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Draghi mais perto de governar com apoio de "maioria Ursula"

O antigo presidente do BCE está ainda no início do processo que o poderá levar à chefia de um governo de emergência em Itália, no entanto ganha força a perspetiva de Mario Draghi tomar posse e governar com o apoio parlamentar das forças que votaram pela eleição de Von der Leyen - "maioria Ursula". Liga e 5 Estrelas enfrentam escolhas difíceis e definidoras.

BCE
David Santiago dsantiago@negocios.pt 04 de Fevereiro de 2021 às 19:34
Mario Draghi iniciou esta quinta-feira a ronda de consulta aos partidos que apenas termina no sábado e que é determinante para se perceber se o antigo presidente do Banco Central Europeu reúne, ou não, o mínimo de apoios necessários a tomar posse como líder de um governo de emergência nacional.

É certo que os encontros de hoje foram realizados com as forças políticas menos representadas no parlamento transalpino – o que não significa que não possam ser relevantes na hora de determinar se Draghi assume o poder -, mas foram surgindo sinais ao longo da jornada que apontam para que o pretendido executivo de "alto perfil" possa beneficiar do apoio da chamada "maioria Ursula".

A imprensa italiana recorda que foi esse o conjunto de partidos que, em 2019, votaram a favor da eleição de Ursula von der Leyen como presidente da Comissão Europeia: o PD (centro-esquerda, a que agora se junta o Itália Viva de Matteo Renzi pois resultou de uma cisão posteriormente concretizada), o Força Itália (centro-direita) de Silvio Berlusconi e o Movimento 5 Estrelas (antisistema).

Tanto Nicola Zingaretti, sectetário-geral do PD, como Matteo Renzi, líder do Itália Viva, deram já indicação de abertura para apoiarem um governo liderado por Draghi. O mesmo deverá acontecer com o Livres e Iguais, um pequeno partido que até aqui integrava a maioria que apoiava o segundo governo do primeiro-ministro demissionário, Giuseppe Conte.

Já esta quinta-feira, o senador Renato Schifani (Força Itália) garantiu que a "linha" de atuação preconizada por Berlusconi assenta na "responsabilidade", uma declaração para ser lida como indicativa de apoio a Draghi.

5 Estrelas e Liga com decisões difíceis pela frente
A "maioria Ursula" só poderá concretizar-se se o Movimento 5 Estrelas (partido com maior representação parlamentar) estiver a bordo, mas os "grillistas" persistem muito divididos. Uma fação composta por alguns dos elementos mais seniores e relevantes do partido defende um governo político e rejeita a ideia tecnocrata inerente a um executivo com Mario Draghi.

Outra, protagonizada pelo ex-líder e ainda ministro dos Negócios Estrangeiros, Luigi Di Maio, apela à "maturidade" deste jovem partido, embora frisando que só aceitará um "governo político" - foi esta exigência de Di Maio e de outras forças que já levou Draghi, segundo o La Stampa, a prometer um "governo híbrido", composto por políticos e técnicos.

A escolha é complexa para o 5 Estrelas, pois se viabilizar um governo de Draghi poderá ter de engolir três "sapos", como realça o Il Sole 24 Ore: teria de ficar lado a lado com Renzi; apoiar um governo com os detestados tecnocratas; e participar de uma solução que também contaria com Berlusconi. Mas se ficar de fora da futura solução governativa, arrisca passar a imagem de partido inconsciente e incapaz de participar de consensos em nome da estabilidade política, económica e social.

As contas não são fáceis de fazer. Mas para recolher o apoio maioritário dos 315 membros do Senado (câmara alta) e dos 630 da câmara baixa, Mario Draghi precisará sempre assegurar os votos favoráveis ou a abstenção dos elementos do 5 Estrelas. Caso contrário, precisará dos votos a favor ou da abstenção dos senadores e deputados da Liga (extrema—direita) de Matteo Salvini que, por seu turno, já avisou o economista Draghi que terá de escolher entre o apoio do seu partido e o suporte do 5 Estrelas.

Inicialmente, Matteo Salvini foi muito duro perante a hipótese de um executivo liderado por Draghi, preferindo a ida a eleições antecipadas (a Liga lidera as sondagens) apesar do contexto recessivo e pandémico. Todavia, como explicou o professor da Universidade La Sapienza, Gianluca Passarelli, ao Financial Times, "Salvini está a ser forçado" a apoiar Draghi porque o mundo dos negócios é muito favorável ao antigo líder do BCE.

Mas, por outro lado, Salvini sabe que se apoiar Draghi abrirá caminho para o reforço de Giorgia Meloni e do seu Irmãos de Itália (direita radical e nacionalista), o que poderia ameaçar a primazia da Liga à direita.

Esta sexta-feira, Mario Draghi vai reunir-se, entre outros, com o PD e o Força Itália, ficando para sábado os encontros com o 5 Estrelas e a Liga.

Nas reuniões desta quinta-feira, e de acordo com as informações avançadas pela imprensa transalpina, Draghi prometeu "sabedoria e inteligência" no aproveitamento dos recursos financeiros assegurados pelo fundo de recuperação da União Europeia, que coloca 209 mil milhões de euros à disposição de Itália.

A demora na elaboração do plano nacional de recuperação que Roma tem de remeter para Bruxelas e os sinais de clientelismo inscritos no documento serviram de pretexto para Matteo Renzi retirar o apoio a Conte e precipitar a queda do governo.

O que precisa Draghi para governar? Após dialogar com todos os partidos, o economista precisa assegurar a confiança das duas câmaras do parlamento italiano. É por essa razão que Mario Draghi aceitou a incumbência de formar governo, que lhe foi atribuída pelo presidente de Itália, Sergio Matarella, "com reserva". Isto porque precisa, em primeiro lugar, avaliar se dispõe de condições (leia-se apoio parlamentar) para formar governo.

Se as consultas correrem bem a Draghi, o economista apresenta a Matarella a lista de ministros e confirma estar pronto para liderar o governo. Aí, o presidente transalpino nomeia Draghi primeiro-ministro em exercício e, num prazo de 10 dias, o antigo presidente do BCE tem de apresentar o seu programa de governo nas duas câmaras parlamentares e passar moções de confiança.

Já se Mario Draghi não conseguir recolher os apoios necessários, o economista comunica a Matarella a renúncia à incumbência de formar governo. Nesse caso, o presidente fica perante três cenários: atribuir a responsabilidade de formar governo a outra personalidade; promover a votação de nova moção de confiança ao governo demissionário (o executivo ainda liderado pelo independente Conte); ou dissolver o parlamento e convocar eleições antecipadas.
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