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FMI ainda mais pessimista já prevê recessão de 10,2% na Zona Euro
O FMI avisa que a quebra da economia mundial provocada pela pandemia vai ser mais acentuada do que o previsto e que a recuperação é incerta. Não há estimativas para Portugal, mas olhando para a revisão efetuada para Espanha e outros países da Zona Euro, a quebra no PIB poderá ter dois dígitos este ano.
Em abril de 2020, quando avançou com as primeiras previsões para a economia mundial depois do início da pandemia, o Fundo Monetário Internacional traçou um cenário negro, antecipando que o "grande confinamento" iria provocar a recessão mundial mais grave desde a "grande depressão" dos anos 30 do século passado.
Dois meses depois, o FMI atualizou as suas estimativas e avança com um cenário ainda mais sombrio para a economia mundial, que enfrenta "uma crise como nenhuma outra e uma recuperação incerta".
As estimativas reveladas esta quarta-feira pela entidade sediada em Washington apontam para uma queda de 4,9% do PIB mundial este ano, bem pior do que a contração de 3% antecipada em abril.
"A pandemia da covid-19 teve um impacto mais negativo na atividade económica do primeiro semestre do que o antecipado e projeta-se que a recuperação seja mais gradual do que o anteriormente previsto", escreve o FMI no relatório publicado esta quinta-feira.
No "uptade" do seu Word Economic Outlook (WEO), o FMI avança com previsões apenas para as maiores economias, pelo que a estimativa de quebra de 8% no PIB de Portugal este ano não foi alterada para já. Mas o FMI arrasou as estimativas já negras para todas as economias, pelo que a previsão para Portugal também não deverá escapar quando for atualizada no futuro.
Basta olhar para as novas estimativas para a Zona Euro e vários países da região. A previsão do FMI aponta para uma quebra inédita de 10,2% no PIB dos países que partilham o euro, bem pior do que o antecipado em abril (-7,5%).
Espanha deverá registar uma contração de 12,8% este ano, quando no WEO de abril se antecipava uma quebra de 8% (exatamente a mesma que era prevista para Portugal há dois meses). No orçamento suplementar que ainda não foi aprovado na generalidade, o Governo português inscreveu uma previsão de queda no PIB de 6,9% este ano.
As estimativas do FMI apontam para uma recessão de 12,8% em Itália (-9,1% em abril), 7,8% na Alemanha (-7% em abril) e 12,5% em França (-7,2% em abril).
Os países europeus são dos que pior ficam na fotografia, mas as estimativas para outras grandes economias também são negras. O PIB dos Estados Unidos deverá recuar 8% este ano (previsão de 5,9% em abril), o Brasil enfrenta uma recessão de 9,1% e o México de 10,5%. A economia do Japão deverá encolher 5,8%, a Índia sofrer uma contração de 4,5% e só a China escapa ao vermelho, com um crescimento de 1% este ano.
No relatório hoje publicado, o FMI assinala que os dados revelados desde abril indicam uma recessão mais aguda do que previamente projetado para várias economias, destacando os dados do emprego. Citado a Organização Mundial do Trabalho, salienta que o número de horas trabalhadas a menos no primeiro trimestre correspondem à perda de 130 milhões de empregos no primeiro trimestre e de 300 milhões no segundo trimestre.
Recuperação "incerta" adia regresso aos níveis pré-pandemia para 2022
Se as estimativas para 2020 são negras, as previsões para a retoma não são mais animadoras. O FMI aponta para um crescimento do PIB mundial de 5,4% em 2021 (em abril antecipava +5,8%), o que deixará a economia mundial no final do próximo ano ainda 6,5 pontos percentuais abaixo do que era projetado em janeiro, altura em que a covid-19 estava contida a algumas regiões da China.
O cenário base do FMI aponta para que o ponto de viragem da economia mundial aconteça durante o segundo trimestre, mas a má notícia é que a retoma vai ser "incerta" e "gradual", uma vez que, apesar da abertura das economias, persiste o distanciamento social e os receios de contágios.
"Incerteza" é uma palavra repetida inúmeras vezes no relatório do FMI, sobretudo para perspetivar a tendência da economia e também o curso da pandemia. "As projeções de um consumo privado mais fraco refletem uma combinação de um grande choque adverso do distanciamento social e ‘lockdowns’, bem como de um aumento da poupança por motivos de precaução. Além disso, o investimento deverá continuar deprimido, com as empresas a adiarem gastos de capital devido à incerteza", escreve o FMI.
Para a Zona Euro, o FMI antecipa que o PIB de 2021 vai crescer 6% (4,7% em abril), com a Alemanha a registar uma expansão de 5,4%, França de 7,3% e Itália e Espanha de 6,3%. Nos Estados Unidos (4,5%), Japão (2,4%) e Brasil (3,6%) a recuperação será menos vigorosa.
Nas economias avançadas é projetada uma retoma de 4,8% em 2021 (quebra de 8% em 2020), o que deixará o PIB destas regiões 4% abaixo do nível registado em 2019.
O FMI avisa que, nas economias que estão com maiores dificuldades em controlar as infeções, o dano na atividade económica será mais forte. Tal como nos países mais pobres, onde o impacto será particularmente "agudo". Já os países que estão a lidar melhor com a pandemia vão continuar a ser penalizados pelas medidas de distanciamento social e receio dos agentes económicos com o curso da doença.
Certo é que "todos os países, mesmo os que já superaram o pico de infeções, devem assegurar que os seus sistemas de saúde devem estar munidos com os recursos adequados". O FMI apela ainda a que a comunidade internacional acelere os esforços para apoiar os países mais pobres, sobretudo na disponibilização de uma vacina, assim que ela esteja desenvolvida.
Nos países que continuem a necessitar de ‘lockdowns’, os governos devem continuar a providenciar apoios para as famílias que perdem rendimentos e para as empresas que sofrem com a paragem da atividade económica. Nos países que estão a abrir, os apoios diretos devem ser removidos de forma gradual, mas devem persistir os estímulos para impulsionar a procura e incentivar a reafetação de recursos dos setores que vão ter menor dimensão depois da pandemia.
Nas previsões que efetuou em abril para Portugal, o FMI projetou uma contração de 8% no PIB de Portugal e uma subida da taxa de desemprego para 13,9%.