Notícia
Líder do Chega: "Não é preciso um Salazar em cada esquina, é preciso é um André Ventura"
André Ventura acusa, em entrevista à Lusa, o Presidente da República de ser "cúmplice" e "para-raios" do Governo, diz que Salazar atrasou muito o país e recusa o rótulo de extrema-direita para o seu partido, preferindo o de "antissistema". "Ser homossexual não desvaloriza ninguém", afirma também.
15 de Novembro de 2020 às 10:26
O candidato a Belém André Ventura afirma que "o que ficará do legado de Marcelo Rebelo de Sousa é ter sido provavelmente o Presidente mais cúmplice da história da terceira República". Em entrevista à agência Lusa, dada na quinta-feira, o líder do Chega diz ainda que o Presidente da República tem funcionado como um "para-raios" do primeiro-ministro, António Costa.
O candidato lembrou que o Presidente da República "já várias vezes tinha dito, enquanto comentador, que os portugueses nunca punham os ovos todos no mesmo cesto", e portanto decidiu "não hostilizar o Governo PS", porque se o Governo "muda para a direita, é mais difícil" ser reeleito. Para André Ventura, "isso vê-se em várias coisas", por exemplo "no apelo sucessivo para aprovar os Orçamentos do Estado".
"Aliás, eu nunca vi um Presidente tão entusiasmado com um Governo como Marcelo Rebelo de Sousa. Acho que foi o Presidente que mais se entusiasmou com o Governo, muitas vezes serviu de para-raios ao Governo quando o tom subia na Assembleia da República, embora desde que Rui Rio entrou também nunca subiu assim muito, mas foi sempre o para-raios de António Costa", concretizou.
O líder do Chega mostrou-se também convicto de que vai conseguir "ter o dobro daquilo que as sondagens" antecipam e de que vai disputar uma segunda volta.
Questionado sobre a sua intenção de suspender o mandato de deputado para participar na campanha a tempo inteiro, o candidato indicou que vai pedir a suspensão "logo quando entregar o processo" para a oficialização da candidatura e que vai bater-se por ser aceite, "se for preciso até ao Tribunal Constitucional".
Sobre o anúncio de que abandona a liderança do partido caso Ana Gomes fique à sua frente uma vez apurados os resultados eleitorais, Ventura reiterou essa intenção: "Sim, evidente, eu quando digo as coisas é para manter. O que eu quis dizer com isso foi que tenho de tirar responsabilidades e ilações do facto de a doutora Ana Gomes ter mais [votos] do que eu".
"Salazar atrasou-nos muitíssimo"
O anunciado candidato presidencial do Chega recusa os rótulos de "extrema-direita, fascista, xenófoba e racista" que muitos atribuem ao seu partido e também qualquer simpatia relativamente ao regime do Estado Novo ou saudosismo pelo ditador Salazar.
André Ventura defendeu que "não é preciso Salazar nenhum em esquina nenhuma", mas antes uma IV República, e definiu o seu recém-formado partido como sendo "antissistema" e cujo objetivo é transformar Portugal no novo "eldorado da Europa".
"A República liderada pelo dr. António de Oliveira Salazar, a maior parte do tempo, também não resolveu [os problemas do país] e atrasou-nos muitíssimo em vários aspetos. Não nos permitiu ter o desenvolvimento que poderíamos ter tido, sobretudo no quadro do pós-II Guerra Mundial. Portugal poder-se-ia ter desenvolvido extraordinariamente e ficámos para trás, assim como os espanhóis", afirmou.
O deputado único do Chega declarou, em tom humorístico, que "não é preciso um Salazar em cada esquina, é preciso é um André Ventura em cada esquina".
Curiosamente, antes do começo da entrevista no gabinete da sede partidária, em Lisboa, a zelosa assessoria de imprensa nacional-populista retirou da estante que estava atrás do líder partidário vários volumes sobre Salazar para que não aparecessem no enquadramento das imagens.
"Comigo estão à vontade porque não tenho nenhum saudosismo de uma República que eu não vivi. Não é isso que me move. Vejo Salazar como vejo outras figuras da História. Não vou fazer juízos de qual é melhor ou pior: se Salazar ou [Álvaro] Cunhal ou Hitler ou Estaline. Nós, em Portugal, para conseguirmos dar um avanço real na questão política, temos de deixar os fantasmas do passado", continuou.
"Ser homossexual não desvaloriza ninguém"
O pré-candidato presidencial do Chega assume que "ser homossexual não desvaloriza em nada ninguém" e mostrou-se favorável ao casamento gay, adiantando que o seu partido tem pessoas de diversas orientações sexuais, "eventualmente" até na cúpula dirigente.
Dadas as várias posições assumidas por André Ventura contra os direitos das minorias, sejam refugiados, imigrantes ou a comunidade cigana, a agência Lusa quis perceber como reagiria o líder do partido da extrema-direita portuguesa se tivesse um filho homossexual?
"(risos)... Eu, se tivesse um filho homossexual... (hesitação), pessoalmente -- talvez algumas pessoas não gostem disto --, não teria nenhum problema com isso porque tenho muitos amigos homossexuais, alguns deles do mais brilhante que eu conheci na vida, que falam muito bem comigo e que percebem que nunca tive nenhuma onda de combatividade aos homossexuais ou à comunidade LGBT", respondeu.
Ressalvando que "talvez alguma parte" do eleitorado" do Chega não esteja de acordo consigo, Ventura declarou que a direita com que sonhou, "tal como em muitos pontos da Europa, é uma direita em que as pessoas se unem em torno de causas, convicções, e não de condições pessoais de cada um", pois "ser homossexual não desvaloriza em nada ninguém e não desvaloriza a capacidade de combate político".
O candidato lembrou que o Presidente da República "já várias vezes tinha dito, enquanto comentador, que os portugueses nunca punham os ovos todos no mesmo cesto", e portanto decidiu "não hostilizar o Governo PS", porque se o Governo "muda para a direita, é mais difícil" ser reeleito. Para André Ventura, "isso vê-se em várias coisas", por exemplo "no apelo sucessivo para aprovar os Orçamentos do Estado".
O líder do Chega mostrou-se também convicto de que vai conseguir "ter o dobro daquilo que as sondagens" antecipam e de que vai disputar uma segunda volta.
Questionado sobre a sua intenção de suspender o mandato de deputado para participar na campanha a tempo inteiro, o candidato indicou que vai pedir a suspensão "logo quando entregar o processo" para a oficialização da candidatura e que vai bater-se por ser aceite, "se for preciso até ao Tribunal Constitucional".
Sobre o anúncio de que abandona a liderança do partido caso Ana Gomes fique à sua frente uma vez apurados os resultados eleitorais, Ventura reiterou essa intenção: "Sim, evidente, eu quando digo as coisas é para manter. O que eu quis dizer com isso foi que tenho de tirar responsabilidades e ilações do facto de a doutora Ana Gomes ter mais [votos] do que eu".
"Salazar atrasou-nos muitíssimo"
O anunciado candidato presidencial do Chega recusa os rótulos de "extrema-direita, fascista, xenófoba e racista" que muitos atribuem ao seu partido e também qualquer simpatia relativamente ao regime do Estado Novo ou saudosismo pelo ditador Salazar.
André Ventura defendeu que "não é preciso Salazar nenhum em esquina nenhuma", mas antes uma IV República, e definiu o seu recém-formado partido como sendo "antissistema" e cujo objetivo é transformar Portugal no novo "eldorado da Europa".
"A República liderada pelo dr. António de Oliveira Salazar, a maior parte do tempo, também não resolveu [os problemas do país] e atrasou-nos muitíssimo em vários aspetos. Não nos permitiu ter o desenvolvimento que poderíamos ter tido, sobretudo no quadro do pós-II Guerra Mundial. Portugal poder-se-ia ter desenvolvido extraordinariamente e ficámos para trás, assim como os espanhóis", afirmou.
O deputado único do Chega declarou, em tom humorístico, que "não é preciso um Salazar em cada esquina, é preciso é um André Ventura em cada esquina".
Curiosamente, antes do começo da entrevista no gabinete da sede partidária, em Lisboa, a zelosa assessoria de imprensa nacional-populista retirou da estante que estava atrás do líder partidário vários volumes sobre Salazar para que não aparecessem no enquadramento das imagens.
"Comigo estão à vontade porque não tenho nenhum saudosismo de uma República que eu não vivi. Não é isso que me move. Vejo Salazar como vejo outras figuras da História. Não vou fazer juízos de qual é melhor ou pior: se Salazar ou [Álvaro] Cunhal ou Hitler ou Estaline. Nós, em Portugal, para conseguirmos dar um avanço real na questão política, temos de deixar os fantasmas do passado", continuou.
"Ser homossexual não desvaloriza ninguém"
O pré-candidato presidencial do Chega assume que "ser homossexual não desvaloriza em nada ninguém" e mostrou-se favorável ao casamento gay, adiantando que o seu partido tem pessoas de diversas orientações sexuais, "eventualmente" até na cúpula dirigente.
Dadas as várias posições assumidas por André Ventura contra os direitos das minorias, sejam refugiados, imigrantes ou a comunidade cigana, a agência Lusa quis perceber como reagiria o líder do partido da extrema-direita portuguesa se tivesse um filho homossexual?
"(risos)... Eu, se tivesse um filho homossexual... (hesitação), pessoalmente -- talvez algumas pessoas não gostem disto --, não teria nenhum problema com isso porque tenho muitos amigos homossexuais, alguns deles do mais brilhante que eu conheci na vida, que falam muito bem comigo e que percebem que nunca tive nenhuma onda de combatividade aos homossexuais ou à comunidade LGBT", respondeu.
Ressalvando que "talvez alguma parte" do eleitorado" do Chega não esteja de acordo consigo, Ventura declarou que a direita com que sonhou, "tal como em muitos pontos da Europa, é uma direita em que as pessoas se unem em torno de causas, convicções, e não de condições pessoais de cada um", pois "ser homossexual não desvaloriza em nada ninguém e não desvaloriza a capacidade de combate político".