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Parlamento com amplo consenso sobre revisão dos abonos e subsídios dos deputados
A revisão da atribuição de abonos para apoio à atividade dos deputados mereceu esta quinta-feira amplo consenso no parlamento, mas Bloco, CDS-PP e PCP não deixaram de lamentar que se tivesse legislado em função de casos.
No debate, em plenário, todos os grupos parlamentares congratularam-se por se ter conseguido encontrar um "mínimo denominador comum" nas mudanças de regras no que respeita ao pagamento de abonos e subsídios aos deputados, e foi elogiado o trabalho desenvolvido pelo coordenador deste grupo de trabalho, o socialista Jorge Lacão.
No entanto, em paralelo, também a maioria das bancadas, incluindo o PSD, expressou insatisfação por não se ter ido mais longe no sentido de se operar uma reforma mais profunda neste domínio da transparência no pagamento de subsídios e abonos aos deputados. E não se foi mais longe por o calendário parlamentar (fim de legislatura) não o ter permitido.
Na origem das mudanças que serão em breve efetivadas, estiveram problemas ou casos como dúvidas sobre a efetividade das moradas declaradas pelos deputados, a existência até agora de duplicação de apoios para o pagamento de viagens, ou o pagamento de abonos para despesas independentemente da sua demonstração.
A resolução que irá entrar em vigor prevê três alterações essenciais: Impõe que a morada que conta para efeitos de pagamentos com a Assembleia da República é aquela que consta do cartão do cidadão de cada um dos deputados; fica impedido o recebimento duplo de quaisquer abonos (por exemplo, em viagens); e todos os abonos que são pagos, ou são tributados, ou estão dependentes da demonstração de efetividade dessas despesas.
"O PSD pretendia fazer uma reforma profunda, de máxima simplificação, através da criação de um subsídio único apenas diferenciado pelo círculo eleitoral e tudo sujeito a tributação, mas não foi agora possível. Não sendo a presente solução consensualizada uma reforma estrutural, penso que com ela todos poderemos viver", declarou o dirigente da bancada social-democrata António Leitão Amaro.
O vice-presidente da bancada socialista Pedro Delgado Alves elogiou "o esforço de concertação" entre os diferentes grupos parlamentares, sustentando que o resultado final "responde às questões essenciais".
"Com a aprovação desta resolução, responde-se às dúvidas antes levantadas pelo Tribunal de Contas, bem como por parte de outras entidades que acompanham a atividade da Assembleia da República", observou Pedro Delgado Alves.
O líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, considerou que as matérias dos subsídios e dos abonos a pagar aos deputados "terão de ser revisitadas na próxima legislatura" e que só não se foi mais longe por a presente legislatura se encontrar perto do final.
"Acompanhamos algumas das soluções propostas e conseguimos responder às questões levantadas pelo Tribunal de Contas. Deixa de haver dupla subsidiação, em particular no pagamento de viagens aos deputados das regiões autónomas" da Madeira e dos Açores, apontou Pedro Filipe Soares.
Também o deputado do CDS-PP António Carlos Monteiro se congratulou com o fim desses "duplos apoios", alegou que a grande preocupação do seu partido foi "rever o sistema sem aumentar a despesa" e considerou que a presente solução "é minimalista, tendo em vista resolver casos que afetaram o prestígio da Assembleia da República".
"Esta solução não é ótima, não é boa, mas é a possível. Por mais que se façam regras, deve contar a conduta de cada um dos deputados", advertiu António Carlos Monteiro - um princípio também logo a seguir salientado pelo deputado do PCP António Filipe.
António Filipe fez questão de referir que "nenhum deputado do PCP" esteve envolvido nos casos que geraram elevada controvérsia na opinião pública, designadamente em termos de pagamento duplicado de viagens ou de comunicação de uma morada que não a de residência.
"Esta legislação é um denominador comum e um passo positivo para a fixação de critérios mais rigorosos. Mas é bom que os comportamentos [dos deputados] sejam compatíveis com aquilo que é eticamente aceitável", acrescentou.