por não concordarem com as regras orçamentais europeias. "Nem a União Europeia nem o euro causaram a crise [das dívidas soberanas]. As causas foram a elevada dívida e a falta de competitividade das economias. É muito importante que as regras sejam respeitadas e não abandonadas", defendeu, assumindo que o PPE está "preocupado" com as declarações do primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, que, segundo Muresan, disse que esta é a altura para avançar com a mutualização da dívida – eurobonds – e pediu flexibilidade na interpretação das regras.
"Ele no fundo disse: ‘por favor, deixem-nos criar mais dívida e que sejam os outros a pagar’", resumiu o porta-voz do PPE, de nacionalidade romena. Mas não se pode seguir esse caminho, porque "os próximos passos têm que se benéficos para as pessoas" e, por exemplo, "os contribuintes alemães sentiram que estavam a pagar as pensões gregas".
Renzi publicou um artigo na imprensa italiana em que afirma que "as políticas de austeridade são uma nuvem negra no horizonte. Transformaram o futuro numa ameaça. Deram uma oportunidade ao medo. O primeiro-ministro italiano defendeu que o Brexit se deveu, em parte, aos problemas na indústria britânica. "Sem crescimento, não há emprego. Sem investimento, não há amanhã. Sem flexibilidade [orçamental], não existe comunidade", acrescentou, citado pelo The Telegraph. "A Europa não está acabada. Só precisa de se libertar do ressentimento, da burocracia e da miopia"
Para Sigfried Muresan, "a consolidação não significa que é preciso fazer cortes orçamentais. Significa que os recursos são limitados e devem ser bem alocados. Significa não colocar o dinheiro onde ele não é necessário mas onde pode tornar o país competitivo", acrescentou.
O Brexit vai afectar mais a economia britânica que a europeia
O PPE defende uma saída célere do Reino Unido da União Europeia, em linha com o que tem sido dito pela maioria dos políticos europeus. "A vontade dos eleitores tem de ser respeitada" e "essa saída rápida "é uma prioridade para os líderes europeus". "Invocar já o artigo 50 [do tratado da União Europeia] previne uma saída desordeira", antecipa o porta-voz. David Cameron disse que "iria agir logo" que se soubesse o resultado mas não o fez, nota Sigfried Muresan.
O Brexit "vai afectar a economia da União Europeia, mas menos do que a britânica", até porque "se a libra perde 20% do seu valor, isso significa que a gasolina fica 20% mais cara", uma vez que a matéria-prima, o petróleo, "é transaccionada em dólares americanos". Vai haver "implicações graves para a City [o sector financeira de Londres] e para as PME", e "as tarifas aduaneiras vão encarecer as suas exportações".
David Cameron, que lidera o Partido Conservador (que deixou de fazer parte do PPE em 2009), foi muito criticado por Muresan. "Ele devia saber que ia ser instrumentalizado pelos eurocépticos do seu partido" quando decidiu convocar o referendo. "Quanto mais cedia, mais eles queriam. Ele fez muitas concessões", lamenta. E depois uma crítica forte. "O futuro pertence aos políticos corajosos, que conseguem desmontar os argumentos dos populistas", ao contrário do que fez Cameron.
Agora, além da saída célere dos britânicos, o PPE considera prioritário "salvaguardar os direitos dos cidadãos britânicos que vivem no Reino Unido". Para o futuro, há pelo menos uma garantia: "a cooperação na NATO vai inevitavelmente continuar". É "preciso ver como vão ser as relações económicas", mas "não vamos permitir que o Reino Unido faça escolhas selectivas" quanto às regalias que quer manter.
"A atitude de Bruxelas para com David Cameron vai ser diferente", remata.
O jornalista viajou a convite do PPE