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Alunos fazem abaixo-assinado contra ida de Passos Coelho para o ISCSP
Um conjunto de alunos fez um abaixo-assinado com o objectivo de impedir que Passos Coelho dê aulas no ISCSP no próximo ano lectivo. No documento a contratação de Passos é descrita como uma "afronta à transparência e à meritocracia" da faculdade.
Está a circular um abaixo-assinado contra a contratação de Passos Coelho para professor de mestrados e doutoramentos do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), revelou ao Negócios um dos promotores do grupo de alunos do regime diurno e pós-laboral que é responsável pela iniciativa.
No abaixo-assinado, os alunos do ISCSP ("iscspianos") defendem que a contratação do ex-primeiro-ministro "na qualidade de professor convidado catedrático" configura "a materialização de uma afronta à transparência e à meritocracia" da faculdade, "prejudicando os estudantes, o restante corpo docente e, em última instância, até a própria instituição de ensino".
No documento, a que o Negócios teve acesso, os estudantes reconhecem "a vasta experiência prática do doutor Passos Coelho", contudo consideram que "a sua capacidade para leccionar aulas a discentes com um grau académico superior ao seu é altamente questionável".
Este grupo de alunos sustenta não ser "plausível" que alguém que "nunca leccionou, nunca preparou uma tese na sua vida, nunca trabalhou em investigação e nunca teve um percurso académico minimamente relevante seja capaz de preparar alunos de mestrado e doutoramento".
Depois de ter sido noticiado que Passos Coelho vai leccionar em três universidade, na semana passada o Negócios noticiou que ex-presidente do PSD vai ser professor universitário nas áreas de Economia e Administração Pública, sendo nesta última que irá ser docente no ISCSP.
Em reunião realizada na semana passada, o Conselho Científico do ISCSP aprovou a proposta da direcção da faculdade para que Passos seja professor de alunos de mestrados e doutoramentos em Administração Pública na categoria de professor convidado catedrático. Ficando Passos com uma espécie de equiparação salarial à de professor catedrático (topo da carreira no ensino universitário), embora ajustada à carga horária que o antigo chefe de Governo terá na instituição.
Para os promotores do abaixo-assinado, "o salário obsceno do novo docente (tendo em conta a sua formação académica), equiparado ao de um professor catedrático, é uma ofensa grave à meritocracia inerente ao percurso académico normal de um docente universitário".
Estes alunos sinalizam ainda o que pode ser visto como "cartelização política" dada a proximidade entre Passos Coelho e o actual presidente da instituição, Manuel Meirinho, eleito deputado como independente nas listas do PSD em 2011.
O objectivo deste abaixo-assinado passa por recolher as assinaturas necessárias à sua apresentação em assembleia-geral de alunos e, se o mesmo merecer votação favorável, "ser apresentado em conselho de escola à presidência do ISCSP, exigindo-se respostas rápidas e concretas".
A notícia do estatuto docente que Passos terá no ISCSP gerou grande polémica, em especial no meio universitário, com as críticas a dividirem-se entre quem defende que a experiência profissional do ex-primeiro-ministro é uma mais-valia que justifica o grau atribuído e quem defende que a carreia política não pode substituir-se ao trajecto académico.
Numa visita ao ISCSP, em 2013, Passos Coelho foi recebido por uma manifestação de "iscspianos" que pediam a "demissão" do então primeiro-ministro numa altura em que vigorava ainda o programa de ajuda financeiro acordado com a troika.