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"Valor sugere um modelo mais produtivo e eficiente"

Com o envelhecimento e a longevidade e os limites das despesas orçamentais, o modelo construído para pacientes agudos perdeu o sentido. O modelo baseado em valor adapta-se à economia e à demografia e dá mais qualidade e saúde.

Rafael Bengoa diz que, na Europa, a saúde baseada em resultados tem de ter em conta o serviço universal e o orçamento finito. David Martins
13 de Dezembro de 2017 às 11:46
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"Construímos um sistema de saúde muito interessante com centros de saúde, hospitais, infra-estruturas, medicamentos, mas era para um tipo de demografia, para atender pacientes agudos", referiu Rafael Bengoa, co-director do Institute for Health & Strategy de Espanha. Entre 1971 e 2015, a população idosa passou de 19% para 24% e prevê-se que até 2023 atinja os 30%. À medida que as pessoas envelhecem aumenta a cronicidade e os custos para o sistema.

Outro aspecto que se tornou estrutural foi a contenção das despesas no orçamento para a saúde. Deu o exemplo do orçamento da saúde em Espanha que passou de 38,5 mil milhões de euros em 2002 para 70,5 mil milhões, em 2008, mais 83%, tendo caído, entre 2009 e 2013, 12,5% mas quando veio o crescimento aumentou a uma taxa de 0,06%. "E nunca mais vai crescer a taxas de 7 ou 8%" assinalou Rafael Bengoa, que foi ministro da Saúde do País Basco.

O modelo actual é muito ineficiente e a sustentabilidade do sistema e os limites de financiamento implicam mais eficiência. Na Europa, 86% dos doentes são crónicos e por isso "o modelo de agudos não lhes serve". "Este trata e repara e manda para casa, mas não serve para os cuidados continuados, por isso este modelo construído nos últimos 50 anos tem de mudar", referiu Rafael Bengoa.

O valor na Europa e EUA

A alternativa foi a contenção de gastos e maior racionalidade que começou em 2009-2010. Tinha a sua justificação, "mas não se pode estar duas décadas a congelar as despesas, os salários , da forma como se fez , porque o sistema de saúde fica muito vulnerável e pode-se perder o que já se ganhou", disse Rafael Bengoa . "A pergunta-chave é se há uma alternativa. E o valor sugere um modelo que é muito mais produtivo e eficiente ".

Michael Porter introduziu este conceito de valor e que o melhor resultado final que se obtém para o paciente é superior ao custo. Mas Porter fala do paciente, não refere o sistema de saúde público nem a prestação de um serviço universal. O raciocínio é em torno do atendimento individual, o que se coaduna com o modelo competitivo norte-americano. Na Europa, a reflexão em torno do valor tem de ter em conta que os modelos se baseiam no compromisso de proporcionar saúde a toda a população com um orçamento finito.

Mas a transformação é possível porque nos orçamentos da saúde há muito potencial de eficiência e há novos instrumentos . "Hoje podemos ligar , digitalizar e comunicar tudo com tudo e já se sabe gerir quase todas as enfermidades a partir de casa para controlar os doentes crónicos, estratificar o risco, integrar os cuidados hospitalares e de saúde, novos papéis profissionais", assinalou o especialista Rafael Bengoa.

Os passos para um novo mundo

I. Combater o desperdício
Na parte clínica há entre 1/5 e 1/4 da actividade que não adiciona valor clínico. Nos sistemas de saúde dos EUA, existem desperdícios da ordem dos 600 mil milhões de dólares com gasto clínico ineficaz, fraude e abuso, complexidade administrativa e preços excessivos. A OCDE indica que há desperdício em termos administrativos, operacionais e clínicos.

II. Mudança organizativa
Passar do modelo em que as diferentes estruturas do sistema funcionam de forma separada para um modelo em que actuam em conjunto. Não precisam de estar todas no mesmo edifício ou debaixo do mesmo tecto. Podem ser redes de cuidados e é necessário criar condições para que subsistam e criem valor.

III. Novas formas de financiamento
Há melhoria de qualidade quando se está pagar resultados em vez de pagar volume, actividade e se funciona com base em contratos alternativos. A tendência geral na atribuição de recursos é passar a remunerar valor com base em várias modalidades de financiamento.

IV. Criar mecanismos de co-criação com os pacientes
Tem de se saber o que doente entende por qualidade em saúde. O foco deve estar no doente.

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