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Ricos dos EUA pagavam subornos para filhos entrarem na faculdade

O Ministério Público alega que os pais pagavam subornos para os filhos terem boas notas nos exames e entrarem nas melhoras universidades dos EUA.

16 de Março de 2019 às 15:00
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Gordon R. Caplan, um dos melhores advogados de Nova Iorque, estava preocupado porque não sabia se a filha conseguiria entrar na universidade que ele queria, a Universidade Cornell. Caplan não queria correr riscos, dizem os promotores federais.

 

Em 15 de junho de 2018, o advogado sénior de fusões e copresidente da Willkie Farr & Gallagher telefonou a William Singer, fundador de uma empresa de assessoria e cursos pré-universitários, que mais tarde se tornaria uma testemunha chave num enorme caso de subornos para ingressar em universidades, revelaram investigadores do governo, em Boston, numa queixa-crime.

 

Singer, cuja empresa Edge College & Career Network, com sede na Califórnia, está no centro de um alegado esquema, disse a Caplan que este poderia contornar os exames da filha por apenas 75.000 dólares - como muitas outras famílias ricas faziam com os filhos que queriam entrar nas universidades da Ivy League.

 

"Olha, estou particularmente interessado em trabalhar com vocês e ver o que é melhor para [a minha filha]", disse Caplan, de acordo com a queixa-crime, que detalha a conversa intercetada numa escuta autorizada pelo tribunal.

 

"Este é o golo dos golos", disse Singer.

 

"E funciona?", perguntou Caplan.

 

"Sempre", respondeu Singer, rindo, de acordo com o documento dos EUA.

 

Engano

Em centenas de páginas de apresentações detalhadas ao tribunal, os investigadores traçam um esquema descarado para os ricos e poderosos subornarem e entrarem nas melhores universidades dos EUA, entre elas Yale, Stanford, UCLA e Georgetown. Ao todo, segundo o governo, os clientes pagaram milhões de dólares em subornos a assessores e administradores das universidades de 2011 a 2018.

 

O primeiro passo crucial, afirmou Singer a Caplan, é a sua filha "ser tonta" durante uma avaliação psicológica, para ser classificada como portadora de deficiência de aprendizagem, revelaram os investigadores. Isto garantiria uma extensão nos testes, para que ela fizesse o exame mais tarde, durante dois dias, em vez de um, e num ambiente individualizado. Segundo Caplan, tudo o que a família precisava de fazer era viajar à Califórnia para que a prova pudesse ser feita num lugar onde o "inspetor" corrupto de Singer garantiria que o teste tinha sido brilhante, disseram os EUA.

 

Filho desportista

Douglas Hodge, ex-CEO da Pacific Investment Management, usou o que Singer chamou de "porta lateral" para fazer um filho entrar na universidade: o recrutamento desportivo. As universidades dão uma vantagem a candidatos escolhidos pelos treinadores; muitas vezes, são admitidos com notas e pontuações mais baixas nas provas. Segundo a queixa, Hodge pagou 475.000 dólares em dólares através da empresa de cursos pré-universitários, da sua fundação e do Conselho de Desportos Femininos da Universidade do Sul da Califórnia.

 

Mas havia um problema: um dos filhos que queria entrar na universidade não praticava o desporto. Em janeiro de 2015, a esposa de Hodge enviou um e-mail a Singer. Ela disse que não tinha encontrado nenhuma foto do filho a jogar futebol americano, embora estivesse a candidatar-se para jogar na equipa da USC. Então, mandou uma do irmão, de acordo com a apresentação entregue no tribunal. Singer mandou a foto para um assessor de admissão da USC: "Veja abaixo - tenho certeza de que também há uma a jogar ténis. Os miúdos são parecidos, então pensei que uma foto a jogar futebol americano também ajudaria?"

 

Hodge, que se aposentou em 2017 depois de 28 anos na Pimco, preferiu não comentar quando contactado através do seu telemóvel. Disse apenas: "Eu não posso falar agora."

 

(Texto original: `Home Run of Home Runs': How to Bribe Your Kid Into College)

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