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Paul de Grauwe: "Não encontro evidência que a flexibilidade gere crescimento"

O impacto sobre o crescimento das reformas estruturais que promovem mais flexibilidade no mercado de trabalho e produto não é visível, defende o economista numa conferência sobre reformas estruturais organizada pelo Banco de Portugal.

Bruno Simão
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As reformas estruturais dos últimos anos visando aumentar a flexibilidade no mercado de trabalho e fomentar a concorrência podem afinal não gerar o crescimento que tem sido defendido ao longo da crise. A conclusão é de Paul De Grauwe, professor da London School of Economics, e resulta de um estudo apresentado pelo próprio em Lisboa, numa conferência sobre reformas estruturais organizada pelo Banco de Portugal este sábado, dia 9 de Maio.

 

"Não consigo encontrar efeitos da regulação do mercado de produto e de protecção do emprego no crescimento", afirmou o economista, após analisar factores que influenciam o desempenho de longo prazo nas economias avançadas, e que apontam para efeitos fortes em variáveis como os níveis de investimento ou de capital humano.

 

Para o economista, o enfoque nas reformas estruturais enquanto instrumento promotor do crescimento durante a crise foi desadequado por duas razões: por um lado, não há evidência de impactos positivos no crescimento de longo prazo – pelo menos quando considerando os habituais indicadores da OCDE de protecção no emprego e regulamentos na economia – pelo que foram exigidos esforços de reforma sem resultados claros.

 

Por outro lado, e talvez o mais importante, essa estratégia desviou a atenção do principal: que o problema imediato na Europa é falta de procura agregada, recusando-se dessa forma a urgência de uma resposta da política orçamental. Aliás, pelo contrário, a Europa optou por uma política de austeridade ao nível  da União - inevitável no Sul, mas que exigia compensação no Norte, defende. "Sem surpresa", o resultado foi uma espiral deflacionista que sacrificou o investimento público no momento em que é mais necessário.

 

Esta má gestão da crise explica que enquanto a economia norte-americana já esteja a recuperar, a Europa ainda se encontre a lutar contra um crescimento baixo e risco de inflação negativa, defende o economista.

 

"O tipo de políticas defendidas pelos políticos [na Europa] não têm efeitos significativos no crescimento económico de longo prazo" afirmou, acrescentando que "o efeito negativo da austeridade no investimento exacerbou um problema de procura que prejudicou o crescimento de longo prazo".

 

Paul de Grauwe defende por isso que embora o BCE esteja a dar uma ajuda, é importante que a Europa acelere o investimento, e em particular o  investimento público – uma das mais sérias vítimas da crise. A recomendação aplica-se em particular às economias com taxas de juro muito baixas e espaço orçamental, como a Alemanha.

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