Notícia
Crise política em Itália provoca medo nas instituições europeias
A expectativa e as dúvidas decorrentes de mais uma situação de completa indefinição política em Itália causam grande preocupação junto das instituições europeias. Rehn avisa que “está muito em jogo para toda a União Europeia”.
As reacções à crise política em Itália e à possível queda do Governo liderado por Enrico Letta fizeram com que surgissem as primeiras reacções de alguns líderes europeus. Depois de na passada segunda-feira Angela Merkel, chanceler da Alemanha, ter pedido a “estabilidade necessária”, esta terça-feira multiplicam-se as afirmações temerosas quanto ao cenário transalpino.
O diário “La Repubblica”, cita Olli Rehn, comissário para os assuntos económicos da União Europeia: “Não quero intrometer-me na política interna italiana, mas ao mesmo tempo é bom que saibamos que está muito em jogo para toda a União Europeia”, avisou. “A recuperação iniciada é frágil e seria afectada com a instabilidade política, com riscos não apenas para Itália, mas para toda a Zona Euro”, concluiu Rehn.
Ainda mais pessimista foi a reacção do presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, ao considerar que a “queda do Governo [italiano] criaria uma enorme turbulência sobre os mercados financeiros, não apenas em Itália, mas em toda a Europa”. Em relação aos elementos do PdL que possam votar favoravelmente a moção de confiança que Letta vai apresentar esta quarta-feira, Schulz salienta que “quem está com Letta é gente responsável” e que seria “inaceitável que a política inteira de um país se possa reduzir aos interesses de uma pessoa”, em clara referência a Silvio Berlusconi, antigo primeiro-ministro de Itália.
A OCDE também se pronunciou pela voz do seu secretário-geral, Angel Gurria, que teme pela recuperação económica italiana. “A OCDE mantém que Itália está a recuperar” mas a “actual instabilidade política não ajuda a este caminho”, resume Gurria.
Política Interna
Esta quarta-feira será votada, no Parlamento, uma moção de confiança ao Executivo liderado por Letta, que entretanto viu sair do seu Governo os cinco ministros afectos ao PdL de Berlusconi. Neste momento não é líquido qual o resultado que sairá da votação desta quarta-feira. Depois de esta segunda-feira Berlusconi se ter reunido com os seus correligionários no partido, e ter garantido a união em torno da sua decisão de não apoiar Letta, esta terça-feira, Angelino Alfano, actual número dois do PdL e outrora considerado o delfim do “Cavaliere”, afirmou, segundo a Lusa, que o partido “deve votar a favor de Letta”. "Temos pessoas suficientes, somos mais de 40 e estamos determinados em manter o equilíbrio do Governo. Portanto, apoiaremos a moção de confiança", afiançou.
Porém a incerteza é grande. Daniela Santanchè, braço direito de Berlusconi no PdL, de acordo com o jornal “Corriere della Sera” assegura que a pretenção de Alfano passa pelo afastamento dela própria dos órgãos dirigentes do partido. “Resulta que [Alfano] pediu a minha cabeça para manter a unidade do PdL-Forza Italia (…) portanto ofereço espontaneamente a minha cabeça numa bandeja porque a única coisa que me interessa, para o bem dos eleitores e de Itália, é que a bandeja não acabe a servir a cabeça do presidente Berlusconi”, esclareceu Santanchè.
Só esta quarta-feira se poderá confirmar a efectiva dissidência dos elementos do PdL próximos de Alfano. A continuidade de Letta depende da votação de amanhã. Todavia, mesmo que o PdL vote de forma unânime contra Letta, a desagregação do partido poderá ser uma realidade. Há já alguns dias que Berlusconi vem dando força à possibilidade de autonomização do Forza Italia, o partido com que o “Cavaliere” entrou na vida política italiana nos idos anos 90. Por outro lado Alfano parece querer assumir a posição de Berlusconi no cenário político italiano, aproveitando um momento de maior fragilidade daquele.