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Eanes: "É uma solução de grande risco para o Presidente" (act.)
O ex-Presidente da República considera que a solução de Cavaco Silva foi ousada e que é uma ameaça mínima aos partidos. Ramalho Eanes considera a situação dramática e se não houver entendimento os partidos serão os primeiros responsáveis pelo possível naufrágio de Portugal.
Cavaco Silva tem em Ramalho Eanes um aliado. O ex-Presidente da República considerou que a decisão do actual Presidente foi ousada mas acabou por lhe fazer elogios. Mas admite que esta "é uma solução de grande risco para o Presidente", no caso dos partidos não chegarem a acordo. Para Ramalho Eanes, discordando de Marcelo Rebelo de Sousa (de quem diz ver os comentários semanais), o Presidente da República não deveria, como não o fez, dizer a solução alternativa, já que isso demonstraria falta de confiança num acordo.
"O Presidente deveria ter feito o que fez, abrir um processo negocial aberto, não devia estabelecer muitas condições, muitos limites e não deveria potenciar a ameaça porque a proposta do Presidente da República é uma ameaça, mas é uma ameaça contida, mínima e é indispensável para os partidos sentirem um certo à vontade e que saibam que do outro lado também há disponibilidade para aceitar soluções".
Ramalho Eanes diz, no entanto, acreditar que será encontrar o acordo. Desconhece o plano B do Presidente, mas acredita que um governo de iniciativa presidencial não será solução.
"Tenho estado a olhar para estes negocições com alguma esperança e com alguma satisfação. Não tem havido fugas de informação, o que significa que não se está a tentar jogar com a opinião pública. O que significa que os partidos perceberam que a situação é dramática e que estamos à beira de um naufrágio e que se naufragarmos vamos pagar todos e os partidos políticos, aliás indispensáveis à democracia, serão os primeiros responsáveis". Para Ramalho Eanes esta é "uma situação de necessidade democrática" que "tem levado a uma atitude correcta". Por isso diz estar "convencido que vão chegar a acordo". Em entrevista à RTP, o ex-presidente frisa o perigo para Portugal, mas em primeiro lugar para os partidos, se não chegarem a acordo.
Ramalho Eanes considera a situação "dramática". "Há consciência desse dramatismo e a população hoje sabe que são terrivelmente más e sabe que são os partidos políticos os primeiros responsáveis pela crise porque foram eles que governaram o país e que têm de responder a esta situação e fazer aquilo que é normal em democracia que é arranjar soluções de compromisso porque as democracias nunca existiram e não existem sem compromisso efectivo".
"Não tenho dúvidas que o Presidente arranjou uma solução que é ousada, que pode responder à situação do país e pode criar situações de sustentabilidadee geral futura para que possamos sair da crise e tenhamos de novo aquilo que não temos agora que é a soberania". Por isso acredita que pode haver um governo sem os três partidos nesta solução, e acredita que possa haver um acordo para os próximos 18 meses, até às eleições, e um acordo para os próximos cinco anos.
Ramalho Eanes não se pronunciou sobre a solução apresentada pela coligação, mas acabou por dizer que "quando se olha para a proposta, aparentemente parece ser uma boa proposta, mas a conclusão que se retira é que talvez não seja tão boa como isso ou tão consistente como isso". Pessoas "que têm grande experiência na história da vida do PSD, como Miguel Cadilhe, afirmaram que era difícil que a prazo o PSD aceitasse uma situação em que a hegemonia política no governo cabia ao CDS".