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As voltas que von der Leyen terá de dar para continuar a liderar a Europa
A recente abertura manifestada pela dirigente política alemã a uma eventual colaboração com o Grupo dos Conservadores e Reformistas fez soar os alarmes.
Apontada como favorita à corrida à presidência da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen enfrenta um trajeto difícil até à sua eventual (re)eleição pelo Parlamento Europeu, onde precisa de garantir uma maioria longe de estar assegurada.
A menos de um mês das eleições europeias, que decorrerão nos 27 Estados-membros da União entre 6 e 9 de junho, a "candidata principal» oficial (‘spitzenkandidat’) do Partido Popular Europeu (PPE), tem condições para conseguir um segundo mandato.
Todas as sondagens apontam para nova vitória da família de centro-direita à escala europeia, à frente dos Socialistas europeus, cujo candidato é o luxemburguês Nicolas Schmit.
No entanto, mesmo confirmando-se a anunciada vitória do PPE, Von der Leyen terá de assegurar uma maioria (simples) no ‘novo’ Parlamento Europeu que resultar das eleições, que se antecipa muito mais fragmentado e com uma presença reforçada da extrema-direita.
A recente abertura manifestada pela dirigente política alemã a uma eventual colaboração com o Grupo dos Conservadores e Reformistas (ECR) – que inclui partidos radicais como o Vox (Espanha), o Lei e Justiça (PiS, Polónia), o Reconquista (França) e os Irmãos de Itália – fez soar os alarmes nas famílias políticas europeias de centro-esquerda.
Socialistas, Liberais, Verdes e Esquerda Europeia já avisaram que não apoiarão a sua recandidatura se houver qualquer tipo de aliança com a direita radical, o que inviabilizaria a sua eleição.
Em julho de 2019, Ursula von der Leyen, mesmo com o apoio das três maiores bancadas do Parlamento Europeu saído das eleições de maio desse ano – PPE, Socialistas e Liberais -, só conseguiu a eleição por uma margem de nove votos entre 733 expressos, ao receber 383 votos a favor, 327 contra, 22 abstenções e um voto nulo.
Ironicamente, Von der Leyen só conseguiu ser eleita graças aos votos a favor de muitos deputados do partido polaco PiS (então no poder) e do Fidesz, do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, algo que certamente não voltará a suceder, depois de, no último mandato, a Comissão ter avançado com procedimentos de infração por violações do Estado de direito em ambos os países.
Este ano, e caso seja designada pelo Conselho Europeu, Ursula von der Leyen enfrenta uma missão aparentemente ainda mais exigente para assegurar a maioria necessária no Parlamento, ou seja, metade mais um dos votos expressos (361).
Descartou qualquer cooperação com o grupo Identidade e Democracia (ID), que inclui, entre outras, forças de extrema-direita como a Alternativa para a Alemanha (AfD), a Liga, de Matteo Salvini (Itália), e o Reunião Nacional de Marine Le Pen (França).
Mas num debate entre os ‘spitzenkandidaten’ realizado no final de abril, não rejeitou, no entanto, trabalhar com o ERC, respondendo que "depende muito da composição do Parlamento e de quem está em que grupo".
Socialistas, Liberais e Verdes já anunciaram que não votarão contra a reeleição da dirigente alemã se esta não rejeitar liminarmente colaborar com o ERC.
De acordo com os Tratados da UE, na eventualidade de o nome proposto pelo Conselho para presidente da Comissão não alcançar a maioria necessária no Parlamento Europeu – algo que nunca sucedeu até hoje -, os chefes de Estado e de Governo dos 27 têm o prazo de um mês para apresentar novo candidato.
Com a sessão constitutiva da nova assembleia agendada para 16 a 19 de julho, a eleição do presidente da Comissão Europeia deverá ocorrer na primeira sessão plenária do Parlamento Europeu após as férias de verão, entre 16 e 19 de setembro.