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Cavaco Silva: “O erro foi o Estado querer ficar com 50% da TAP. Tudo começou aí”
Em entrevista ao Observador, o antigo primeiro-ministro e presidente da República considera que esta “jogada meramente politico-ideológica” foi “um erro muito grande” que compara à reposição das 35 horas de trabalho na Função Pública.
"Já imaginou a AutoEuropa, que concorre internacionalmente — na produção de automóveis — a ser gerida pelo Estado? Uma coisa é o Estado gerir os transportes colectivos, ou o metropolitano, ou a fábrica de produzir notas de euro no Banco de Portugal. Mas uma empresa que concorre a nível mundial com outras companhias?"
Em entrevista ao Observador, o antigo primeiro-ministro e Presidente da República, Cavaco Silva, contraria o ministro da Economia, Siza Vieira, ao considerar que a realidade da TAP não é comparável à da Autoeuropa, considera que falta uma análise sobre o "custo de oportunidade" da injeção na transportadora aérea e defende que o "grande erro" começou quando o Governo quis ficar com 50% da empresa.
Eu avisei o primeiro-ministro, quando isso foi feito em 2016. Tudo começou aí. O erro está aí. Disse-o claramente quando numa jogada meramente politico-ideológica, o Estado que tinha apenas 36%, quis ficar com 50% da TAP", refere.
"Não digo que seja um erro na mesma dimensão das 35 horas, mas agora se calhar revela-se tão má como essa. Foi um erro muito grande. Aliás, muitos cidadãos apelaram a que o Governo fizesse isso e eu sei bem que o PC e o Bloco de Esquerda defenderam isso e pressionaram. Eles são responsáveis por aquilo que está a acontecer", acusa.
Ao longo da entrevista onde sustenta que nem o PCP nem o BE nem o PS são social-democratas, o antigo líder do PSD acusa do Governo de ter abandonado "totalmente" a "via reformista que caracteriza a social-democracia".
"Falta rumo a este Governo que depende, como se viu, bastante de uma força política que de democracia tem pouco e que é anti-europeia, mas em grau bastante forte".
Cavaco Silva critica, em particular, a reposição das 35 horas da administração pública, decidida logo em 2016 e a nova Lei de Bases da Saúde.
"O Governo fez um claro ataque à atuação privada na área da medicina e depois comete aquilo que considero o maior erro cometido por este Governo que foi a redução do horário semanal de trabalho de 40 para 35 horas. Redução que foi responsável em boa parte pela degradação da qualidade dos serviços de Saúde".
Ao longo da entrevista o antigo Presidente da República diz que "não tem a mínima dúvida" que a solução de governo encontrada pelo PSD nos Açores, com o apoio do Chega, é preferível à continuidade da governação PS.
Apesar de todas estas considerações, o ex-presidente afirma que "ninguém gostaria de ser primeiro-ministro e Governo nestes tempos de pandemia".
"Os dramas que atingem boa parte da população, o número de mortes que se tem vindo a verificar é de tal forma que nós temos que aceitar, discordando aqui e acolá, de todos os esforços que o Governo tem vindo a fazer", justifica.