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Crise populacional do Japão deixa as mulheres mais pobres

A desigualdade salarial entre homens e mulheres no Japão está entre as maiores nas economias desenvolvidas.

18 de Janeiro de 2020 às 17:30
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À primeira vista, as coisas parecem estar a melhorar para as mulheres no Japão. Numa economia historicamente atrasada em relação a outros países desenvolvidos no que diz respeito à participação feminina na força de trabalho, uma parcela recorde de 71% das mulheres está agora empregada, um salto de 11 pontos em relação ao que se verificava há dez anos.

 

O governo japonês possui uma das leis de licença maternidade mais generosas do mundo e criou recentemente a categoria de "contrato limitado", destinada principalmente a mães que procuram equilibrar a vida profissional e familiar. E uma das necessidades mais importantes de famílias com pais que trabalham - creches - está a ser lentamente reforçada.

 

Mas, mesmo com estas vantagens, as mulheres japonesas - solteiras ou casadas, em período integral ou em regime parcial - enfrentam um futuro financeiro difícil. Uma confluência de fatores que incluem o envelhecimento da população, queda das taxas de natalidade e dinâmica anacrónica de género conspiram para afetar suas perspetivas de uma reforma confortável. Segundo Seiichi Inagaki, professor da Universidade Internacional de Saúde e Bem-Estar, a taxa de pobreza das mulheres japonesas mais velhas deve duplicar nos próximos 40 anos, para 25%.

 

Para mulheres solteiras e idosas, este professor estima que o índice de pobreza pode chegar a 50%.

 

No Japão, as pessoas vivem mais do que quase em qualquer outro lugar do mundo e as taxas de natalidade estão no nível mais baixo desde que os dados começaram a ser registados. Em resultado, a população em idade ativa do país deve encolher 40% até 2055.

 

Com os custos dos direitos em alta, o governo respondeu com a redução dos benefícios e proposta de aumentar a idade da reforma. Alguns japoneses reagiram retirando dinheiro das contas bancárias com juros baixos e aplicando em planos de reforma, na esperança de que ganhos em investimentos possam atenuar o impacto. Mas esta estratégia exige economias, e as mulheres no Japão têm menos probabilidade de guardar dinheiro.

 

A desigualdade salarial entre homens e mulheres no Japão está entre as maiores nas economias desenvolvidas. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, as mulheres japonesas ganham o equivalente a apenas 73% dos salários dos homens. A crise demográfica do Japão piora as coisas: casais reformados que vivem mais precisam de 185 mil dólares adicionais para sobreviver aos projetados défices do sistema público de pensões, segundo um relatório recente do governo.

 

Mas existem outros obstáculos para as mulheres japonesas. Embora 3,5 milhões tenham entrado na força de trabalho desde que o primeiro-ministro Shinzo Abe assumiu o cargo em 2012, dois terços estão a trabalhar apenas a tempo parcial.

 

A remuneração dos homens japoneses geralmente sobe até os 60 anos. No caso das mulheres, a remuneração média permanece praticamente a mesma entre os 20 e os 60 anos, facto que seria atribuído a períodos sem trabalhar por causa dos filhos ou aos empregos com horário parcial.

 

A trajetória profissional de Machiko Nakajima reflete esse quadro. Nakajima, que trabalhava em período integral numa empresa de turismo, deixou o emprego aos 31 anos, quando engravidou.

 

"Não tinha vontade de trabalhar enquanto cuidava do meu filho", disse numa entrevista. Nakajima passou uma década a criar os dois filhos antes de voltar ao trabalho. Agora, com 46 anos, trabalha como rececionista a tempo parcial numa escola de ténis de Tóquio. Embora o seu marido, que também tem 46 anos, tenha um emprego em período integral, Nakajima teme pelo seu futuro, devido à fragilidade do sistema de pensões.

 

"Faz-me pensar como vou viver o resto da minha vida", disse. "Não é fácil economizar para a reforma a trabalhar a tempo parcial."

Texto original: Japan's population crisis is pushing more women into poverty

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