Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Tribunal diz que deputado Ricardo Rodrigues agiu de "forma irreflectida"

O tribunal que hoje condenou Ricardo Rodrigues a 4.950 euros de multa por atentado à liberdade de imprensa e de informação considerou que o deputado socialista agiu de "forma irreflectida" ao apropriar-se dos gravadores dos jornalistas da "Sábado".

26 de Junho de 2012 às 17:56
  • 8
  • ...
O incidente remonta a Abril de 2010, quando, durante uma entrevista, no Parlamento, Ricardo Rodrigues se levantou e abandonou a sala onde se encontrava, levando consigo os gravadores dos jornalistas Fernando Esteves e Maria Henriques Espada, depois de estes o terem interrogado sobre o seu alegado envolvimento num escândalo de pedofilia nos Açores - o chamado caso Farfalha.

Ao condenar hoje o deputado socialista a 110 dias de multa, a 45 euros cada, o que perfaz 4.950 euros, o 6/o Juízo Criminal de Lisboa deu como provados os factos constantes na acusação e na pronúncia relativos à prática de um crime de atentado à liberdade de imprensa e de um crime de atentado à liberdade de informação.

A juíza entendeu que da prova produzida em julgamento não resultam factos que justificam a conduta do deputado, que invocou a defesa do seu bom nome e a deturpação das suas declarações pelos jornalistas, durante a entrevista, para se apoderar dos gravadores como "meio de prova" da intenção destes em denegrir a sua imagem.

Na sentença, o tribunal entendeu que se a intenção de Ricardo Rodrigues, ao apropriar-se dos gravadores, era a de obter um meio de prova da intenção dos jornalistas, "teria pegado num gravador e não nos dois gravadores".

A juíza disse não encontrar justificação para a conduta do deputado, muito embora reconheça ser compreensível que Ricardo Rodrigues tivesse ficado transtornado com perguntas relacionadas com o caso Farfalha, ao qual juridicamente nunca esteve envolvido.

O tribunal entendeu ainda que sendo Ricardo Rodrigues uma "figura pública" e exercendo funções de responsabilidade no PS, justifica-se que os jornalistas o pudessem ter questionado sobre a constituição de "offshores", uma vez que o Partido Socialista tinha uma "posição contra" as sociedades offshores.

A juíza não aceitou também o argumento da deturpação das declarações do deputado, frisando que o jornalista, ao perceber a situação, "retratou-se" em plena entrevista a Ricardo Rodrigues, tendo este acedido que a conversa continuasse até ser abordado o caso Farfalha.

Durante uma entrevista que "foi tensa, de parte a parte", o tribunal considerou também não ser credível que o deputado tenha, no decurso da mesma, ponderado sobre a melhor forma de obter um "meio de prova" da intenção dos jornalistas em denegrir a sua imagem, entendendo que o arguido agiu de "forma irreflectida", sem que "tivesse raciocinado" sobre as "consequências bem mais graves" que resultaria do seu comportamento.

No final da leitura da sentença, a defesa de Ricardo Rodrigues mostrou-se "desiludida" com o veredicto e anunciou que vai recorrer da sentença, porque esta decisão do tribunal, a seu ver, não resulta da prova produzida em audiência de julgamento.

Ricardo Rodrigues limitou-se a dizer não estar surpreendido, recusando fazer mais comentários até ao trânsito em julgado da sentença.

Martim Serrano, advogado dos assistentes (jornalistas), declarou que esta era uma sentença "esperada" e que reflecte o que foi apurado em julgamento.

A entrevista em causa foi ainda gravada em vídeo/áudio, o que permitiu, na altura, a divulgação de imagens e som.

Ver comentários
Saber mais Tribunal Ricardo Rodrigues "forma irreflectida" Tribunal
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio