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Mau Brexit pode cortar até um quarto das exportações portuguesas para o Reino Unido
As exportações encolhem, o investimento directo estrangeiro que entra em Portugal também e as remessas de emigrantes diminuem. Portugal não está entre os países mais afectados, mas sofre com o Brexit.
As vendas de bens e serviços portugueses para território britânico poderão vir a encolher, no médio prazo, até 26%, dependente do relacionamento comercial futuro que for estabelecido entre o Reino Unido e a União Europeia. A conclusão consta do estudo "Brexit - As consequências para a economia e as empresas portuguesas", encomendado pela CIP e apresentado esta quarta-feira, 31 de Outubro.
O estudo realizado pela Ernest & Young e Augusto Mateus Associados reconhece que Portugal estará na segunda linha do impacto de um hard Brexit, com outros países a serem mais afectados do que a economia portuguesa. Contudo, avisa que os efeitos não devem ser negligenciados porque o potencial para danos significativos está lá.
Desde logo, só pelo abrandamento esperado para a economia britânica, é de antecipar uma quebra das exportações portuguesas entre 1,1% e 4,5%, uma redução dos fluxos de investimento directo estrangeiro dirigidos a Portugal na ordem dos 0,5% a 1,9%, e ainda um corte nas remessas de emigrantes, que pode variar entre os 0,8% e os 3,2%.
Depois, "a médio-prazo, a alteração do quadro de relacionamento entre o RU e a UE encerra um risco forte para as exportações de bens e serviços portuguesas, que pode resultar em reduções potenciais das exportações globais entre cerca de 15% e 26%, dependendo do tipo de relacionamento comercial futuro que vier a ser estabelecido", lê-se no relatório, que lembra que o Reino Unido é o quarto mercado de destino das exportações portuguesas de bens, e o primeiro nas exportações de serviços.
Produtos informáticos e automóveis entre os mais afectados
Tal como explica o documento, o impacto do Brexit não se fará sentir de igual forma em todos os tipos de produtos. Há bens e serviços mais expostos ao risco do que outros, na medida em que mais facilmente podem acabar por ser substituídos por fornecedores de outras geografias quando o Reino Unido sair da União Europeia.
Os produtos que correm mais risco são os informáticos, electrónicos, ópticos, equipamento eléctrico, veículos automóveis, reboques e semirreboques.
Num segundo nível e risco ainda médio alto, destacam-se os produtos alimentares, bebidas, tabaco, têxteis, vestuário, couro, papel e cartão, produtos farmacêuticos, artigos de borracha, metais de base, máquinas e equipamentos, mobiliário.
"A generalidade dos produtos que enfrenta um risco médio alto e elevado de sensibilidade aos impactos do Brexit são produtos para os quais o efeito de desconstrução associado ao Brexit e ao novo quadro de relacionamento do Reino Unido com as diversas economias se pode traduzir na capacidade de outros países fora da UE ganharem quotas de mercado em termos relativos no Reino Unido em detrimento das exportações portuguesas", concretiza o relatório.
Já em termos de impactos regionais, o Alto Minho, Cávado, Ave e Tâmega e Sousa são as regiões onde o risco é maior, "face à sua especialização produtiva", conclui o estudo. De seguida, destacam-se Terras de Trás-os-Montes, Área Metropolitana do Porto e Beiras e Serra da Estrela.
"Ao nível dos serviços, a Área Metropolitana de Lisboa, Algarve e Madeira são as regiões com maior exposição ao risco. A Área Metropolitana do Porto e a Região de Coimbra surgem também sinalizadas pelo exercício realizado", indica o relatório.
Mas também há oportunidades
Apesar do cenário de risco elevado, o estudo encomendado pela CIP nota que também há oportunidades que poderão compensar os riscos, para alguns destes produtos. É o caso dos automóveis ou dos produtos farmacêuticos, "que podem beneficiar da perda de posição concorrencial dos produtores britânicos no mercado Europeu para os substituir nesse mercado compensando assim parte dos riscos que enfrentam no mercado britânico."
Além disso, há uma relação histórica entre a economia portuguesa e a britânica que pode vir a mitigar as piores consequências do Brexit, "seja permitindo a exploração de oportunidades de substituição da posição de outros estados membros da União Europeia no mercado britânico no pós-Brexit, seja afirmando Portugal como o parceiro privilegiado do Reino Unido", lê-se no relatório.