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Portugal poupou mais de 10 mil milhões com descida dos juros
A poupança orçamental conseguida por Portugal é inferior à da Alemanha e França, em termos relativos, e superior à da Espanha e Irlanda. Em valor, representa uma ínfima parte do bilião de euros obtido por todos os países do euro.
Os orçamentos dos países da Zona Euro beneficiaram de uma folga total de um bilião de euros devido ao corte de juros efectuado pelo Banco Central Europeu desde a crise financeira de 2008.
A conclusão é do Bundesbank e está no relatório mensal que o banco central alemão publicou esta segunda-feira, 24 de Julho (versão em alemão disponível aqui). A instituição liderada por Jens Weidman fez as contas por país, calculando a diferença entre o custo de financiamento de cada ano desde 2008 (ano em que o BCE começou a reduzir os juros) face ao que se registava em média antes da crise financeira.
A Itália é a grande vencedora, tendo obtido ao longo destes anos uma poupança no seu orçamento equivalente a 10,41% do produto interno bruto (PIB). Seguem-se a Holanda, Áustria e França também com valores acima de 10%.
Em média a poupança de todos os países do euro corresponde a 9% do PIB, sendo que a Alemanha surge abaixo (7,7%), mas claramente à frente em termos de valores (240 milhões de euros, ou quase um quarto do total), o que se explica devido à dimensão da economia.
Portugal surge ainda mais abaixo da média, mas a meio da tabela dos países do euro. De acordo com os cálculos do Bundesbank, as finanças publica portuguesas beneficiaram de uma poupança orçamental que corresponde a 5,86% do PIB. Este valor foi captado ao longo dos últimos nove anos, mas se for tido em conta o valor da economia portuguesa em 2016 (185 mil milhões de euros), a poupança acumulada ascende a 10,8 mil milhões de euros. Um montante que pesa apenas 1% das poupanças totais, o que se situa abaixo do peso da economia portuguesa na Zona Euro.
O ano passado foi claramente o mais forte nas poupanças obtidas por Portugal com o reduzido nível dos juros (1,39% do PIB, ou 2,5 mil milhões de euros, o que corresponde a cerca de um quarto do total).
A Grécia não apresenta valores comparáveis devido ao perdão de dívida de que beneficiou, sendo que aplicando o mesmo exercício, a poupança corresponde a 21,23%.
No boletim mensal, o Bundesbank mostra-se preocupado com o facto de os países do euro estarem tentados a pressionar o BCE para que o banco central mantenha os juros em mínimos históricos. E teme que os países mais endividados da região tenham dificuldades em cumprir o serviço da dívida quando as taxas de juro começarem a subir.
"Existe o risco crescente que a confiança na sustentabilidade das finanças públicas dos países sofra uma erosão assim ou as taxas de juro subam, o que ameaça colocar pressão sobre a política monetária para responder" a este problema, afirma o Bundesbank.
Para ilustrar esta preocupação, o Bundesbank refere que se os custos de financiamento no ano passado fossem iguais aos registados antes da crise, os custos com juros da dívida pública na Zona Euro teriam aumentado em cerca de 2% do PIB.
Nas várias estatísticas que publica no seu boletim mensal, o Bundesbank coloca Portugal como o país da Zona Euro onde o custo com pagamento de juros tem um maior peso no PIB, o que aliado ao elevado peso da dívida (acima dos 130% do PIB) coloca o país como um dos mais vulneráveis a um aumento dos juros por parte do BCE.
O peso dos custos com juros até baixou em 2016 para o equivalente a 4,24% do PIB, mas é o único país do euro onde o rácio permanece acima dos 4%.