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80% dos trabalhadores apresentam pelo menos um sintoma de "burnout"

Um estudo do Laboratório Português dos Ambientes de Trabalho Saudáveis analisou cerca de 2.000 trabalhadores de vários setores de atividade, identificando níveis de risco elevado em termos da saúde mental.

Lusa 15 de Maio de 2023 às 08:48
A intervenção na saúde mental e prevenção do 'burnout' é prioritária nas empresas, concluiu um estudo do Laboratório Português dos Ambientes de Trabalho Saudáveis, indicando que os trabalhadores da saúde, educação e administração pública são os de maior risco.

Neste grupo de maior índice de risco estão igualmente os trabalhadores dos setores dos transportes, área social e comércio e retalho.

O estudo aponta também para a necessidade de as empresas desenvolveram estratégias de gestão de conflitos e chama a atenção para as empresas trabalharem a questão da liderança.

O trabalho, a que a Lusa teve acesso e que analisou cerca de 2.000 trabalhadores de setores de atividade como a saúde, administração pública, transportes, alojamento e restauração, educação e industria, entre outras, identificando níveis de risco elevado em termos da saúde mental, com quase 80% dos trabalhadores a apresentarem pelo menos um sintoma de 'burnout'.

"Normalmente, a avaliação do ambiente das empresas é feita de forma segmentada. (...) Este instrumento de avaliação que usamos [EATS - Ecossistemas de Ambientes de Trabalho Saudável] permite fazer uma avaliação integral, no mesmo momento, de todas as áreas e relacioná-las, porque elas influenciam-se mutuamente e estão relacionadas", explicou à Lusa a coordenadora deste trabalho, Tânia Gaspar.

Os investigadores avaliaram várias organizações a nível nacional e, depois, fizeram estudos específicos por setores de atividade, uma vez que o comportamento de alguns setores de atividade "envolve mais risco do que outros".

O estudo envolveu cerca de 2.000 participantes, a maioria trabalha numa grande empresa/organização (250 ou mais pessoas).

Segundo os dados a que a Lusa teve acesso, são três as dimensões que apresentam maior risco: saúde mental e 'burnout', as lideranças e os recursos, ou, neste caso, a falta deles.

"Muitas vezes quando se fala de 'burnout' parece que é excesso de trabalho, mas, às vezes, não é só o excesso de trabalho. Há vários fatores de risco para o 'burnout'. Por exemplo, pode haver exigência extrema a nível do esforço físico e psicológico, emocional ou até cognitivo, mas também [contribuem] as tensões e relações tóxicas com as lideranças e com os próprios colegas de trabalho", explicou.

A psicóloga refere igualmente que para a situação de 'burnout', que se vai instalando com o tempo, também pode contribuir o facto de a pessoa sentir que seu trabalho não é reconhecido ou que as suas competências estão mal aproveitadas.

Tania Gaspar disse que, muitas vezes, estas pessoas chegam ao consultório e as queixas são relativas a problemas de sono: "Nós efetivamente conseguimos compreender [em consultório] que a pessoa não está a conseguir dormir porque ou alterou o seu padrão de relações interpessoais, está mais hostil, mais intolerante para os outros".

"O facto de cerca de 80% dizer que tem pelo menos um dos destes sintomas - tristeza, irritabilidade, exaustão e cansaço extremo é algo que nos preocupa", sublinhou a especialista, frisando que 63% das pessoas apresentam os três sintomas".

Esta situação afeta o profissional em diversas áreas da sua vida, incluindo a saúde física, social e a saúde laboral. "Logo, a própria empresa acaba por ficar afetada", observou.

"A pessoa acaba por ter um desempenho mais debilitado, (...) tende a trabalhar menos e a fazer mais erros, a ter mais stress, a criar mais relações menos positivas também no contexto laboral, afetando o trabalho de equipa", disse a responsável, insistindo: "ter uma pessoa nesta situação também não é positivo para a própria organização e há aqui um trabalho de prevenção a fazer".

Neste estudo, os trabalhadores disseram igualmente que se sentem pouco valorizados, que sentem que não são envolvidos na tomada de decisões, que a liderança está focada na obtenção de resultados e não o suficiente no bem-estar dos profissionais e consideram que, muitas vezes, não têm um sentimento de pertença à entidade empregadora.

"Isto é algo em que a organização também tem que refletir e pensar que, se calhar, ou não está a fazer algo bem ou não está a comunicar bem aquilo que está a fazer", alertou.
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