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Paulo Portas: "Os europeus perceberam que não há paz sem defesa"

"Pagamos 800 milhões de euros por dia à Rússia em combustíveis, armamos e financiamos os ucranianos e depois pedimos aos Estados Unidos que nos venham defender", criticou Paulo Portas, ex-ministro e ex-líder do CDS. "Bruscamente, a nossa vida mudou", notou.

Pedro Catarino / Cofina Media
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"Os europeus perceberam que não há paz sem defesa", frisou esta quinta-feira o ex-ministro e antigo líder do CDS-PP, Paulo Portas. Numa intervenção sobre as consequências da guerra na Ucrânia, deu nota do que "bruscamente mudou", das certezas que a Europa perdeu, e do novo enquadramento económico com que os Estados, as empresas e as famílias vão ter de aprender a viver.

Paulo Portas falava na Grande Conferência Negócios 20|30 e Cerimónia de Entrega do Prémio Nacional de Sustentabilidade, uma iniciativa lançada pelo Jornal de Negócios. O ex-governante assinalou as várias certezas com que os europeus contavam antes da invasão russa da Ucrânia, e que agora se perderam. "Mudou a certeza dos europeus sobre a paz, uma certeza provavelmente otimista, quase perpetua do ponto de vista da vontade, com memória", frisou, assegurando que "este foi o primeiro mito que caiu."

O ex-presidente do CDS argumentou que Vladimir Putin avançou para a invasão da Ucrânia por conhecer a fragilidade da defesa da Europa e isso agora mudou a perceção dos europeus sobre as ameaças. A guerra decorre à beira da União Europeia e se Putin alcançar os seus objetivos, "a Rússia avançará até às fronteiras da UE", notou. Na avaliação de Portas, a UE percebeu agora que o mundo não se poderá ordenar através do "soft power" e que tem uma fragilidade "enorme", assente em dois pilares: "a energia e a defesa".

Com esta guerra, "a Alemanha ficará irreconhecível" porque ficará mais armada e terá de resolver "a sua fragilidade exposta ao mundo", o facto de "por não ser livre na energia, não ser livre de decidir". França ficou como "a única potência que Putin respeita" por ser "o único país da Europa que tem a arma nuclear". Os nórdicos vão iniciar processo para entrar na NATO, acrescentou, e o epicentro da Europa mudou para leste, defendeu.

Além disso, "mudou o vínculo transatlântico", com a Nato a ganhar "uma nova vida" e mudou ainda "a perceção internacional sobre a China", que "é de longo o bloco económico menos impactado". 

Perante todas estas mudanças, argumentou Paulo Portas, "o urgente invadiu as nossas circunstâncias". O ex-governante reconheceu que é essencial fazer a transição energética, mas defendeu que "não pode ser feita de qualquer forma" e que agora, com a necessidade urgente de libertar a Europa da dependência energética, algumas formas de energia menos limpas, como o carvão, ou com outro tipo de problemas, como o nuclear, prolongaram a sua vida. 

"Pagamos 800 milhões de euros por dia à Rússia em combustíveis, armamos e financiamos os ucranianos e depois pedimos aos Estados Unidos que nos venham defender. Recomendo que cortemos o laço da dependência energética e não o da aliança transatlântica", frisou Portas.

Paulo Portas deixou ainda alguns avisos. Primeiro, a globalização precisa de governança política, de instituições internacionais fortes e não das Nações Unidas, "que metem dó de ineficácia". Depois, será preciso aprender a viver numa nova "trilogia" de inflação, juros e dívida.
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