Notícia
Julgamento de Ana Gomes por acusações a Isabel dos Santos arranca na terça-feira
A instituição presidida pelo antigo ministro das Finanças Fernando Teixeira dos Santos afirma que as "afirmações e insinuações" de Ana Gomes são "falsas".
A ex-eurodeputada Ana Gomes começa a responder judicialmente, na terça-feira, numa queixa cível de Isabel dos Santos por causa de acusações feitas à empresária angolana de estar a usar Portugal para "lavar" dinheiro.
Em causa está uma publicação da ex-eurodeputada no dia 14 de outubro, reagindo a uma entrevista da empresária angolana à agência Lusa: "Isabel dos Santos endivida-se muito porque, ao liquidar as dívidas, 'lava' que se farta! E (...) o Banco de Portugal não quer ver...".
Numa entrevista, nesse mesmo dia, Isabel dos Santos disse à Lusa que trabalha com vários bancos e que não foi favorecida por ser filha do ex-Presidente de Angola José Eduardo dos Santos.
Isabel dos Santos endivida-se mto porque, ao liquidar as dívidas, "lava" q se farta! E bancos querem ser ressarcidos, só em teoria cumprem #AMLD, de facto não querem saber a origem do dinheiro...E ?@bancodeportugal? não quer ver... #Angola #Portugal https://t.co/pgThpzeRvN
— Ana Gomes (@AnaMartinsGomes) October 14, 2019
"Tenho muitas dívidas, tenho muito financiamento por pagar, as taxas de juros são elevadas, nem sempre é fácil também ter essa sustentabilidade do negócio, para conseguir enfrentar toda a parte financeira dos negócios, mas também boas equipas e trabalhamos para isso", afirmou a empresária, na entrevista feita em Cabo Verde.
Após o primeiro 'post', Ana Gomes acusou a empresária de usar o EuroBic (banco de que é acionista) para legalizar o seu dinheiro: "Que jeito dá à (...) acionista Isabel dos Santos o @banco_eurobic! Está na rede swift e na Zona Euro".
No dia 31 de outubro, o EuroBic anunciou também que iria mover uma ação contra a ex-eurodeputada, que tem acusado figuras ligadas ao regime angolano de usarem Portugal para legalizarem o dinheiro desviado de Angola, particularmente durante a gestão de José Eduardo dos Santos.
Em comunicado enviado às redações, a instituição presidida pelo antigo ministro das Finanças Fernando Teixeira dos Santos afirma que as "afirmações e insinuações" de Ana Gomes são "falsas" e que, por lesarem o "bom-nome e a reputação do EuroBic, o banco decidiu avançar com os procedimentos judiciais adequados com vista à salvaguarda dos seus direitos".
O EuroBic recorda no documento que num programa de comentário na SIC Notícias, em 16 de outubro, a ex-eurodeputada "referiu-se ao EuroBic como fazendo parte de um circuito que se destina a ofuscar a origem dos capitais da senhora engenheira Isabel dos Santos".
"Esses comentários foram proferidos na sequência de uma publicação do Twitter da mesma autora, em que também se referiu ao EuroBic como integrando um esquema de 'lavagem de dinheiro'", prossegue o banco.
Em entrevista em novembro à Lusa, a ex-eurodeputada socialista Ana Gomes afirmou que vai apresentar na Justiça "todos os elementos" que possui, envolvendo as dúvidas que tem lançado à origem dos investimentos da empresária angolana Isabel dos Santos, caso seja levada a tribunal.
"Eu mantenho tudo aquilo que disse. E disse que tenho fornecido a várias instâncias, europeias e nacionais, muita informação que deveria levar a questionar a idoneidade da senhora dona Isabel dos Santos", afirmou, na entrevista à Lusa.
Para Ana Gomes, a queixa anunciada pelo EuroBic, liderado por Teixeira dos Santos e no qual a empresária Isabel dos Santos é acionista principal (grupo angolano BIC), será uma forma de responder com os elementos que afirma possuir e que "só não vê quem não quer".
"Aí eu terei o ensejo de responder em detalhe a uma e a outra nota [processo EuroBic e críticas de Isabel dos Santos]. Mas mantenho tudo o que disse", afirmou a ex-eurodeputada socialista, que há vários anos crítica a liderança de José Eduardo dos Santos em Angola (Presidente da República entre 1979 e 2017) e pai de Isabel dos Santos.
"Eu não estou nada preocupada com a senhora engenheira Isabel dos Santos. Eu estou, e desde há muito tempo, é preocupada com as facilidades e as cumplicidades que a senhora engenheira encontrou para investir em Portugal", com "dinheiro que obviamente pertencia, pertence, ao povo angolano", disse ainda.
O início do julgamento da ação cível está agendado para as 14:00 no Juízo Local Cível de Sintra.