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Parceiros sociais divididos sobre a melhor solução de governo
CIP entende que os resultados apontam para entendimento à direita, CCP não se pronuncia, UGT multiplica-se em esclarecimentos e CGTP defende entendimento à esquerda.
Qual o melhor cenário de viabilização de um Governo? As confederações empresarial (CIP) e do Tursimo (CTP) entendem que o resultado das eleições expressa "a vontade" de uma estabilidade parlamentar baseada nos deputados da coligação e do PS; a CGTP sustenta que o mesmo resultado expressa um voto "contra a austeridade", com convergências à esquerda; a Confederação do Comércio e Serviços (CCP) recusa pronunciar-se sobre a composição do Governo; e a UGT demarcou-se esta segunda-feira da posição do seu secretário-geral, que manifestou preferência por um entendimento à direita.
"Se respeitarmos o que resultou da vontade dos portugueses nas últimas eleições, em que 70% votaram coligação [PSD e CDS] ou PS", então defendemos "uma estabilidade parlamentar assente no somatório destes três partidos", diz ao Negócios António Saraiva. Outras soluções assentes num entendimento entre o PS, o PCP e o Bloco, seriam "se calhar mais contra-natura", que face à divergência destes três partidos quando aos compromissos internacionais exigiriam mais "rendilhado político" nos problemas práticos da governação, sustenta.
João Vieira Lopes, da CCP, começa por sublinhar que "a CCP nunca se pronunciou sobre a composição política dos governos". "Temos uma agenda própria que abrange propostas na área fiscal, de capitalização das empresas, da Segurança Social e da reforma do Estado" e que serão apresentadas a qualquer governo.
A redução da carga fiscal das empresas, com a reestruturação do IVA, não apenas na restauração (neste último caso defendida pelo PS) a "abertura" para discutir o plafonamento de contribuições e pensões (proposto pela coligação) ou o apoio à diversificação de receitas, através da substituição da taxa social
CIP
única, que apenas incide sobre salários, numa taxa mais vasta que também incida sobre o valor acrescentado das empresas (como indicam o PCP e o Bloco de Esquerda) são algumas das propostas defendidas pela CCP, diz ao Negócios.
Para Arménio Carlos, da CGTP, "a estabilidade ou instabilidade não tem uma relação directa de quem está no poder, tem uma relação directa com as políticas desenvolvidas", e se forem seguidas as políticas da coligação "a economia portuguesa vai crescer de forma anémica".
"A maioria da população portuguesa votou contra a coligação. É muito mais interessante procurar uma convergência à esquerda para identificar soluções que superem os problemas que enfrentamos do que continuar comodamente à espera que PSD e CDS formem governo para dar continuidade à política de exploração, desigualdade e empobrecimento", concretiza Arménio Carlos.
Francisco Calheiros, da Confederação do Turismo (CTP), sustenta que uma solução de entendimento entre PS, PSD e CDS é "desejável", já que será "potencialmente" a "solução que maior estabilidade garante, dada a composição da AR em resultado das recentes eleições, com uma "clara vantagem para a Economia". Um entendimento à esquerda "não é, de todo, a melhor solução para o País, por tudo o que caracteriza esses dois partidos (BE e PCP), designadamente no que diz respeito a temas como a Europa e o Euro, as privatizações e um vasto número de outras questões. Acresce que sabemos que uma solução dessa natureza iria provocar uma enorme desconfiança nos mercados", alega, numa resposta por escrito ao Negócios.
UGT demarcou-se da opinião do secretário-geral
"Não me parece que efectivamente as forças à esquerda do PS dêem na minha opinião a garantia de estabilidade em relação ao futuro. Há dúvidas. E portanto o PS só conseguirá fazer maioria se tiver maioria na Assembleia quer do PCP quer do BE. É uma maioria instável que na minha opinião não dará garantias que no futuro a governabilidade seja assegurada por quatro anos", afirmou o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, em entrevista ao Diário Económico e à Antena 1. "Ficaremos mais tranquilos se efectivamente a posição do Partido Socialista for a de encontrar um compromisso com o Partido Social-Democrata e com o CDS", disse também, na mesma entrevista.
As reacções à posição de Carlos Silva levaram a UGT a emitir um comunicado, ao início da tarde, que esclarece "que a opinião expressa apenas vincula a pessoa do Secretário-geral da UGT e não uma posição da Central ratificada nos seus órgãos sociais". "Isto já faz mais sentido", reagiu João Galamba, do PS, no Facebook. "Um esclarecimento bem-vindo", acrescentou Porfírio Silva.
Rui Riso, presidente do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, um dos que tem maior peso na UGT, também considerou o esclarecimento oportuno. Sublinhando que (pelo menos em algumas declarações) Carlos Silva afirmou que se tratava da sua opinião pessoal, Riso afirma que ao longo da manhã houve episódios de "aproveitamento" das declarações do secretário-geral.
"Não me revejo na interpretação alargada de apoio a um governo, qualquer que seja. Para mim, enquanto sindicalista, o importante é a concretização da política reivindicativa aprovada no secretariado nacional", no passado dia 6 de Outubro, afirma Rui Riso ao Negócios. Até porque "existe uma diversidade de opiniões na UGT", que congrega maioritariamente socialistas, social-democratas, mas que pode até ter membros do Bloco de Esquerda ou do PCP com presença no secretariado nacional.
Também a Tendência Sindical Socialista (TSS) da FEBASE – Federação dos Sindicatos do Sector Financeiro (SBSI, SBN, SBC, STAS), veio esclarecer em comunicado que Carlos Silva emitiu apenas "a sua opinião". "A TSS considera abusivas as interpretações alargadas sobre este assunto publicadas avulsamente, algumas subscritas por elementos de órgãos sociais da Central Sindical", acrescenta o documento.
A proposta reivindicativa da UGT foi aprovada na semana passada. Mas enquanto o documento defende a eliminação (total) dos cortes salariais da Função Pública, Carlos Silva acabou por explicar aos jornalistas que admite que sejam aplicados cortes em 2016, não admitindo, no entanto, que se agravem.