Notícia
Perfil de Cavaco Silva
Primeiro-ministro durante dez anos (1985-1995), nos primeiros anos de Portugal na Comunidade Europeia, da política de betão, das auto-estradas e das reformas, o homem que acha que «quase nada acontece por acaso» e obteve para o PSD duas maiorias absolutas
Primeiro-ministro durante dez anos (1985-1995), nos primeiros anos de Portugal na Comunidade Europeia, da política de betão, das auto-estradas e das reformas, o homem que acha que «quase nada acontece por acaso» e obteve para o PSD duas maiorias absolutas afastou-se, em 1996, da ribalta.
Aníbal Cavaco Silva nasceu em Boliqueime (Algarve) em 15 de Julho de 1939. Na escola, foi um aluno médio e aos 13 anos chumbou no terceiro ano da Escola Comercial. Como castigo, o avô obrigou-o a trabalhar de enxada na mão na horta.
Em 1964, licenciou-se em Finanças no Instituto Superior de Ciências Eco nómicas e Financeiras (ISCEF), com uma média de 16 valores.
Já casado com Maria Alves da Silva, de quem teve dois filhos (Patrícia e Bruno), Cavaco Silva cumpriu, em 1964, o serviço militar obrigatório em Moçambique, como oficial miliciano da Administração Militar.
A carreira docente é iniciada em 1966, como assistente do ISCEF, mas dois anos depois Cavaco ingressa na Universidade de York (Reino Unido), onde, em 1 973, faz o doutoramento.
Regressado a Portugal, foi professor auxiliar no ISCEF (1974), professo r na Universidade Católica (1975), professor extraordinário na Universidade Nova de Lisboa (1979) e Director do Gabinete de Estudos do Banco de Portugal.
A política só entra na sua vida após o 25 de Abril de 1974, aderindo logo nesse ano ao então PPD, de Sá Carneiro, de quem é um admirador. Antes de chegar à liderança do partido, Cavaco Silva esteve no gabinete de estudos do PSD e foi ministro das Finanças do Governo de Francisco Sá Carnei ro (1980-81).
Com a morte de Sá Carneiro, em Dezembro de 1980, e a crise na Aliança Democrática, abandona o executivo e lidera com Eurico de Melo uma oposição a Pinto Balsemão. É deputado (1980) e presidente do Conselho Nacional do Plano (1981-1984).
Em 1985, Cavaco Silva vai ao congresso da Figueira da Foz fazer a rodagem do seu Citroen BX e ganha surpreendentemente a liderança do partido na disputa com João Salgueiro.
Depois, rompe o acordo de coligação com o PS (Bloco Central), iniciado pelo falecido Mota Pinto, e provoca eleições antecipadas. Após ganhar as legislativas de 1985, com maioria relativa, Cavaco Silva forma um governo minoritário que durou cerca de dois anos.
Em 1987, o executivo cai com uma moção de censura apresentada pelo PRD no Parlamento. É então que conquista a primeira maioria absoluta do pós-25 de Abril, que repete nas legislativas de 1991.
É na fase final do seu mandato - ironicamente depois de o PSD ter apoiado a reeleição de Mário Soares para Belém - que atravessa o período mais conturbado das relações com o Presidente da República. Em 1994, alimenta durante largos meses o famoso «tabu» sobre a sua hipotética recandidatura ao cargo de primeiro-ministro, que só seria quebrado muito próximo das legislativas de 1995.
Quebrado o tabu, Cavaco deixa a liderança social-democrata para Fernando Nogueira e, em 1996, decide candidatar-se a Belém, mas perde para o socialista Jorge Sampaio.
De 1996 até agora, o primeiro-ministro que fez do sigilo uma regra do s eu gabinete e entende que «a qualidade nunca é um acidente e que quase nada acontece por acaso» quebrou poucas vezes o silêncio para comentar a política portuguesa.
Cavaco escolhe seminários, colóquios, a par dos artigos nos jornais, como palcos principais das suas intervenções. Um artigo em especial, em Fevereiro de 2000, fica famoso: tinha como título «O Monstro», foi publicado no DN e era um alerta sobre o crescente aumento das despesas públicas dos Governos de António Guterres, seu sucessor em S. Bento.
Longe da política activa, mas atento, o ex-líder do PSD entra esporadicamente no campo de jogo. Em Março de 2002, numa entrevista ao «El País», defendeu uma maioria absoluta para o PSD, então chefiado por Durão Barroso, antes das legislativas que deram a vitória aos sociais-democratas.
O artigo mais recente, publicado em Agosto, no semanário «Expresso», versava os poderes presidenciais. Sinais dos tempos.