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Projeto-piloto da semana de quatro dias no Reino Unido foi um “êxito retumbante”

Alguns dos benefícios mais importantes da redução do horário de trabalho foram encontrados no bem-estar dos empregados. Por exemplo, os dados “antes e depois” mostram que 39% dos empregados sentem-se menos stressados, com 71% a manifestarem níveis reduzidos de burnout no final do piloto.

Sendo alguém de fora da empresa, o mediador de recuperação tem uma abordagem diferente no diagnóstico e na negociação.
Istockphoto

É o maior estudo sobre a semana de quatro dias, cujo piloto foi experimentado no Reino Unido e que envolveu 61 empresas e aproximadamente 2900 trabalhadores, tendo tido lugar entre junho e dezembro de 2022. Das empresas participantes, 92% adotaram já este horário semanal reduzido, com vários benefícios assinalados a comprovarem uma melhor performance empresarial. No que respeita aos trabalhadores, 90% afirmaram taxativamente que o seu desejo é continuar no regime de quatro dias semanais, com 15% dos mesmos a assegurar que nenhuma quantia de dinheiro os fará aceitar trabalhar para uma organização que mantenha os cinco dias de trabalho tradicionais


O mais longo projeto-piloto da semana de quatro dias foi desenvolvido pela organização sem fins lucrativos 4 Day Week Global – uma plataforma que defende a ideia da semana de 4 dias como parte integrante do futuro do trabalho – em parceria com o think tank Autonomy, o qual assegura que uma semana mais curta de trabalho deverá constituir um pilar central do nosso futuro económico, contando igualmente com o Boston College e a Universidade de Cambridge.

Durante os últimos cinco anos, a semana de quatro dias passou de uma ideia "absurda" para uma possibilidade real, emergindo como uma das mais estimulantes políticas laborais a ser adotada por várias organizações em todo o mundo. A ideia central – diminuir o horário de trabalho sem perda de remuneração – pode ter tido uma "ajuda" da cultura de burnout dominante – a qual assentava na crença de que trabalhar mais significava trabalhar melhor -, mas na sequência do sucesso de projetos-piloto em todo o mundo, dos resultados extremamente positivos de várias investigações e das mudanças sociais impulsionadas pela Covid, a redução do tempo de trabalho parece ser cada vez mais uma abordagem de "senso comum" aplicada ao mundo do trabalho. Frustrados pelo complexo equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, e mais acostumados aos padrões de trabalho flexíveis trazidos pela pandemia, para muitos empregados e empregadores, a semana de quatro dias acabou por se transformar numa perspetiva mais popular e aliciante no universo empresarial. 

Igualmente significativa é a transição de uma política considerada desejável, para uma política que parece eminentemente realizável. À medida que as vozes de apoio, os programas de investigação e os profissionais no terreno se expandiram, um futuro em que todos nós poderemos trabalhar menos começou a parecer cada vez mais credível. Vários fatores interligados estão a minar o ceticismo existente no que respeita à semana mais curta de trabalho, e o que não passava de uma alternativa atrativa e ideal, mas abstracta, assume-se agora como uma possibilidade plausível e exequível em toda a economia.

De acordo com um editorial publicado no The Guardian há já quatro anos, Will Stronge, um dos fundadores da Autonomy, escreve que os estudos feitos até à altura deitavam por terra dois mitos dominantes: que trabalhar mais horas equivale necessariamente a uma maior produtividade e que o trabalho é necessariamente bom para a sua saúde mental. E, como acrescenta no artigo em causa, "as estratégias para aumentar a produtividade devem enfrentar a realidade de que esta depende não só do número de horas trabalhadas, mas também do bem-estar e da saúde geral da força de trabalho".

Os resultados do estudo agora publicado fazem eco das conclusões de Stronge, para além de apontarem vários outros benefícios relacionados com a semana de 4 dias. Em 2017, o VER dedicou um artigo ao tema, já experimentado em outros países, bem como em 2022, altura em que o governo português anunciou igualmente um projeto-piloto para a redução dos dias semanais de trabalho. 

Relativamente ao estudo do Reino Unido, o projeto-piloto incluiu dois meses de preparação prévia para os participantes, com workshopscoaching, mentores e apoio por parte de empresas que já utilizam este modelo. Adicionalmente, as empresas que participaram no estudo, de diversos setores e dimensões, não foram obrigadas a implementar um tipo específico de redução do tempo de trabalho ou uma semana de quatro dias, desde que a remuneração fosse mantida a 100% e os empregados tivessem uma redução "significativa" das horas trabalhadas. 

Os resultados do relatório baseiam-se em dados administrativos e dos inquéritos feitos aos empregados, juntamente com uma série de entrevistas realizadas durante o período piloto, fornecendo pontos de medição/avaliação no início, meio e fim da experiência. De acordo com o relatório recentemente publicado, o projeto-piloto foi um sucesso retumbante. Das 61 empresas que participaram, 56 continuarão a "testar" a semana de quatro dias (92%), sendo que 18 confirmam que a política de mudança agora adotada é permanente. Alguns dos benefícios mais importantes da redução do horário de trabalho foram encontrados no bem-estar dos empregados. Por exemplo, os dados "antes e depois" mostram que 39% dos empregados sentem-se menos stressados, com 71% a manifestarem níveis reduzidos de burnout no final do piloto.

Da mesma forma, os níveis de ansiedade, fadiga e problemas de sono diminuíram, enquanto a saúde mental e física melhoraram. Por seu turno, as medidas de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e familiar também progrediram ao longo do período do projeto. Os empregados consideraram ser mais fácil equilibrar o seu trabalho com os compromissos familiares e sociais – para 54%, foi mais fácil equilibrar o trabalho com as lides domésticas – e os empregados também ficaram mais satisfeitos com o estado das suas finanças, com os seus relacionamentos e também com a gestão do seu tempo. Adicionalmente, 60% dos empregados afirmaram ter sentido uma maior capacidade de combinar o trabalho remunerado com as responsabilidades no que respeita a cuidar de descendentes ou ascendentes, com 62% dos inquiridos a declarar ser mais fácil combinar trabalho com vida social.

Para além destes resultados animadores, outras métricas importantes mostraram sinais positivos relativamente a esta carga horária semanal mais reduzida, nomeadamente para os empregadores. As receitas das empresas, por exemplo, mantiveram-se praticamente as mesmas durante o período experimental, aumentando em média 1,4% entre as organizações inquiridas. E, comparativamente com períodos semelhantes em anos anteriores, as organizações reportaram aumentos de receitas na ordem dos 35% – o que indica um crescimento consideravelmente saudável durante este período de redução do tempo de trabalho. 

O relatório indica igualmente que o número de funcionários que deixaram as empresas participantes foi significativamente reduzido, com o turnover a diminuir em 57% durante o período experimental. Como se pode ler na introdução do estudo, para muitos, os efeitos positivos de uma semana de quatro dias valeram mais do que o seu "peso" em ouro, com 15% dos empregados participantes a afirmarem que nenhuma quantidade de dinheiro os induziria a aceitar o regresso a um horário semanal "normal", ou seja, de cinco dias, depois dos quatro dias de trabalho a que entretanto se acostumaram.  Atentemos nos principais resultados do projeto-piloto, os quais comprovam um enorme sucesso desta experiência.

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