Notícia
Recessão em 2003 mais acentuada do que o esperado (act)
O Banco de Portugal reviu em baixa as perspectivas económicas para este ano, estimando que o Produto Interno Bruto tenha sofrido uma contracção de 1,1%, em grande parte em resultado de uma queda maior do que o esperado para o investimento.
O Banco de Portugal reviu em baixa as perspectivas económicas para este ano, estimando que o Produto Interno Bruto tenha sofrido uma contracção de 1,1%, em grande parte em resultado de uma queda maior do que o esperado para o investimento.
Em Junho, o Banco de Portugal (BP) já apontava para uma contracção da economia entre 0% e 1%, embora salientasse que o valor mais provável se viesse a situar junto ao limite inferior do intervalo.
Agora, o BP estima um intervalo para a contracção do produto entre 0,8% e 1,3%, ou seja, com um ponto médio em 1,1%. A procura interna terá sofrido uma forte redução, contribuindo negativamente com 2,9 pontos percentuais para esse resultado, ao passo que as exportações líquidas de importações terão contribuído positivamente com 1,8 pontos percentuais para o crescimento.
A maior revisão ocorre nas perspectivas para o investimento. O BP projectava para o conjunto do ano uma redução desta componente da despesa interna em torno dos 4,8%, já em recuperação face à queda de 5,7% no ano anterior, mas estima agora uma redução em torno dos 10%.
Tal queda fica a dever-se exclusivamente ao comportamento do sector privado, já que, em termos reais, o investimento público terá tido uma evolução nula.
Consumo privado pior que o esperado e consumo público revisto em alta
Mas também para o consumo privado se estimam agora números piores do que em Junho. Enquanto no anterior boletim se antecipava uma contracção em torno dos 0,3%, agora estima-se uma redução de 0,8%. Tal ficar-se-á a dever a uma “acentuada desaceleração do rendimento disponível das famílias, que poderá mesmo apresentar uma ligeira queda em termos reais”, queda que o BP excluía nas perspectivas traçadas em Junho.
As exportações mantêm a mesma taxa de crescimento anteriormente avançada, em torno dos 3%, mas as importações sofrem uma alteração muito forte na estimativa face à previsão.
Onde se previa em Junho uma redução real da ordem dos 0,8% prevê-se agora uma quebra de 2,3%. Tal resultado explica-se essencialmente pela evolução das componentes da procura interna, com a redução do consumo privado a afectar sobretudo os bens duradouros, de forte conteúdo importado, e o investimento, igualmente muito apoiado em bens importados, a cair mais do dobro do que fora previsto.
Só o consumo público sobre uma revisão em alta. Quando em Junho, na posse dos dados então disponíveis da execução orçamental, o BP previa uma contracção desta rubrica de 1,6%, agora prevê uma variação nula em termos reais. Apesar de tudo, tal evolução representa uma forte moderação em relação ao ano anterior, quando o consumo público cresceu 2,3%.
O BP dá como um dos factores explicativos desta redução a empresarialização dos hospitais, que veio a exigir transferências para as famílias – forma como são classificadas as compras de serviços hospitalares naquelas unidades – em menor montante do que as despesas com pessoal e de consumo intermédio, que antes eram imputáveis aos hospitais referidos, quando se encontravam no perímetro de consolidação do Sector Público Administrativo.
O BP não actualiza neste boletim as perspectivas para 2004 traçadas em Junho, quando previa para o próximo ano um crescimento económico em torno de 1%.
Maior moderação salarial é desejável
Mas estima agora uma recessão mais acentuada como ponto de partida e diz que “uma recuperação do crescimento em Portugal só poderá ser dinamizada de forma sustentável por uma forte recuperação dos principais mercados de exportação portugueses, sobretudo europeus”, que teria como “elemento moderador” uma “subida das taxas de juro”, com “restrições de liquidez acrescidas” para “as famílias e empresas mais endividadas”.
Além disso, como factor restritivo a contar no futuro, a economia portuguesa sofrerá o peso da “consolidação das finanças públicas”, cujo esforço, “dada a magnitude actual do défice orçamental”, “terá que ser intensificado”.
Por fim, uma desejável moderação salarial maior do que a que já teve lugar – “um maior realismo no crescimento dos salários”, pede o BP, para conter a perda de competitividade do sector exportador – não deixará de ter efeitos restritivos sobre o rendimento das famílias e, assim, sobre o seu nível de despesa. Mais salários no curto prazo significarão mais desemprego, “com significativo agravamento dos custos sociais e humanos que lhe estão associados”.
Todos os factores somados sugerem que o BP prevê agora crescimento ainda mais moderado do que antecipara em Junho.