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Bons pais e irmãos unidos dão ganhos às empresas
Dois estudos de Psicologia mostram que os pais que equilibram exigência e afecto são melhores líderes nas empresas e que uma boa relação com os irmãos na fase adulta garante maior produtividade e melhora o trabalho em equipa.
Ter filhos e irmãos pode ajudar a potenciar as capacidades de liderança e melhorar o desempenho dos trabalhadores e o ambiente nas empresas? Duas teses de mestrado desenvolvidas na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa (FPUL) vêm mostrar os benefícios de uma parentalidade positiva e também de uma boa relação com os irmãos, reclamando que as administrações, até face a estas vantagens competitivas, alterem algumas políticas enraizadas nos departamentos de Recursos Humanos.
O estudo de Cláudia Dias evidencia que os profissionais com filhos que dizem praticar em casa um estilo "autoritativo" – equilibrando os afectos e a exigência – têm uma maior propensão para serem "líderes transformacionais" no trabalho. Um conceito que abarca princípios como a promoção do espírito de equipa, a gestão adaptação às circunstâncias ou a preocupação com os empregados e em tirar o máximo potencial de cada um deles.
"A parentalidade não tem de ser vista como um obstáculo para o trabalho, mas como algo que pode gerar aptidões importantes para o desempenho profissional. A experiência como pais, como mostram estes resultados, dá-lhes a oportunidade de desenvolver outras competências, como a liderança", resume ao Negócios a autora do estudo "Parentalidade, um vínculo permanente".
Embora reconheça a valia de soluções mais tradicionais para reduzir o conflito entre família e trabalho, como a flexibilidade de horários, a mais recente mestre em Psicologia reivindica mais medidas na óptica do "enriquecimento" que este estudo mostra existir e que até envolvem capacidades cada vez mais procuradas nas organizações. E dá o exemplo de programas que podiam implementar para os funcionários aprenderem a ser afectuosos com os filhos sem perderem a autoridade.
Ir além dos filhos
O trabalho de campo para estes estudos sobre a forma como as relações familiares influenciam o desempenho laboral foi organizado em duas fases ("focus group" e questionários) e realizado entre Outubro de 2016 e Maio de 2017 em três empresas portuguesas (duas grandes e uma PME), num universo de cerca de 400 pessoas.
A partir desses dados, em "Melodia que dá ritmo às equipas?", Carolina Henriques defende a tese de que a relação positiva com os irmãos leva a um melhor desempenho em termos de produtividade e também de relacionamento interpessoal com os colegas. Por outro lado, quando a ligação aos irmãos nesta fase adulta é negativa, apesar de conseguirem cumprir as suas tarefas – isto é, não deixam de ser produtivos –, a "relação com os colegas é comprometida".
A jovem recém-diplomada sublinha ao Negócios que "uma relação positiva entre irmãos gera competências – capacidade de partilha, negociação, gestão de conflitos –, que foram apreendendo ao longo do tempo e são muito úteis depois no trabalho em equipa". E quanto mais irmãos tiver, melhor a qualidade da relação que estabelece com os colegas – e, consequentemente, o desempenho no trabalho.
As vantagens organizacionais de ter filhos e irmãos vão ser discutidas esta sexta-feira, 23 de Março, entre as 14h e as 17h30, no auditório da FPUL, numa organização em parceria com a Associação Portuguesa de Famílias Numerosas e a Quasar Human Capital.
Perante académicos e profissionais de Recursos Humanos – está confirmada a presença de gestores da TAP, EDP Distribuição ou Brisa –, Carolina Henriques vai defender que as empresas "têm de abrir a mente para outras áreas, que não só a dos filhos", pois "todos têm famílias e preocupações".
"Há muitas práticas desenvolvidas para a parentalidade, como descontos em creches ou horários flexíveis. Mas, por exemplo, não é bem aceite um indivíduo pedir para sair mais cedo se for para ir à festa de um irmão ou de um sobrinho", conclui.