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Lagarde diz que abrandamento de salários do euro é "encorajador", mas ainda não chega
Presidente do BCE afirma que vai ser preciso ver ainda o que sucede na contratação coletiva e noutras variáveis nos primeiros meses de 2024 para avaliar próximas decisões sobre juros na Zona Euro.
Os sinais que apontam para que o crescimento salarial tenha atingido o pico na Zona Euro, perante o abrandamento do ritmo de subidas negociadas em contratação coletiva, ainda não são suficientes para que o Banco Central Europeu (BCE) afaste definitivamente os riscos de um desvio à trajetória de desinflação e avance um calendário para um primeiro corte nas taxas de juro.
"Os números dos salários do quarto trimestre são obviamente números encorajadores. Mas, como temos dito no nosso comunicado de política monetária, o conselho de governadores precisa de ficar mais confiante de que o processo de desinflação que estamos a observar será sustentável e irá conduzir-nos aos 2% da meta de médio-prazo que temos", afirmou nesta sexta-feira Christine Lagarde, a presidente do BCE, em conferência de imprensa após reunião informal do Eurogrupo, em Gante, na Bélgica.
A autoridade monetária tem vindo a referir preocupações com os riscos de uma maior aceleração nos salários, não acomodada pelas margens de lucro das empresas, poder voltar a alimentar mais inflação. O BCE argumentou até aqui que é necessário olhar para os dados da primeira metade deste ano, remetendo assim para o verão um primeiro corte de juros desde que foi iniciado o atual ciclo de aperto monetário.
No quarto trimestre de 2023, os salários negociados nas maiores economias do euro seguiam a subir 4,46%, em termos homólogos, abrandando face aos 4,69% de crescimento do trimestre anterior.
Este é um dos indicadores que tem vindo a ser estreitamente vigiado pela equipa económica do BCE.
Contudo, nesta sexta-feira Lagarde lembrou a habitual forte dinâmica de renovação de convenções coletivas no início do ano, cujos resultados só serão conhecidos mais tarde. "Há muitos setores e trabalhadores cobertos pelas negociações que serão concluídas ao longo do primeiro trimestre de 2024, e esses números – sobretudo, se continuarem a ser encorajadores – serão importantes na nossa avaliação para obtermos confiança", indicou.
Além desses dados, o BCE quererá também analisar a evolução das margens de lucro das empresas e dados de inquérito, nomeadamente, sobre evolução de crédito ou expectativas de consumidores, juntou Lagarde.
De resto, a presidente do banco central do euro comentou afirmações recentes de membros do BCE que indicavam que este não avançaria um primeiro corte de juros de referência antes de uma primeira decisão pela Reserva Federal. Christine Lagarde repetiu o mantra da autoridade monetária: "independente e dependente de dados".