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600 anos depois, um Papa abdica
Em 1415, o Papa Gregório XII abdicou do mais elevado cargo dentro da Igreja Católica. Quase 600 anos depois, Bento XVI toma a mesma decisão.
Em 1415, o Papa Gregório XII renunciou ao mais elevado cargo da Igreja Católica. Foi o último Papa a fazê-lo. Até Bento XVI ter anunciado, esta segunda-feira, retirar-se do cargo de chefe da Igreja Católica Romana.
Em 1406, Gregório XII foi eleito Sumo Pontífice tendo, naquela altura, quase oitenta anos. Quase oito anos depois, em 1415, decide afastar-se e abdicar, morrendo dois anos depois.
Bento XVI, por sua vez, tinha 78 anos quando foi eleito Papa (sucedeu a João Paulo II, que foi chefe da Igreja Católica durante mais de 25 anos) e tal como Gregório XII teve um papado não muito longo. Ainda assim, com algumas controvérsias pelo caminho, que versaram temas como a homossexualidade e o aborto.
Em 2005, segundo o “El País”, ano em que foi eleito, o Papa proibiu a entrada de homossexuais nos seminários e nas ordens sagradas. Em 2006, num discurso numa
universidade alemã, Bento XVI, citou um texto de um imperador bizantino, para dizer que o profeta Maomé só trouxe “maldade e desumanidade”. Estas palavras provocaram tumultos no mundo muçulmano, fazendo com que o Papa, alguns dias depois, tenha pedido desculpa. No ano seguinte, em 2007, numa viagem ao Brasil, o Papa, ainda em pleno voo, ameaçou excomungar os políticos que defendessem o direito ao aborto. Em Maio de 2011, decide beatificar João Paulo II e, em 2012, o mordomo do Papa é detido por roubar a correspondência secreta do Papa.
Atribuindo a sua renúncia à falta de forças para liderar os católicos num mundo como o actual, Bento XVI abdica assim ao fim de quase oito anos com chefe máximo da Igreja Católica Romana.
Líderes europeus surpreendidos
A notícia apanhou de surpresa os principais líderes europeus. Mario Monti, ainda primeiro-ministro italiano, disse estar “muito abalado por esta notícia inesperada”.
Já David Cameron, primeiro-ministro britânico (no Reino Unido predomina o anglicanismo, no qual a Rainha é a chefe da Igreja) desejou felicidades a Joseph Ratzinger. Cameron sustentou ainda que os cristãos vão sentir a falta de Bento XVI como líder espiritual, de acordo com a Bloomberg.
A chanceler alemã, Angela Merkel, por sua vez, preferiu destacar que a decisão do Papa merece muito “respeito”. “Se o Papa, depois de ter reflectido, chegou à conclusão que já não tinha forças para continuar com os seus deveres, [esta decisão] tem o meu maior respeito”, afirmou Merkel.
François Hollande, presidente da França, foi parco em comentários sobre a renúncia de Bento XVI. "Não me compete a mim fazer comentários sobre esta decisão que pertence à Igreja. Não tenho que dizer se está bem. É uma decisão que reflecte uma vontade que tem de ser respeitada", afirmou François Hollande, citado pela Lusa.
Como é escolhido um Papa?
Os Papas são escolhidos pelo Colégio dos Cardeais, que é composto pelos mais altos funcionários da Igreja, habitualmente nomeados pelo actual Pontífice. Actualmente há 203 cardeais no Colégio, oriundos de 69 países, escreve a BBC.
A discussão que antecede a eleição dos Sumo Pontífices é secreta, assim como a eleição do mesmo. Esta é uma eleição que pode demorar vários dias. A partir do
momento em que o conclave tem início, os cardeais não podem ter contacto com o resto mundo. Por isso, as refeições, as votações e o período de descanso ficam restritos a áreas fechadas e preparadas para esse efeito até que o novo Papa seja escolhido.
Os favoritos
Os nomes referidos pela imprensa internacional são vários. Mas dois dos que mais surgem são os de Peter Turkson, do Gana, e Francis Arinze, da Nigéria. Se um destes dois cardeais for eleito será, provavelmente, o primeiro Papa negro.
Um outro nome que surge com frequência é o de Marc Ouellet, antigo Bispo do Quebec e perfeito da Congressão dos Bispos.
Além dos dois cardeais africanos, escreve o “The Telegraph”, os cardeais da América Latina são também apontados com possíveis sucessores de Joseph Ratzinger. Outros nomes indicador são: Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo (Brasil), Leonardo Sandri (de origem italiana e argentina) que dirige actualmente o Departamento das Igrejas Orientais, e João Braz de Aviz, brasileiro, que é considerado por muitos como uma lufada de ar fresco no Departamento das Congregações Religiosas do Vaticano, escreve a mesma fonte.
O Vaticano pode assim vir a eleger um Papa que não seja oriundo da Europa (João Paulo II era polaco e Bento XVI alemão). Se isto vier a acontecer será o primeiro em várias décadas.