Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Juncker sob pressão pode abandonar Governo luxemburguês

O ex-presidente do Eurogrupo e decano dos líderes europeus poderá apresentar a sua demissão, assumindo a responsabilidade política última por falhas no controlo da actuação dos serviços secretos.

Negócios 10 de Julho de 2013 às 17:05
  • 2
  • ...

"Esta é uma das minhas últimas aparições na minha função actual". A afirmação de Jean-Claude Juncker, proferida neste fim-de-semana, está a alimentar a convicção de alguma imprensa de que o primeiro-ministro luxemburguês se prepara para apresentar a sua demissão, depois de um inquérito parlamentar ter concluído que deveria assumir a "responsabilidade política" por falhas na actuação dos serviços de informação do país (SREL).

 

O caso remonta a 2008, quando o antigo chefe do Serviço de Informação do Estado do Luxemburgo (SREL), Marco Mille, gravou através de um relógio de pulso com microfone implantado uma conversa com o primeiro-ministro, sem o conhecimento deste. A gravação foi parar à imprensa. A partir daqui, sabe-se que Marco Mille informou Jean-Claude Juncker que uma conversa entre este e o Grão-Duque Henri fora gravada em 2005. O antigo chefe do SREL explica que existiam suspeitas quanto a uma possível ligação entre Henri e os serviços secretos britânicos. Esta insinuação foi de imediato desmentida pela Casa Grã-Ducal. Também Juncker saíu em defesa do Grão-Duque.

 

Na mesma ocasião, o primeiro-ministro afirmou que os seus próprios direitos não foram respeitados. "Poderia fazer-me de vítima, mas não pretendo queixar-me“, declarou Juncker.

 

Juncker defende ser contra a espionagem política

 

Nas escutas divulgadas pelas duas rádios do país, citadas pela imprensa local, designadamente de língua portuguesa, ouve-se Juncker defender que sempre fora contra a espionagem política. Contudo, o chefe de Governo confidencia a Marco Mille, que através dos arquivos do antigo primeiro-ministro do Luxemburgo, Pierre Werner, ficou a saber que o Partido Comunista, bem como os Verdes, aquando a sua criação, foram objectos de escutas.

 

Por sua vez, Marco Mille informa Juncker que uma pessoa (apelidada de senhor M) terá sido escutada sem que os procedimentos legais tenham sido respeitados. Mille alega que urgia agir, daí não ter seguido os trâmites legais.

 

O actual presidente da Comissão de Inquérito, François Bausch confirmou na semana passada a informação. Somam-se assim (por enquanto) três os casos de escutas ilegais levadas a cabo no país nos últimos anos, ou seja, escutas entre Juncker e Henri, entre Juncker e Marco Mille, e finalmente do "senhor M“.

 

"A comissão de inquérito concluiu que o senhor primeiro-ministro, enquanto superior hierárquico dos serviços de informações, não só não tinha qualquer controlo sobre estes, como não informou a comissão parlamentar de controlo, nem a Procuradoria, das irregularidades, aberrações e ilegalidades das operações realizadas pelos serviços", afirma-se no relatório.

 

"A responsabilidade política do primeiro-ministro é incontestável", especifica o documento, que foi aprovado pela comissão, com os votos das duas principais formações da oposição - liberais e verdes -, mas também os dos socialistas, que integram a coligação governamental.

 

O relatório vai ser discutido na quarta-feira pelo plenário parlamentar. Juncker vai ter duas horas para se explicar e defender antes de o relatório ser votado.

 

Social-cristão, Juncker, de 58 anos, está no Governo luxemburguês ininterruptamente desde há 30 anos, dos quais 18 como primeiro-ministro. Por acumular a pasta das Finanças, assegurou entre 2005 e 2013 a presidência do Eurogrupo, que reúne os ministros das Finanças da Zona Euro.

Ver comentários
Saber mais Juncker serviços secretos demissão
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio