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Líbia: Uma terra de ninguém que tem a produção de petróleo à beira do colapso
Em duas semanas, a produção de petróleo na Líbia derrapou 85%. O presidente da maior petrolífera estatal do país teme que esse valor aumente até próximo do colapso. Por enquanto, o líder militar Khalifa Haftar mantém os terminais petrolíferos encerrados e tem o apoio de alguns países europeus.
A 21 de janeiro deste ano a oferta diária de petróleo da Líbia fixava-se nos 1,3 milhões de barris e hoje, 4 de fevereiro, não passa dos 204 mil barris por dia. É um mínimo desde agosto de 2011, altura em que o militar Muammar al-Gaddafi foi derrubado do poder.
Em janeiro deste ano, as exportações de petróleo da Líbia registaram também uma queda para os 731 mil barris diários, o que representa um valor mínimo de um ano, de acordo com a Bloomberg, depois de o general Khalifa Haftar ter ordenado o bloqueio do oleoduto que liga os principais campos de petróleo ao porto de Zawiya, na costa noroeste da Líbia, e encerrado também os campos de produção no leste do país.
A Líbia é membro da OPEP (Organização de Países Exportadores de Petróleo) desde 1962 e a sua economia depende principalmente do setor petrolífero, que representa cerca de 70% das exportações. Além disso, o setor de petróleo e gás corresponde a cerca de 60% do PIB total do país.
Depois de uma ação que levou a cabo contra o Governo de Trípoli, que tem na produção e exportação de petróleo a sua maior fonte de riqueza, e que serviu de resposta ao envio das tropas turcas para apoiar o Governo, Haftar disse não haver prazo para que os bloqueios terminem.
A decisão do bloqueio das exportações e produção de petróleo na Líbia surgiu depois de o general ter recusado assinar um cessar-fogo em Moscovo e antes de uma conferência internacional em Berlim, que contou com a presença de vários líderes mundiais, mas que acabou por não produzir nenhum acordo de paz para o país, que interessa a vários países europeus.
Uma disputa a várias mãos por um lugar na costa do Mediterrâneo
Para além do petróleo, a grande atração pela Líbia está na sua posição estratégica, na costa mediterrânica, sendo um apetecível isco geopolítico para a União Europeia, numa altura de fortes migrações. Mas apesar de a pressão internacional para que se alcance um acordo pacífico no país (por parte de alguns membros, apenas), existe um clima de grande tensão e constante desconfiança entre as duas fações, o chefe do governo de Tripoli Fayez al-Sarraj, que foi reconhecido pela ONU, e o general Khalifa Haftar, que controla o leste do país com recurso a miliares.
Mas não são apenas estas duas coligações que intervêm no controlo do país e disputam as suas principais riquezas naturais (petróleo e jazidas). O general Haftar recebe o apoio militar dos Emirados Árabes Unidos, Egito, Rússia e França e conta com os Estados Unidos, no apoio diplomático. Do lado de al-Sarraj está a Turquia, o Qatar e Itália - se bem que de forma indireta.
Com a ajuda dos Emirados Árabes Unidos, que fornecerem artilharia bélica, dos mercenários do grupo militar russo Wagner Group, e do governo da Rússia que imprimiu milhares de milhões de dólares em moeda local para financiar as operações, as forças lideradas pelo general Haftar conquistaram vários quilómetros de território à volta de Trípoli.
Do lado oposto, as forças do governo liderado por al-Sarraj contam com o Qatar, Itália, Argélia e Turquia. Ancara é a grande força de apoio a Trípoli, que evitou a queda do governo local, enviando tropas e armamento. Em troca, Erdogan negociou com a Líbia o alargamento da sua Zona Económica Exclusiva no Mediterrâneo para fazer novas prospeções de petróleo, contra a vontade da Grécia.
Assim, esta disputa tribal entre Haftar e al-Sarraj vai muito para além de uma guerra interna e expande-se para outros "players" internacionais. O Estado da Líbia despenhou-se com a queda de Muammar Khadafi do poder, em 2011, com a ajuda da NATO e desde essa altura que vários grupos almejam o poder. No entanto, esta não é uma guerra meramente interna, com apenas duas balizas.
Neste momento, a Líbia vive numa situação de anarquia, que será agora agravada com a queda da produção e exportação do petróleo, que vai pesar nas contas do país.