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Portugal perde lugar para a China e afunda-se no ranking mundial de qualidade das elites
Cada vez mais abaixo da média da União Europeia, ocupa agora 30.ª posição no Índice de Qualidade das Elites 2023, tendo caído oito lugares em relação ao ano anterior, com a China a ganhar-lhe o 22.º lugar, entre um total de 151 países.
"Os dados revelam que, em Portugal, as elites continuam a revelar uma tendência crescentemente extrativa, que importa corrigir, mantendo-se um país pouco competitivo, muito aberto ao exterior, muito dependente da situação económica dos seus principais parceiros, endividado e centralista, estando fortemente dependente do turismo", destaca o diretor da Faculdade de Economia do Porto (FEP), Óscar Afonso, e a professora Cláudia Ribeiro, responsáveis pelo estudo a nível nacional.
Trata-se da quarta edição do EQx, um ranking internacional de economia política que fornece uma perspetiva única sobre a criação de valor, categorizando os países pela qualidade das suas elites, cuja elaboração é da responsabilidade da Universidade de Saint Gallen, na Suíça, em colaboração com uma rede internacional de parceiros e instituições académicas, entre as quais a FEP, a parceira em Portugal.
E é precisamente a Suíça que, pela primeira vez na história do EQx, ultrapassou Singapura, passando a liderar em termos de qualidade de eleitos, "em reflexo da capacidade de valor e crescimento económico", sintetiza a FEP, em comunicado.
Num ano marcado por um aumento sem precedentes da inflação e pela guerra na Europa, Portugal vê a sua posição neste índice degradar-se, surgindo cada vez mais abaixo da média da União Europeia. Portugal é o 16.º país europeu nesta lista, logo atrás de Chipre.
Face ao ranking anterior, Portugal manteve a posição ao nível do poder político (19.º lugar), mas viu deteriorado o respetivo valor criado (37.ª posição em 2023, contra a 11.ª em 2022); em termos económicos, registou uma maior concentração do poder económico (42.ª em 2023 e 25.ª em 2022), sem reflexo no valor económico criado (39.ª em 2023 e 37ª em 2022).
O índice baseia-se em 134 indicadores e em quatro áreas conceptuais – poder económico, valor económico, poder político e valor político – categorizando as elites em "muito alta qualidade" (posição de 1 a 10), "elites de alta qualidade" (posição de 11 a 25), "elites de qualidade" (posição de 26 a 75), "elites de qualidade média" (posição de 76 a 124) e "elites atrasadas" (posição superior a 125).
"Portugal é um país com uma divida pública expressiva, obrigando a uma austeridade significativa, como revela a enorme carga fiscal. Os constrangimentos que o endividamento impõe impedem que o Governo tenha capacidade para promover a atividade económica, mesmo com a ajuda de fundos comunitários", consideram os professores da FEP.
Por outro lado, observam, "é preciso ainda reconhecer que a inflação tem vindo a dificultar, e muito, a atividade económica, pois os custos dos investimentos programados aumentaram face aos orçamentos iniciais".
Já a classificação obtida por Portugal de "elite de qualidade" resulta do desempenho positivo obtido em diferentes indicadores, que se traduzem na tolerância à inclusão de minorias, liberdade académica e liberdade religiosa (poder político), assim como na facilidade de encerramento de negócios, na dispersão das exportações pelas firmas e na dispersão do valor acrescentado pelo universo das empresas (poder económico).
No valor político, os responsáveis pelo ranking destacam pela positiva o desempenho de Portugal na segurança alimentar, a fraca diferença salarial entre os setores público e privado e a qualidade ambiental, enquanto que no valor económico salientam a ausência de barreiras ao Investimento Direto Estrangeiro e a taxa de crescimento da produtividade do trabalho.
Nova Zelândia e Japão sobem a pique, anglo-saxónicos descem, Rússia na cauda
Além da histórica mudança de líder do ranking, com a Suíça a retirar o primeiro lugar a Singapura, merecem destaque a subida de 14 posições do Japão, passando a ocupar a 4.ª posição, e a de três lugares da Alemanha, para a 8.ª.
Mais destaques: Índia (59.º lugar, subida de 38 posições), Brasil (69.º, subiu 12) e África do Sul (83.º, subiu 16), contrastando fortemente com a Rússia – também país membro dos BRIC’s -, que desceu 36 lugares, ocupando agora a 103.ª posição.
Já os Estados Unidos, que desceu seis posições, fixando-se no 21.º lugar, está agora ao lado China (22.º).
"Em tempos de rivalidade geopolítica crescente entre as duas potências, este facto torna-se uma questão de interesse internacional, uma vez que a criação sustentável de valor pelas elites é a base da força e competitividade nacionais futuras", sustentam Óscar Afonso e Cláudia Ribeiro.
De salientar, ainda, o mau ano para as nações anglo-saxónicas, com o Reino Unido a descer um lugar, para a 9.ª posição, e a Austrália a descer quatro, para a 7.ª posição, com a exceção notável a ser protagonizada pela Nova Zelândia, que registou uma ascensão notável, subindo 11 lugares, para ganhar o último lugar do pódio.
Última observação dos autores do estudo: "As pontuações comparativas dos países e as classificações globais proporcionam uma visão do futuro das sociedades, sendo o EQx concebido para funcionar como um recurso para os líderes empresariais e políticos compreenderem como as suas ações afetam a sociedade em geral."