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Frente-a-frente entre Pedro Lains e António Gomes Mota

As mesmas perguntas. Duas visões.

Negócios 30 de Janeiro de 2013 às 00:01
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As mesmas perguntas. Duas visões.

 

1. O Estado deve ser dono do maior banco português ou privatizar a CGD?

2. Uma das respostas à crise foi o apoio estatal ao sector financeiro, o que em Portugal levou já à injecção de fundos públicos em dois grandes bancos privados. Foi adequada?

3. Compete ao Estado salvar as instituições financeiras da falência, para evitar o contágio ao sistema?

4. O Estado deve ter um instrumento de redinamização económica? Esse papel deve caber à CGD ou a um banco de fomento a criar?

 

 

Pedro Lains, investigador do Instituto de Ciências Sociais


"CGD deve continuar pública e nunca ser vendida em baixa"

 

1. A Caixa Geral de Depósitos deve continuar pública e nunca deve ser vendida num período de baixa de mercado. O Estado deve todavia criar uma forma indirecta de nomear a sua administração.

 

2. Visto de fora, a resposta do Governo e do Banco de Portugal à situação da banca portuguesa tem sido satisfatória, até porque tem sido acompanhada internacionalmente, pelo Banco Central Europeu e pela troika. Todavia, é preciso notar que o Governo ainda não apontou os administradores desses bancos, nem definiu as formas em como vai levar os bancos a investirem no tecido económico.

 

Neste momento, sim [o Estado devia ter um instrumento de redinamização económica] e a CGD deveria ser esse instrumento.
 
Pedro Lains, Investigador do Instituto de Ciências Sociais

Há duas grandes críticas a fazer nesta matéria: a primeira é a excessiva interdependência entre o Governo e os bancos, uma vez que aqueles têm comprado dívida pública e agora precisam de condições favoráveis nos mercados, estando assim dependentes da acção do Governo, para a venderem; a segunda é que o Governo tudo tem feito pelos bancos e nada, nada mesmo, pelo resto da economia. Esse enviesamento deveria ser eliminado.

 

3. Sim, embora ainda não seja claro se foi boa a decisão de nacionalizar o BPN, nem o preço da sua venda.

 

4. Neste momento sim e a CGD deveria ser esse instrumento. Todavia, a Caixa tem um problema de governação que precisa de ser resolvido olhando, por exemplo, para o modelo dos bancos públicos estaduais alemães ou outros (mas não para as "cajas" espanholas!).

 

 

 

 

António Gomes Mota, Presidente da escola de gestão do ISCTE


"Uma solução seria a privatização de parte do capital da Caixa"


1. A CGD tem tido um papel de estabilizador do sistema bancário e pode ser utilizada, enquanto banco público, como instrumento de financiamento à economia de acordo com orientações para determinados objectivos. Em contrapartida, enquanto banco público está mais atreita a influências de vária ordem, à instabilidade própria do sistema político e a uma menor coesão de gestão. Uma solução de compromisso seria a privatização de parte do capital, que promoveria a implementação de melhores mecanismos de "governance" e de uma gestão mais profissional. Em alternativa poderia procurar-se privatizar determinadas áreas de intervenção (por exemplo, áreas internacionais), através de parcerias com outras entidades que pudessem aportar valor às estratégias a desenvolver nessas áreas.

 

A CGD tem igualmente condições para fazer [o papel de instrumento de redinamização económica].
 
António Gomes Mota, Presidente da Escola de Gestão do ISCTE

2. Em Portugal creio que sim, pois não se verificou qualquer situação de pânico nem de insolvência ou de grandes dificuldades de instituições de relevo, promovendo-se, com a entrada do Estado, o aumento da solvabilidade e solidez das instituições bancárias e a percepção de uma imagem de segurança.

 

3. O argumento do risco sistémico que levará sempre, se necessário, à intervenção do Estado, pode ser contrariado pela tese de que tal certeza irá promover estratégias de maior risco por parte dos bancos, justamente por saberem que são "too big to fall" e assim potenciando crises no futuro, que só uma elevada capacidade de regulação e supervisão poderão evitar.

 

4. Não vejo em que é que uma nova instituição poderá acrescentar algo de relevante ao que a CGD tem igualmente condições para fazer.

 

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