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Companhias evitam espaço aéreo da Bielorrússia. EUA e Europa criticam detenção de jornalista

Companhias como a airBaltic ou a Wizz Air estão a evitar o espaço aéreo da Bielorrússia, após um avião da Ryanair ter aterrado de emergência em Minsk, resultando na detenção de um jornalista crítico do regime de Lukashenko. Tanto os líderes europeus como os EUA já criticaram a ação da Bielorrússia, pedindo sanções e a libertação do jornalista de 26 anos.

ANDRIUS SYTAS
24 de Maio de 2021 às 12:05
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O desvio de um avião da companhia low-cost Ryanair, que partiu da Grécia este domingo com destino a Vilnius, na Lituânia, está a ser fortemente contestado pelos líderes europeus e pelas entidades norte-americanas. Esta situação, que terá representado uma violação sem precedentes aos protocolos aéreos que vigoram na Europa, resultou na detenção de um jornalista de 26 anos, Raman Pratasevich, crítico do regime do Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko. Aos olhos das autoridades do país, Pratasevich é visto como um dissidente. O jornalista era um dos 171 passageiros a bordo do voo da companhia aérea irlandesa.

A pedido das autoridades da Bielorrússia, o avião da Ryanair foi obrigado a aterrar no aeroporto Minsk, a capital da Bielorrússia, já na noite deste domingo. De acordo com as agências internacionais, a justificação para esta aterragem terá sido uma ameaça de bomba.

Mas, de acordo com os restantes passageiros do avião, que prestaram declarações à Bloomberg, toda a operação teria como alvo o jornalista crítico do regime. Pratasevich foi o editor-chefe de um dos mais populares canais noticiosos da aplicação Telegram, o "Nexta", onde criticava o regime de Lukashenko, principalmente após as eleições no verão do ano passado. As eleições que reconduziram Lukashenko motivaram protestos na Bielorrússia, que foram amplamente cobertos pelo jornalista, e foram também criticadas pelos líderes europeus. A União Europeia, por exemplo, não reconheceu os resultados das eleições presidenciais de 9 de agosto. Na altura, as críticas de Bruxelas chegaram inclusive com um aviso sobre a imposição de sanções a algumas figuras do regime "responsáveis pela violência, repressão e fraude eleitoral" na Bielorrússia.

Desde novembro que Pratasevich vivia na Lituânia, já que na Bielorrússia é procurado pelas autoridades, acusado de terrorismo.

As agências internacionais referem que as autoridades da Bielorrússia terão pedido ao voo FR4978 da Ryanair para aterrar no aeroporto mais próximo. Mas, segundo o site FlightRadar, que mostra vários dados sobre o voo, o avião estaria já mais próximo da Lituânia do que da Bielorrússia. Como é possível ver pela imagem, Vilnius estava já mais próxima do que Minsk. À chegada, Pratasevich foi detido pelas autoridades da Bielorrússia.




De acordo com os relatos dos passageiros, feitos à Bloomberg, assim que percebeu que o avião seria desviado para a Bielorrússia, Pratasevich ficou "muito agitado" e terá "tentado tirar o computador, explicando que tudo estava a acontecer por causa dele". "Virou-se para os outros passageiros que falaram com ele e disse que enfrentava a pena de morte", indicou Monika Simkiene, uma da passageiras a bordo, à Bloomberg.

Só cerca de sete horas após aterrar em Minsk é que o avião da Ryanair chegou a Vilnius, o destino que era o objetivo inicial. A namorada do jornalista detido terá sido revistada; ainda que o regresso ao voo tenha sido permitido, Sofia Sapega terá preferido ficar em Minsk, de acordo com as autoridades oficiais da Lituânia, que disponibilizaram um comunicado sobre o assunto.

Ryanair criticou situação e companhias desviam voos
Ao longo da manhã desta segunda-feira têm-se sucedidos reações aos procedimentos das autoridades da Bielorrússia. Através de comunicado, a Ryanair, a empresa dona do avião desviado, criticou o sucedido.

"Isto foi um caso de sequestro patrocinado por um estado", disse Michael O’Leary, CEO da Ryanair, em declarações à rádio RTE. A empresa terá ainda de prestar declarações detalhadas tanto à NATO como às entidades da União Europeia. O CEO da low-cost avançou também que tanto os passageiros como a tripulação do avião desviado foram recebidas por agentes armados.

"Acreditamos também que havia alguns agentes do KGB que saíram da aeronave", avançou O’Leary. De acordo com o comunicado da Lituânia, além de Pratasevich e da namorada, mais quatro pessoas terão ficado também em Minsk.

Também à Rádio RTE, o ministro dos Negócios Estrangeiros irlandês, Simon Coveney, apontou que isto "é efetivamente um ato de pirataria aérea, patrocinada por um Estado". Este governante pediu ainda uma resposta "clara, dura e que aconteça rapidamente" por parte da União Europeia.

Algumas companhias aéreas, coo é o caso da Wizz Air, a maior low-cost europeia, ou ainda a AirBaltic estão a evitar o espaço aéreo da Bielorrússia. No caso da Airbaltic, a companhia aérea da Letónia, o ministro dos Transportes do país, Talis Linkaits, indicou que "por agora" o espaço aéreo da Bielorrússia vai ser evitado. Além da Letónia, também a Lituânia já vincou que o espaço aéreo da Bielorrússia deverá ser considerado como inseguro, sugerindo que este fique vedado aos voos internacionais.

União Europeia pondera sanções adicionais
Este incidente internacional decorre num momento em que os líderes europeus têm na agenda uma reunião do Conselho Europeu. A detenção do jornalista crítico do regime de Lukashenko já foi criticada pelas autoridades europeias, que estarão a ponderar medidas adicionais.

Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, já sublinhou que os líderes europeus "vão discutir este incidente sem precedentes" na reunião, frisando que esta ação da Bielorrússia "não poderá ficar sem consequências".

Entre as consequências poderá estar a suspensão de todos os voos de companhias aéreas para a Bielorrússia ou ainda a suspensão de todo o trânsito, incluindo as viagens terrestre. No entanto, esta opção poderá aumentar os custos para as empresas europeias, o que deverá motivar Bruxelas a adotar medidas mais simples, refere uma fonte à Bloomberg.

Através do Twitter, Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia, considerou como "ultrajante e ilegal" o comportamento da Bielorrússia, pedindo a "libertação imediata do jornalista Roman Protasevich".



A ação da Bielorrússia foi também criticada por países como a vizinha Polónia, que propõe novas sanções contra o governo de Lukashenko.

Também Portugal criticou o desvio do avião da Ryanair. Através da conta de Twitter, o ministério dos Negócios Estrangeiros pede a libertação imediata do jovem jornalista. "A aterragem forçada hoje na Bielorrússia de um avião europeu, em rota entre duas capitais da União Europeia, é inaceitável e merece a nossa firme condenação. Exigimos a libertação imediata de Roman Protasevich. O Conselho Europeu discutirá este assunto amanhã."


As críticas chegam também da NATO. "Isto é um incidente sério e perigoso, que requer investigação internacional", escreveu Jens Stoltenberg, secretário da NATO no Twitter.

A embaixadora dos Estados Unidos na Bielorrússia, Julie Fisher, escreveu também na rede social Twitter que a situação era "horrenda", especialmente devido à suposta ameaça de bomba a bordo, que assustou os passageiros. "Lukashenka e o seu regime mostraram mais uma vez o seu desdém pela comunidade internacional e os seus cidadãos. Fingir uma ameaça de bomba e enviar MiG-29 para forçar a Ryanair para [aterrar em] Minsk para prender o jornalista da Nexta com acusações motivadas por política é perigoso e horrendo".

Rússia defende Bielorrússia
A Rússia está a desvalorizar as críticas feitas pelo bloco europeu e pelos Estados Unidos. "É chocante que o Ocidente estava a classificar este incidente no espaço aéreo como chocante", escreveu Maria Zakharova, uma porta-voz do ministro russo dos Negócios Estrangeiros.

Também um senador russo defendeu a ação da Bielorrússia. Citado pela Bloomberg, Vladimir Dzhabarov, indicou que "formalmente, havia uma ameaça de bomba, portanto foi tudo feito da forma correta".

"Não vejo nada de invulgar ou inaceitável nas ações das autoridades da Bielorrússia", acrescentou.

Reino Unido pede a companhias para evitarem espaço aéreo
Já esta tarde, o secretário de Estado para os Transportes do Reino Unido, Grant Shapps, escreveu no Twitter que o Governo britânico instruiu o regulador britânico da aviação para pedir às companhias aéreas que evitem o espaço aéreo da Bielorrússia. "Na sequência do desvio forçado de uma aeronave da Ryanair para Minsk ontem, instruiu a CAA [Autoridade de Aviação Civil do Reino Unido] a pedir às companhias que evitem o espaço aéreo da Bielorrússia para manter os passageiros seguros." 

É ainda indicado que a permissão operacional da Belavia, a companhia de bandeira da Bielorrússia, foi suspensa pelas entidades britânicas. 


(atualizado para incluir declarações do Reino Unido)
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