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Mário Soares: “Teremos grandíssimas dificuldades” para ultrapassar a crise
O ex-presidente da República, Mário Soares, entende que a actual situação política e económica na Europa não favorece a saída da crise, ao contrário do que aconteceu em 1985.
Temos de encarar esta crise como uma crise que está aqui”, afirmou Mário Soares. “Infelizmente, eu que sou um optimista, neste momento tenho que ter o realismo suficiente para vos dizer que é muito difícil o que se pode passar na Europa e que teremos grandíssimas dificuldades para ultrapassar isto”, observou.
A inquietação de Mário Soares está ligada aos problemas económicos do País mas também aos problemas políticos entre os 27 estados-membros. “Os partidos nacionais que estão no poder são todos de extrema-direita e nacionalistas, e isso é de uma gravidade espantosa em relação à União Europeia”, destacou Mário Soares. Em contraste, foi a existência de governantes de esquerda que permitiu a Portugal e Espanha progredirem tanto nos primeiros anos após a entrada na União Europeia.
Nessa altura, em 1985-1986 “tivemos a grande vantagem de termos todos os grandes líderes do tempo como socialistas, e [de eles terem] sentido as nossas reivindicações como algo que lhes pertencia. Se tivéssemos uma situação como a que hoje existe nos partidos europeus, em que não há nem socialistas nem democratas-cristãos, só há neoliberais, não teríamos conseguido”, projectou Soares.
Líderes como o sueco Olof Palme ou o francês François Mitterrand “tinham alegria extraordinária e solidariedade absoluta em relação aos nossos dois países, e foi isso que permitiu que andássemos realmente depressa”. Uma solidariedade que, no entender do ex-presidente, não existe agora.