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Mundo tornou-se "mais sombrio e mais instável" em 2016, diz Amnistia Internacional

O mundo tornou-se em 2016 "um local mais sombrio e mais instável", devido ao agravamento de conflitos como a Síria e dos "discursos do ódio" na Europa e Estados Unidos, sublinha a Amnistia Internacional no seu relatório anual.

Síria, uma guerra sem fim: A guerra na Síria caminha para os seis anos de conflito sem solução à vista. Moscovo e Teerão ajudaram a que o presidente sírio, Bashar al-Assad, tomasse a dianteira nesta guerra de todos contra todos. Os confrontos em Aleppo são 'apenas' a mais recente tragédia humanitária num país que continua a produzir milhares de refugiados: que só chegam em menor número à Europa devido ao acordo UE-Turquia.
Reuters
22 de Fevereiro de 2017 às 00:19
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"Para milhões [de pessoas], 2016 foi um ano de implacável miséria e medo, com governos e grupos armados a atentar contra os direitos humanos numa multitude de formas. Grande parte da mais populosa cidade da Síria, Alepo, foi massacrada em ataques aéreos e batalhas nas ruas até ser reduzida a pó", notou o secretário-geral da Amnistia Internacional (AI), Salil Shetty, nas primeiras linhas do prólogo do relatório anual da organização relativo a 2016.

 

Shetty apontou ainda "a feroz campanha contra vozes divergentes [do regime] na Turquia e no Bahrein", o "crescimento do discurso do ódio em muitas partes da Europa e dos Estados Unidos" ou "as mortes em massa no Sudão do Sul" como indicadores de que o mundo em 2016 se tornou "um local mais sombrio e instável".

 

A perspectiva da AI, no entanto, é que o ano de 2017 venha a ser ainda pior. "É provável que qualquer narrativa que procure explicar os eventos turbulentos do ano passado fique aquém do necessário. Mas a realidade é que começámos 2017 num mundo profundamente instável, cheio de trepidação e incerteza quanto ao futuro", adiantou Salil Shetty.

 

A contribuir para este cenário, explicou o secretário-geral da AI, surge em primeiro lugar a mudança na Casa Branca. "A eleição de Donald Trump como Presidente dos EUA constitui, talvez, o mais relevante dos muitos eventos sísmicos" de 2016, realçou o responsável da organização, explicando que esta "segue-se a uma campanha na qual frequentemente fez declarações profundamente divisionistas, marcadas pela misoginia e a xenofobia, e prometeu reduzir liberdades cívicas estabelecidas" e políticas contrárias aos direitos humanos.

 

Para Salil Shetty, "a venenosa retórica de campanha de Donald Trump exemplifica uma tendência global rumo a políticas mais violentas". "Em todo o mundo, líderes e políticos apostaram o seu poder futuro em narrativas de medo e desunião, pondo a culpa no 'outro' pelas queixas, reais ou fabricadas, dos seus eleitorados", pode ler-se no relatório da AI.

 

Apesar das lições do passado, em "2016 vimos que a própria ideia de dignidade humana e igualdade, a própria noção de família humana, foi vítima de um vigoroso e implacável ataque por parte das narrativas da culpa, do medo e dos bodes expiatórios, propagadas por aqueles que procuram tomar ou manter-se no poder a qualquer custo".

 

A AI considerou que a mais clara manifestação do "desprezo por estes ideais" ao longo de 2016 fica evidente quando "o bombardeamento deliberado de hospitais na Síria e no Iémen se torna uma ocorrência rotineira", quando "os refugiados são empurrados de volta para zonas de conflito" ou quando o mundo demonstra uma "quase total inacção perante Alepo", fazendo lembrar "falhanços semelhantes no Ruanda e Srebrenica, em 1994 e 1995".

 

Um dos mais preocupantes desenvolvimentos de 2016, explica o responsável da AI, foi o resultado "de um novo acordo oferecido pelos governos ao povo - que promete segurança e desenvolvimento económico em troca de ceder os direitos de participação e liberdades cívicas".

 

"Na esteira de uma tentativa de golpe em Julho, durante o estado de emergência, a Turquia escalou a sua campanha contra vozes dissonantes. Mais de 90 mil funcionários do sector público foram afastados sob a acusação de alegadas 'ligações a organização terrorista ou ameaça à segurança nacional'", sublinha a AI, acrescentando que "118 jornalistas foram retidos em prisão preventiva e 184 órgãos de comunicação foram encerrados permanentemente e de forma arbitrária".

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