Notícia
Irão: Ultra-conservadores perdem terreno nas eleições
Dois dos mais destacados clérigos foram afastados da Assembleia de Peritos, a quem cabe eleger o líder supremo do regime. Apesar de ganhos dos reformistas, tanto o Parlamento como a Assembleia continuarão conservadores.
Dois dos mais influentes líderes ultra-conservadores iranianos perderam nas eleições de sexta-feira passada os seus assentos na Assembleia de Peritos, o órgão a quem cabe indicar o líder supremo do país.
De acordo com os resultados anunciados esta segunda-feira, 29 de Fevereiro, pela agência iraniana IRNA e citados pela Reuters, os ultra-conservadores perderam importância entre os 88 lugares na Assembleia de Peritos. Na circunscrição de Teerão, os aliados do presidente Hassan Rouhani (a lista do ex-presidente Rafsanjani) ganharam 15 dos 16 assentos neste órgão, derrotando aqui dois dos mais proeminentes ultra-conservadores.
Tanto o até aqui presidente da Assembleia de Peritos, aiatola Mohammad Yazdi, como o aiatola Mohammad-Taghi Mesbah-Yazdi (visto como mentor do anterior presidente conservador Mahmoud Ahmadinejad) não foram eleitos. O aiatola Ahmad Jannati, que também preside ao Conselho de Guardiães da Constituição, foi o único a conseguir um lugar entre os 16 de Teerão.
Apesar da clara vitória dos reformistas e moderados em Teerão, a forte influência e predominância detida pelos conservadores no Conselho dos Guardiães (responsável pela aprovação dos candidatos) fez com que a grande parte dos candidatos aprovados sejam da ala conservadora. O que deverá levar a que a Assembleia de Peritos mantenha uma forte presença de clérigos conservadores entre os seus 88 membros. Por outro lado, num quarto dos lugares desta instância os ultra-conservadores não viram surgir candidaturas alternativas, o que consolida a sua presença.
A Assembleia reúne especialistas na lei islâmica e reúne duas vezes por ano ao longo do seu mandato de oito anos. Cabe a este órgão indicar a personalidade que substituirá o actual aiatola Ali Kamenei, o líder supremo do Irão.
As eleições para a Assembleia de Peritos - as primeiras desde o fim do embargo económico ao país em Janeiro - decorreram em simultâneo com as do Parlamento, onde a aliança entre reformados e moderados conquistou todos os 30 lugares eleitos na circunscrição da capital Teerão e onde se mantém uma presença conservadora.
Apesar de a contagem ainda não estar concluída - podendo haver ainda lugar a uma segunda volta nas circunscrições em que os candidatos não obtiveram o mínimo de 25% de votos –, os aliados de Rouhani deverão, segundo cálculos da Reuters, triplicar - de menos de 10% para 30% - a sua presença nesta câmara parlamentar. Ainda assim, os conservadores deverão ficar com 40% dos lugares num órgão que tem travado no passado as reformas propostas por Rouhani.
A afluência às urnas cifrou-se em 62% dos eleitores.
Em meados de Janeiro o regime de Teerão viu ser levantado o embargo económico internacional, depois de um parecer positivo da Agência Internacional de Energia Nuclear. O fim progressivo das sanções segue-se a um acordo alcançado em Julho de 2015 entre Teerão e os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, a Alemanha e a União Europeia para a progressiva redução de capacidade nuclear com garantias de monitorização internacional.
"Esta eleição pode ser um ponto de viragem na história da República Islâmica. (...) A maior conquista é o regresso dos reformistas ao sistema vigente... sem que sejam chamados de insurgentes ou infiltrados", escreveu em editorial Mostafa Kavakebiano, director do jornal reformista Mardom-Salari e eleito deputado por Teerão.
Já o director do jornal Kayhan, associado ao chefe supremo Khameney, fala de uma "ilusão de vitória" dos reformistas: "A estrutura do sistema vigente no Irão é tal que nenhuma facção política pode mudar as principais políticas enraizadas nos seus princípios básicos. O voto do povo é limitado à responsabilidade que lhes é dada pela constituição", afirmou.
(notícia actualizada às 13:04 com mais informação)