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Relações comerciais: aproximação de Pequim a Bruxelas afasta Washington

Os Estados Unidos impuseram novas tarifas comerciais a produtos europeus poucas horas depois de Bruxelas e Pequim terem chegado a um acordo de investimento histórico. Joe Biden tinha pedido para ser consultado antes de Bruxelas oficializar a relação comercial.

Vicente Lourenço vicentelourenco@negocios.pt 31 de Dezembro de 2020 às 16:52
Os norte-americanos aproveitaram o final do ano para impor novas tarifas comerciais às importações de produtos europeus como o vinho francês ou equipamento de aviação. Há 16 anos que os Estados Unidos e a União Europeia estão em disputa por causa de subsídios governamentais a companhias aéreas, nomeadamente à Airbus. Washington tem acusado Bruxelas de excessivo protecionismo à construtora europeia, com a desconfiança a subir de tom com a administração Trump. Para o presidente-cessante dos Estados Unidos, a interferência da Europa desvirtua o mercado concorrencial e, como resultado, já impôs tarifas a bens no valor de 7.500 mil milhões de dólares (cerca de 6,1 mil milhões de euros).

A decisão de engordar este valor chega logo após Bruxelas e Pequim terem firmado um acordo histórico que representa a abertura da segunda maior economia do mundo a investimento europeu. O grande império do meio promete assim abrir as portas a investimento europeu nos setores da biotecnologia, automóveis ou telecomunicações. Em troca, a China terá acesso ao mercado de energias renováveis europeu.

À margem destas negociações ficaram os Estados Unidos. Joe Biden, que irá suceder a Donald Trump na Casa Branca, tinha pedido para ser ouvido pela União Europeia antes do acordo ser concluído, mas, apesar da insistência da Polónia, o mesmo não aconteceu, o que terá irritado o recém-eleito governante. "É simplesmente surpreendente que a União Europeia tenha sequer considerado apressar um acordo de investimento com a China a poucas semanas de Biden iniciar o seu mandato", disse o representante de um think-tank em Washington ao jornal britânico The Guardian.
 
Desde 2013 que a União Europeia e a China estão em diálogo para tentar alcançar um acordo. A resistência em avançar com o processo partiu principalmente de Bruxelas por causa de alegados abusos de direitos humanos cometidos pelo governo de Xi Jinping. Nos últimos dois anos, as conversações estiveram num impasse devido à repressão de Hong Kong por parte de Pequim e a perseguição aos Uighures muçulmanos que, de acordo com a imprensa internacional, estarão a ser colocados em campos de detenção em Xinjiang.

De acordo com o documento que vai cimentar a relação entre as duas potências, a China compromete-se também a trabalhar para ratificar as convenções sobre trabalho forçado da Organização Internacional do Trabalho. Contudo, os críticos questionam a dedicação de Pequim, observando que esta não é a primeira vez que uma promessa semelhante é feita.   

"As histórias que saem de Xinjiang são um autêntico horror. O que se ouve em Bruxelas é que estamos prontos para assinar um acordo com a China", publicou esta semana no Twitter o eurodeputado Guy Vernhofstadt. "Nestas circunstâncias, qualquer assinatura da China relacionada com direitos humanos não merece o papel em que foi escrita."
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