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Moeda angolana afunda mais de 10%. Analistas prevêem mais quedas
Os analistas estimavam uma queda mais acentuada do kwanza e consideram que a descida registada não é suficiente para impulsionar a economia angolana.
O Banco Nacional de Angola (BNA) deixou o kwanza flutuar no mercado, o que ditou uma queda de mais de 10% no valor da moeda angolana face ao dólar e ao euro, mas os analistas estimam que têm de ocorrer novas quedas.
O banco central angolano determinou o fim da ligação ao dólar, que estava em vigor desde 2016, permitindo ao kwanza negociar livremente, sem ser estabelecido qualquer valor de câmbio. O governador do banco, José de Lima Massano, revelou que será criada uma banda de flutuação e que "se esta não for ultrapassada, não haverá intervenção".
Ontem foi o primeiro leilão nestes moldes, o que provocou uma queda na moeda angolana de 11% para 187,95 kwanzas por dólar e 10% para 221,75 kwanzas por euro.
Apesar desta depreciação, o valor oficial da moeda angola continua muito acima do valor a que é trocado no mercado negro, onde são necessários 430 kwanzas para comprar um dólar. Analistas contactados pela Bloomberg contavam com uma nova taxa de câmbio mais elevada, acima de 200 kwanzas.
A nova cotação "situa-se muito abaixo do nível de equilíbrio estimado", afirmou à agência de notícias Cobus de Hart, economista do sul-africano NKC African Economics. "Não parece que tenha sido intenção do BNA deixar a moeda desvalorizar imediatamente para um nível de mercado", acrescentou. "Uma desvalorização de 10% muito inferior ao que o mercado estava à espera", acrescentou Samantha Singh, do Absa Bank.
Os economistas acreditam que a moeda angolana tem que continuar a perder valor para acabar com a falta de dólares no mercado e impulsionar a fragilizada economia angolana. Victor Lopes referiu à Bloomberg que a moeda angola terá de descer para valores entre 210 a 225 kwanzas por dólar. Este economista da Standard Chartered, em Londres, salienta que Angola tem ainda de recorrer ao FMI para assistência financeira.
"Um pedido de ajuda ao FMI é agora mais provável", salientou Victor Lopes, lembrando que já passou o período de eleições, o efeito das primeiras medidas do Governo e o acesso a financiamento externo é agora mais reduzido. O economista adiantou ainda que a desvalorização do kwanza também facilita o pedido de assistência ao FMI, pelo que o novo regime cambial é um "passo na direcção certa".
A nova política monetária de permitir uma cotação mais baixa para o kwanza faz parte do pacote de medidas do presidente João Lourenço para atrair investimento estrangeiro e impulsionar a economia.
Apesar de deixar o kwanza flutuar, o BNA impõe um intervalo de modo que a queda da moeda não provoque um disparo na inflação, que está já nos 28%.