Notícia
Passos, Álvaro e a fúria popular em Vila do Conde
Um chocolate de ananás da Regina é a recordação mais doce que o primeiro-ministro leva da primeira deslocação após o anúncio do pacote de austeridade. Veja aqui as fotos.
“Não, não... O coelhinho veio com o Pai Natal e o palhaço no comboio ao circo”. Na década de 1980, era assim que a neta corrigia o avô no clássico anúncio da marca Fantasias de Chocolate”, detida pela Imperial. Foi nas instalações desta fábrica de chocolates, em Vila do Conde, que Passos Coelho escutou o mesmo que os ministros Nuno Crato, Vítor Gaspar, Assunção Cristas, Aguiar-Branco e Paulo Portas ouviram já noutros locais do País: a insatisfação popular.
Escutou, mas não viu. É que, ao contrário do que estava previsto, o Mercedes com matrícula de Agosto de 2010 do primeiro-ministro entrou e saiu pelo portão traseiro da unidade fabril, escapando assim à fúria de mais de duas centenas de pessoas que se começaram a concentrar duas horas antes nas imediações da entrada principal.
De um lado da pequena rua de acesso à fábrica, eram as barreiras amarelas que mantinham os manifestantes afastados. Do outro lado, eram algumas dezenas de militares da GNR que iam tentando afastar os mais jovens e exaltados dos automóveis dos convidados que por ali entraram. Todos os que passaram, vestidos com fato e gravata, em carros de alta cilindrada – inclusive dois Jaguar –, foram vaiados.
Muitos deles foram cuspidos (os menos avisados levavam a janela aberta) e sentiram várias mãos a bater com força nas janelas e na "chapa". Miguel Cadilhe, ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva, foi um deles, mesmo conduzindo um Mini. A GNR acabou por identificar um dos manifestantes que saltou para cima de um carro. Lá dentro, minutos depois, Passos Coelho avisou que não governa “para satisfazer a opinião pública” e pediu aos que concordam com a medida que o expressem publicamente.
Antes de regressar a Lisboa, Passos ainda experimentou uma máquina gigante de chocolates da Regina e, logo ao primeiro furo, caiu um chocolate de ananás. O ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, não discursou na cerimónia e também não tirou qualquer chocolate da máquina.
“Os pobres nem podem comer um chocolatinho, os ricos comem tudo!”
Antes do início das comemorações dos 80 anos da Imperial, na parte exterior, João Torres, da CGTP, não escondia a indignação: “isto não é um roubo, são vários roubos e cada vez mais às claras. Esta dada de boas-vindas ao primeiro-ministro reflecte o sentimento da maioria do nosso povo. As coisas vão azedar daqui para a frente”.
Entre manifestantes afectos à central sindical, que ensaiaram slogans como “Portas, Cavaco e Passos são amigos dos ricaços”, estavam muitos outros sem qualquer ligação sindical. Eram os mais agitados. “O povo não tem dinheiro para um chocolate e vêm para aqui com carros de milhares de contos?”, interpelou um desempregado de 30 anos, de megafone na mão. “Estás mais gordo do que eu, tens comido bem!”, lançou outro manifestante a um convidado mais anafado. Só os ocupantes de carros mais modestos escapavam ao insulto. Como um Renault Chamade do início dos anos 1990 que até foi... aplaudido pelos manifestantes. “É dos nossos”, ouviu-se.
Celeste Rodrigues, da Póvoa de Varzim, fechou a pizzaria para ir ao concelho vizinho manifestar-se “contra esta patifaria”, em que “o Governo dá problemas aos pobres e aos negócios”. Soube que o Passos estava nas redondezas através da empregada, que viu uma notícia no Facebook. Talvez sentindo o aroma a chocolate que pairava no ar, a micro-empresária lançou o ‘soundbyte’: “Os pobres nem podem comer um chocolatinho, os ricos comem tudo!”.
Depois de fazer três quilómetros a pé, Joaquim Oliveira ainda vinha ofegante. “Ouvi barulho lá na cidade e resolvi vir cá ver”. Mais quilómetros nas pernas trazia Hélder Vieira, um reformado da Caixa Geral de Depósitos, que saiu de Lisboa a 2 de Setembro para dar a volta ao País a pé. Percorria a estrada nacional quando deu de caras com o aparato popular e policial. Já andava na estrada quando Passos anunciou as primeiras medidas de austeridade para 2013: “os meus filhos telefonaram-me a dar as novidades”.
Escutou, mas não viu. É que, ao contrário do que estava previsto, o Mercedes com matrícula de Agosto de 2010 do primeiro-ministro entrou e saiu pelo portão traseiro da unidade fabril, escapando assim à fúria de mais de duas centenas de pessoas que se começaram a concentrar duas horas antes nas imediações da entrada principal.
Muitos deles foram cuspidos (os menos avisados levavam a janela aberta) e sentiram várias mãos a bater com força nas janelas e na "chapa". Miguel Cadilhe, ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva, foi um deles, mesmo conduzindo um Mini. A GNR acabou por identificar um dos manifestantes que saltou para cima de um carro. Lá dentro, minutos depois, Passos Coelho avisou que não governa “para satisfazer a opinião pública” e pediu aos que concordam com a medida que o expressem publicamente.
Antes de regressar a Lisboa, Passos ainda experimentou uma máquina gigante de chocolates da Regina e, logo ao primeiro furo, caiu um chocolate de ananás. O ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, não discursou na cerimónia e também não tirou qualquer chocolate da máquina.
“Os pobres nem podem comer um chocolatinho, os ricos comem tudo!”
Antes do início das comemorações dos 80 anos da Imperial, na parte exterior, João Torres, da CGTP, não escondia a indignação: “isto não é um roubo, são vários roubos e cada vez mais às claras. Esta dada de boas-vindas ao primeiro-ministro reflecte o sentimento da maioria do nosso povo. As coisas vão azedar daqui para a frente”.
Entre manifestantes afectos à central sindical, que ensaiaram slogans como “Portas, Cavaco e Passos são amigos dos ricaços”, estavam muitos outros sem qualquer ligação sindical. Eram os mais agitados. “O povo não tem dinheiro para um chocolate e vêm para aqui com carros de milhares de contos?”, interpelou um desempregado de 30 anos, de megafone na mão. “Estás mais gordo do que eu, tens comido bem!”, lançou outro manifestante a um convidado mais anafado. Só os ocupantes de carros mais modestos escapavam ao insulto. Como um Renault Chamade do início dos anos 1990 que até foi... aplaudido pelos manifestantes. “É dos nossos”, ouviu-se.
Celeste Rodrigues, da Póvoa de Varzim, fechou a pizzaria para ir ao concelho vizinho manifestar-se “contra esta patifaria”, em que “o Governo dá problemas aos pobres e aos negócios”. Soube que o Passos estava nas redondezas através da empregada, que viu uma notícia no Facebook. Talvez sentindo o aroma a chocolate que pairava no ar, a micro-empresária lançou o ‘soundbyte’: “Os pobres nem podem comer um chocolatinho, os ricos comem tudo!”.
Depois de fazer três quilómetros a pé, Joaquim Oliveira ainda vinha ofegante. “Ouvi barulho lá na cidade e resolvi vir cá ver”. Mais quilómetros nas pernas trazia Hélder Vieira, um reformado da Caixa Geral de Depósitos, que saiu de Lisboa a 2 de Setembro para dar a volta ao País a pé. Percorria a estrada nacional quando deu de caras com o aparato popular e policial. Já andava na estrada quando Passos anunciou as primeiras medidas de austeridade para 2013: “os meus filhos telefonaram-me a dar as novidades”.