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Cimeira EUA-Rússia pode ser o início da reaproximação entre os dois países
Foram mais os tópicos abordados do que as conclusões, mas houve espaço para avanços e uma aparente reaproximação entre as duas maiores potências nucleares do mundo. Houve acordos na cibersegurança e na retoma das missões diplomáticas de parte a parte.
"Honesta, franca e sem sair da agenda". Foi assim que, aos olhos do presidente russo, Vladimir Putin, decorreu a conversa com o seu homólogo norte-americano. Para Joe Biden, o importante era falar cara a cara. De facto, foram anunciadas medidas de aproximação, como o regresso dos embaixadores de ambos os países às suas embaixadas, mas só os próximos meses poderão confirmar essa tendência.
Foram vários e de diversas áreas os assuntos abordados pelos presidentes das duas maiores potências nucleares no mundo, mas muito menos as conclusões anunciadas nas respetivas conferências de imprensa, realizadas em separado (algo que estava previamente acordado). Ainda assim, uma aproximação e um diálogo sério parecem ter sido retomados durante a cimeira.
Entre os principais avanços está o regresso dos diplomatas russos a Washington e dos norte-americanos a Moscovo. O ciberataque russo à Colonial Pipeline, uma empresa que gere oleodutos nos EUA, esteve na origem da expulsão da comitiva russa dos Estados Unidos e espoletou uma resposta idêntica por parte de Moscovo, levando à retirada de ambas as unidades diplomáticas. O seu regresso é esperado nos próximos dias, estando preso por "meras questões técnicas".
A cibersegurança foi outro dos assuntos prementes na reunião e talvez o que mais avançou, com um compromisso assumido para a criação de um grupo de trabalho com vista a estabelecer as "linhas vermelhas" de parte a parte. Entre as exigências americanas está uma lista de 16 entidades que devem permanecer intocáveis, desde centrais energéticas a redes de abastecimento de água.
Ainda assim, o presidente russo negou qualquer envolvimento do Estado nos cerca de 60 ataques sofridos pelos EUA desde 2020, mesmo os que foram lançados de território russo. Mas, aos olhos de Biden, os países deverão ser responsabilizados e agir contra os ataques lançados do seu território. E deixou o aviso: "[Putin] sabe que existirão consequências e que atuarei[se os ataques se repetirem]".
Direitos humanos são preocupação
Joe Biden fez questão de mencionar os incumprimentos russos em relação a questões de direitos humanos, como o caso da detenção do principal adversário político de Putin, Alexey Navalny. Questionado pelos jornalistas, a resposta foi sucinta e Putin disse apenas que o opositor – cujo nome evitou mencionar - "desrespeitou a lei de forma consciente".
Embora sem avançar um acordo, o presidente russo adiantou também que vão ser iniciadas discussões em relação à troca de presos americanos na Rússia (entre os quais estão dois Marines) e os presos russos nos EUA, discussões essas que ficarão a cargo do Ministério dos Negócios Estrangeiros dos EUA e do Departamento de Estado da Rússia.
Os líderes de ambos os países acabaram por não realizar uma conferência de imprensa conjunta a pedido da Casa Branca e contra as intenções do Kremlin. A ideia seria negar a Vladimir Putin mais uma plataforma de expressão e evitar situações desconfortáveis como a que se registou com Donald Trump em 2017, em Helsínquia, que levou o presidente norte-americano a desautorizar os seus serviços secretos em direto.
Ambos os líderes foram recebidos na Villa La Grange, junto ao Lago Léman em Genebra, pelo presidente suíço, Guy Parmelin, que lhes deu as boas vindas e desejou "um diálogo frutífero".
O evento ficou ainda marcado pela hostilidade registada entre as comitivas de imprensa de ambos os países, que durante os primeiros minutos lutaram pelo acesso aos líderes americano e russo, levando a algumas trocas de palavras e dificultando a captura de imagens ou mesmo a audição dos discursos iniciais, entre gritos e encontrões.