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Governo Letta recebe voto de confiança depois de reviravolta à italiana

Enrico Letta obteve larga margem de apoio à moção de confiança ao seu Governo, inesperadamente apoiado por Berlusconi, que ao perceber que não poderia ganhar preferiu não perder. Movimento 5 Estrelas demonstra cada vez maiores divisões internas.

Bloomberg
02 de Outubro de 2013 às 17:49
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A moção de confiança levada ao Senado, por Enrico Letta, primeiro-ministro italiano, conseguiu 235 votos favoráveis contra apenas 70 votos negativos. Esta quarta-feira deu-se mais um volte face, numa reviravolta cada vez mais habitual quando se trata da política interna transalpina, especialmente quando Silvio Berlusconi, antigo primeiro-ministro, está envolvido.

 

No domingo, Letta e Giorgio Napolitano, Presidente italiano, acordaram sobre a apresentação de uma moção de confiança ao Executivo, como resposta à demissão dos cinco ministros do PdL, de Berlusconi, que pretendia retirar a base de sustentação parlamentar ao Governo e provocar a sua queda.

 

Na segunda-feira, a continuidade do executivo de Letta estava em causa, depois do “Cavaliere” afirmar a união do partido em torno da sua figura.

 

Já na terça-feira, Angelino Alfano, número dois do partido e antigo delfim do “Cavaliere”, rebelou-se contra Berlusconi e pediu aos elementos do PdL para apoiarem o Governo de Letta e assim garantirem a imprescindível “estabilidade política”.

 

Esta quarta-feira esperava-se uma votação renhida e de resultado imprevisível, mas no final deu-se uma vitória clara de Letta, que viu a sua legitimidade política reforçada.

 

Quando Berlusconi entrou no Senado, já decorria a intervenção do primeiro-ministro. Disse somente que iria “ouvir Letta e depois decidir”. O primeiro-ministro, como se esperava, fez uma declaração sustentada na dramatização que a queda do Governo inspirava.

 

Mas Berlusconi, que surgiu com um ar fatigado que nem a habitual teatralização conseguiu disfarçar, já tinha decidido votar favoravelmente à continuidade do executivo de Letta. Depois de Alfano ter pedido aos senadores do PdL para votarem a favor de Letta, entre 23 a 40 poderiam dissidir das directrizes do “Cavaliere”, o que significaria a derrota e o provável enterro político de Berlusconi.

 

Incapaz de vencer, Berlusconi decidiu não ser derrotado e tentar comprar algum tempo. “Tendo em conta que Itália carece de um Governo que introduza reformas institucionais e estruturais decidimos, não sem trabalho interno, pelo voto de confiança”, resumiu o antigo primeiro-ministro.

 

Nos próximos dias será votada a expulsão de Berlusconi do cargo de senador, ao abrigo da “Lei Severino”. Se Berlusconi for expulso perderá a imunidade parlamentar, o que o obrigará a cumprir a pena de um ano de prisão domiciliária, decorrente do processo “Mediaset” no qual foi condenado a quatro anos de prisão.

 

A reforçada legitimidade do executivo não expele as dúvidas e a cisões que se verificam no Parlamento e no Senado. O PdL é uma incógnita. Ninguém pode colocar de parte uma eventual implosão proporcionada pela autonomização de Alfano, que surge agora como o grande apoiante de Letta, e que tem como ulterior pretensão ocupar o lugar de Berlusconi como líder do centro-direita italiano.

 

Contudo também o Movimento 5 Estrelas de Beppe Grillo mostra que as divisões internas estão para continuar. Paola De Pin, uma dos quatro senadores que se independentizaram do 5 Estrelas, decidiu votar a favor de Letta e acusou os “Grillianos” de “traírem os eleitores que pediam mudanças, impedindo o diálogo com qualquer outra força política” e de ajudarem as manobras de Berlusconi e dos seus “problemas pessoais com a justiça”.

 

Letta, no final da votação, agradeceu o apoio da senadora De Pin e lembrou aos elementos do 5 Estrelas, que tinham insultado e assobiado durante a intervenção da senadora, que “o respeito pela liberdade pessoal é a base da democracia”. O primeiro-ministro avisou o partido de Berlusconi de que “Itália precisa que acabem os recados” e esclareceu que “não existe uma coligação entre a Justiça e o Governo”.

 

Por fim Enrico Letta prometeu que o futuro do Governo irá assentar numa “maioria política coesa” mesmo que diferente da maioria “numérica que se manifestou hoje [quarta-feira] no Senado”.

 

Nos próximos dias ver-se-á uma provável remodelação no Executivo, mas as maiores expectativas recaem na eventual implosão do PdL, nas crispações internas do movimento de Beppe Grillo e na definição do futuro de Berlusconi, personagem cuja execução política já foi várias vezes decretada mas, fruto de várias manobras políticas, sempre adiada.

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