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Reino Unido marca eleições para 8 de Junho
A primeira-ministra Theresa May anunciou esta terça-feira a realização de eleições gerais antecipadas. Os britânicos voltam às urnas menos de um ano depois de terem votado pela saída da União Europeia.
"Presidi a uma reunião do conselho de ministros em que concordámos que o governo deve convocar eleições antecipadas, a decorrer a 8 de Junho," afirmou a governante.
May acrescentou que a convocação das eleições é feita com "relutância", mas que a decisão destina-se a remover riscos de incerteza e de instabilidade, associados ao processo de negociação com as instâncias europeias para estabelecer a saída da União Europeia. E afirmou que vai bater-se com determinação para vencer estas eleições e para dar ao país a liderança "forte" de que necessita.
A primeira-ministra fez uma alusão clara às divisões em Westminster (Parlamento), referindo-se às divisões no seio dos "tories" (Partido Conservador) quanto ao Brexit, num momento em que deputados (câmara baixa) e também lordes (câmara alta) prometiam dificultar ao máximo a vontade da primeira-ministra de promover um "hard Brexit".
Parlamento deverá aprovar eleições antecipadas
A decisão de antecipar eleições foi comunicada à rainha Isabel II ainda na segunda-feira, por Theresa May, mas terá de ser o Parlamento a validar esta vontade. Para que as eleições previstas para 2020 se realizem já no próximo mês de Junho, o Parlamento britânico tem de aprovar tal proposta por uma maioria de dois terços dos 650 deputados. May fará chegar a proposta a Westminster já amanhã.
A outra possibilidade prevista para o agendamento de eleições antecipadas passa pela aprovação de um voto de desconfiança dos deputados relativamente ao Governo. Hipótese de recurso mas que garantiria a vontade do Governo, uma vez que o Executivo poderia declarar a não confiança em si próprio. Há ainda uma terceira hipótese, que passaria pela revogação da lei parlamentar aprovada em 2011 pela maioria entre conservadores e liberais-democratas.
No entanto não deverá ser necessário recorrer a nenhuma destas alternativas. Para alcançar os dois terços dos 650 deputados da Câmara dos Comuns, May precisa de 434 votos favoráveis, mais 104 do que os 330 assentos conquistados pelos conservadores nas eleições de 2015 e que então deram uma inesperada maioria ao partido. E apesar de May dispor de uma maioria por apenas 17 assentos parlamentares, sendo possível um cenário em que conservadores votem em sentido contrário aos intentos do Governo, a oposição deverá viabilizar eleições em Junho.
Jeremy Corbyn, secretário-geral dos trabalhistas, já anunciou esta terça-feira que dará indicação aos 229 deputados do Partido Trabalhista para viabilizarem o reagendamento de eleições. "Recebo com agrado a decisão da primeira-ministra de dar ao povo britânico a possibilidade de votar por um Governo que ponha em primeiro lugar os interesses da maioria", disse Corbyn em comunicado.
Já a líder dos nacionalistas escoceses (SNP, terceira força mais representada no Parlamento britânico), Nicola Sturgeon, apesar de não revelar a posição do partido, dá como certas as eleições antecipadas para 8 de Junho e afiança que o partido tudo fará para reforçar o mandato com vista à realização de um novo referendo no país sobre a independência relativamente ao Reino Unido.
Se for aprovada a proposta governamental, o Executivo será dissolvido 25 dias antes da data definida para as eleições, o que significa que o Governo chefiado por May, formado na sequência da demissão de David Cameron após a vitória do Brexit no referendo de 23 de Junho, não terá durado sequer um ano.
A menos de dois meses da ida às urnas, Theresa May parte claramente como favorita. Na última sondagem realizada pela YouGov, realizada a 12 e 13 de Abril, os Conservadores surgem com 44% das intenções de voto, a larga distância dos Trabalhistas (23%). Os liberais democratas recolhem 12%, dois pontos à frente dos independentistas do UKIP.
Latest Westminster voting intention (12-13 Apr)
— YouGov (@YouGov) April 17, 2017
Con - 44%
Lab - 23%
LD - 12%
UKIP - 10%
Oth - 10%https://t.co/yf3kP5CntS pic.twitter.com/ErC8Gi8AmL
E quando questionados sobre quem seria a melhor pessoa para ocupar o cargo de primeiro-ministro, os britânicos escolhem a actual ocupante do cargo com uma diferença ainda mais larga. Theresa May é a opção de 50% dos inquiridos, enquanto o líder dos trabalhistas, Jeremy Corbyn, recolhe apenas 14% das preferências. Mais de um terço (36%) não apontou o candidato preferido.
"Isto pretende obter duas coisas. Por um lado, que a primeira-ministra tenha o seu próprio mandato sem os constrangimentos ligados às promessas eleitorais de 2015, que causaram dificuldades nas últimas semanas. Por outro lado, é quase certa uma tentativa do governo aumentar a sua maioria parlamentar, antes que cheguem as más notícias da economia (aumento da inflação e esmagamento dos salários reais incomes). (...) Mas, apesar do actual ruído, é improvável que mude os termos do debate do Brexit," refere o Commerzbank numa nota divulgada esta terça-feira.
Quando, posteriormente ao referendo, se posicionou para suceder a David Cameron à frente do Partido Conservador e do governo, Theresa May afastou por diversas vezes a possibilidade de convocar eleições antecipadas, o que acabou no entanto por acontecer esta terça-feira.
O anúncio foi feito em Downing Street, à porta do número 10, residência oficial do primeiro-ministro, cerca de uma hora depois de ter sido avançado que May falaria, o que causou apreensão nos mercados. E bastaram poucos minutos para a libra sofrer uma forte queda face ao dólar e assim contrariar os ganhos conseguidos anteriormente, a rondar os 0,3%, que tinham situado a cotação num valor máximo de oito semanas.
O Reino Unido está actualmente a iniciar o processo de negociações com as autoridades europeias visando a saída do país da União Europeia, decidido em referendo a 23 de Junho do ano passado pela maioria dos eleitores.
(Notícia actualizada às 13:08 com mais informação)