Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Cavaco Silva apela à responsabilidade dos líderes europeus

O ex-Presidente da República Cavaco Silva apela à responsabilidade dos líderes europeus, admitindo recear, no 25.º aniversário da assinatura do Tratado de Maastricht, a ignorância de alguns em relação "às consequências dramáticas" de uma ruptura da união monetária.

O ex-Presidente da República Cavaco Silva lembrou o antigo chefe de Estado Mário Soares como uma das personalidades mais marcantes do século XX português, sublinhando a sua faceta de 'verdadeiro animal político'. 'A morte do doutor Mário Soares é um momento de profunda consternação para a generalidade dos portugueses. Foi indiscutivelmente uma das personalidades mais marcantes do século XX português', afirmou Cavaco Silva, numa declaração aos jornalistas no Convento do Sacramento, o gabinete de trabalho que ocupa desde que deixou a Presidência da República, em Março de 2016.
Apesar de reconhecer que em alguns momentos da vida política foi um adversário de Mário Soares, Cavaco Silva destacou as suas capacidades de 'verdadeiro animal político'.
'Sempre reconheci as capacidades políticas do doutor Mário Soares, como se dizia, um verdadeiro animal político, como eu tive oportunidade de testemunhar várias vezes', disse.
E, continuou, apesar de adversários em alguns momentos, isso não impediu que tivesse apoiado a sua recandidatura a Belém em 1991 e que elogiasse o seu contributo decisivo para a defesa da liberdade e da democracia.
Contudo, acrescentou, este não é o tempo de lembrar discordâncias do passado, mas de reconhecer a importância do contributo do antigo chefe de Estado para a democracia portuguesa, o trabalho que desenvolveu para a defesa dos ideais democráticos e 'reconhecer quanto Portugal deve ao político Mário Soares'. 'O seu contributo foi decisivo para a defesa da liberdade, para a defesa da democracia em momentos conturbados da vida nacional. O doutor Mário Soares esteve na primeira linha revelando uma coragem extraordinária na defesa da democracia pluralista e lutando contra todas as forças de opressão, de ditadura, de totalitarismo', declarou.
Cavaco Silva, que se encontrava no Algarve e viajou para Lisboa quando teve conhecimento da morte de Mário Soares, lembrou igualmente a visão estratégica revelada pelo ex-Presidente da República sobre a importância para o futuro de Portugal da adesão às comunidades europeias. Por isso, disse, hoje homenageia-se também um 'europeísta convicto, um homem que dedicou a maior parte da sua vida à defesa dos ideais republicanos e dos ideais democráticos'.
'Portugal deve-lhe muito, Portugal está de luto, os portugueses, todos os portugueses estou certo que hoje estão de luto, Portugal perdeu um dos maiores políticos do século XX', afirmou, transmitindo à família de Mário Soares as suas condolências e sentimentos de 'profundo pesar'.
06 de Fevereiro de 2017 às 16:00
  • 10
  • ...

Numa declaração escrita enviada à agência Lusa a propósito da passagem dos 25 anos da assinatura do Tratado de Maastricht, Cavaco Silva diz tratar-se de "um dos mais importantes marcos da história da construção europeia", defendendo que, um quarto de século depois, "as liberdades que são timbre da União devem ser defendidas e proclamadas pelo conjunto das nações europeias, cientes de que a União as faz mais fortes".

 

"Espero que os líderes europeus estejam à altura das suas responsabilidades e correspondam, dessa forma, às expectativas dos cidadãos. Receio, no entanto, a ignorância de alguns deles em relação às consequências dramáticas que uma ruptura da união monetária teria na vida dos cidadãos", sublinha Cavaco Silva, que, a 7 de Fevereiro de 1992, presidiu à cerimónia de assinatura do Tratado de Maastricht na qualidade de presidente do Conselho da União Europeia.

 

Recordando que, nessa cerimónia, alertou para o facto de o tratado que iria ser assinado representar "o começo de um novo ciclo" e não "uma etapa final", Cavaco Silva, que em 1992 desempenhava também o cargo de primeiro-ministro, faz uma retrospectiva das negociações "particularmente duras" então levadas a cabo, com "momentos de tensão e de grande incerteza" quanto à possibilidade de se chegar a um acordo.

 

Mas, lembra, "na Cimeira de Maastricht, a 9 e 10 de Dezembro de 1991, o espírito de solidariedade da construção europeia prevaleceu sobre as divergências".

 

"O Tratado da União Europeia, como passou a designar-se, congregou pela primeira vez as vertentes económica, monetária e política. A grande novidade foi a instituição da união monetária, que viria a tornar-se uma realidade na vida dos cidadãos europeus em Janeiro de 1999 com a criação da moeda única. Um passo de gigante do processo de integração europeia. Uma verdadeira revolução", relata o antigo Presidente da República.

 

Portugal, conta, conseguiu naquela negociação a criação de um novo fundo de coesão para financiar projectos nas áreas do ambiente e das redes transeuropeias, para além do reforço dos fundos estruturais.

 

"Num tempo em que a 'espuma dos dias' ocupa grande parte da atenção, é difícil recordar a transformação que Portugal sofreu desde a nossa adesão às Comunidades, em 1986", sublinha.

 

Considerando que Maastricht foi determinante neste processo, "mesmo que não tenham sido evitadas novas crises, seja por políticas erradas seguidas pelos diferentes Estados, seja por deficiente supervisão por parte das instituições europeias", Cavaco Silva reconhece, contudo, que "não se avançou devidamente, como estava previsto, na coordenação das políticas económicas dos Estados-Membros".

 

"Considero um erro assacar às insuficiências de Maastricht e ao Euro a responsabilidade pela crise com que os países da União Europeia se vêm defrontando nos últimos anos. Como afirmei em 1992, o Tratado não era um fim, mas o começo de um novo ciclo", escreve o antigo Presidente da República.

 

Pois, acrescenta, "as dificuldades não terminaram, nem vão terminar" e os "desafios adiante são muitos e as incertezas parecem avolumar-se", com a crise dos refugiados, a falta de crescimento, o terrorismo, os novos proteccionismos, o 'Brexit' ou as alterações climáticas.

 

"Mas é importante recordar sempre que a Europa nunca teve tanto tempo de paz e de prosperidade como este que conhecemos nas últimas seis décadas. Cabe por isso aos líderes de hoje permanecerem firmes na defesa dos ideais europeus - os valores de uma sociedade tolerante e humanista, onde cada um possa viver em segurança e respeito mútuo", defende.

Ver comentários
Saber mais Tratado de Maastricht Cavaco Silva Presidente da República Tratado da União Europeia Maastricht União Europeia
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio