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FMI alerta: "Pequenos choques" podem levar Portugal ao segundo resgate

O cenário não será iminente, mas os riscos existem. Sem uma "acção política significativa" Portugal será incapaz de se ajustar ao euro e "pequenos choques" poderão levar à perda de acesso ao mercado. As actuais baixas taxas de juro devem-se à actuação do BCE. Os alertas são do FMI.

Bloomberg
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Baixo crescimento, finanças públicas deficitárias e bancos frágeis: estas são as três áreas onde se concentram as maiores fragilidades da economia portuguesa e onde desenvolvimentos negativos têm potencial para, mesmo perante "pequenos choques, desencadear uma espiral de desconfiança e fazer o país perder o acesso ao financiamento dos mercados, forçando-o a pedir um segundo resgate aos parceiros do euro. O alerta é do Fundo Monetário Internacional (FMI) e surge na sua avaliação à economia portuguesa realizada ao abrigo do artigo IV, que obriga a instituição sedeada em Washington a fazer um "check-up" anual aos seus países-membros.
 
"Mesmo na ausência de um desafio imediato, a incapacidade de resolver [estas] fragilidades poderá colocar Portugal numa trajectória insustentável a médio prazo e deixá-lo vulnerável a choques", escreve o Fundo, que recomenda ao governo que adopte uma trajectória de ajustamento orçamental "credível e realista" que vá "muito além de reduzir o défice abaixo de 3%" e que permita reduzir a "incerteza significativa" que paira sobre a "direcção e âmbito das futuras políticas", o que  "apoiaria o planeamento do investimento privado". Em concreto, o FMI enumera a racionalização do funcionamento do sector público e da sua despesa, que deveria ser alvo de um "exame minucioso", pedindo ainda uma política fiscal "mais estável e previsível."
 
"Sem uma acção política significativa, Portugal será incapaz de se ajustar aos constrangimentos da união monetária ou explorar plenamente os benefícios da sua integração", escreve o FMI, antes de lançar o alerta: "O baixo crescimento, a despesa pública por reformar e bancos frágeis impedirão a muito necessária (e ainda possível) convergência [com a Zona Euro] e poderão levar à perda de acesso ao mercado, mesmo perante pequenos choques".

E que pequenos choques? "Qualquer desenvolvimento que piore a dinâmica da dívida pública poderá desencadear uma mudança repentina no sentimento do mercado. Podem ser derrapagens orçamentais resultantes de reversões de políticas ou de um choque económico, ou a materialização de grandes passivos contingentes, incluindo do sistema bancário".

Portugal tem conseguido financiar-se nos mercados a taxas historicamente baixas, mas isso deve-se à actuação do BCE, que está a inundar o mercado de liquidez, acrescenta o FMI, lembrando que esta orientação excepcional da política monetária não durará para sempre pelo que é preciso agora "reforçar o quadro da política macroeconómica para garantir um acesso duradouro ao financiamento uma vez a política monetária seja normalizada".

Lembra ainda o FMI que, se Portugal for confrontado com um forte aumento nos custos dos empréstimos, a dinâmica da dívida pública "piorará ainda mais" e "poderá forçar [o governo] a fazer um grande ajustamento orçamental" com impactos negativos sobre o crescimento.

O aviso chega na mesma semana em que a Comissão Europeia se mostrou também preocupada com os riscos de um segundo resgate a médio prazo: "As operações de refinanciamento de Portugal permanecem altamente vulneráveis a mudanças de sentimento de mercado que podem mudar em caso de atrasos na consolidação orçamental e nas reformas estruturais e reversões de política", escreveram os técnicos de Bruxelas no relatório da quarta avaliação pós-programa, publicado há dois dias.
 
A avaliação à situação portuguesa por parte da instituição liderada por Christine Lagarde (na foto) foi divulgada nesta quinta-feira, 22 de Setembro, em simultâneo com um outro relatório onde o FMI faz o balanço da actuação da troika durante os anos do resgate, concluindo que o programa de ajustamento foi "relativamente bem sucedido".

(notícia actualizada às 15h40)
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