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"O escrutínio excessivo, maldoso e às vezes perverso afasta o talento da política"
Na sequência da crise que provocou a queda do Governo de Luís Montenegro, Gonçalo Moura Martins e António Ramalho analisam a forma como os políticos são hoje escrutinados. Novo episódio do podcast Partida de Xadrez vai para o ar esta segunda-feira.
"Cada vez mais é difícil trazer bons profissionais para a política", lamenta Gonçalo Moura Martins, para quem essa "perda para o país" é provocada não só por questões de remuneração, mas também pelo "escrutínio excessivo, maldoso e às vezes perverso que se faz a quem vai para a política". No 28.º episódio no podcast Partida de Xadrez, que vai para o ar esta segunda-feira no site do Negócios e nas principais plataformas, o gestor considera que políticos profissionais e profissionais da política podem coexistir, mas há "um denominador comum que é a integridade e a ética".
António Ramalho recorda que os recentes acontecimentos centrados nas relações entre a vida profissional e pessoal dos políticos resultaram na atual crise, mas em seu entender "as condições do exercício de funções públicas não devem e não podem ser obstaculizadas por confusões entre lei e moral ou entre transparência e devassa". Em sua opinião, "isso só interessa a quem quer retirar talento da política e só serve para piorar a qualidade da democracia".
Para o gestor, se "a única ética exigível é a lei, então é o cumprimento da lei que deve ser verificado", o que "não cabe nem aos órgãos de comunicação social nem ao público em geral". "Só a lei é que pode impor restrições ao exercício das funções democráticas de eleger ou ser eleito. Tudo o que sejam limitações a essas circunstâncias vão ser sempre subjetivas, pantanosas, duvidosas e, sobretudo, utilizadas como armas políticas", salienta. "Será que o escrutínio que estamos a ter é o adequado para a avaliação da capacidade e do comportamento do político? Ou será já muito mais na linha da política espetáculo e do vedetismo?", questiona.
Já Moura Martins defende que "a ética não se deve esgotar no cumprimento formal da lei, mas conformar-se também com um conjunto de valores e práticas partilhadas e valorizadas socialmente, que carecem de autorregulação e aplicação voluntária", que "não sendo inibidoras da prática política serão importantes no juízo eleitoral".
António Ramalho entende que a falta de capacidade de convocar talento para a política e de o reter é "um problema sério", já que "democracia sem talento é estarmo-nos a condenar a uma má qualidade democrática". Também Moura Martins defende que se evitem obstáculos ao exercício da política por profissionais exteriores a ela já que são estes que "terão menos dependência do seu exercício e maior independência face a critérios partidários".