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Mortalidade materna caiu 44% desde 1990, mas desigualdade entre países duplicou

A mortalidade materna caiu 44% desde 1990 no mundo, mas a discrepância entre os países com maiores e menores taxas duplicou e um quarto das mulheres ainda tem os filhos sem qualquer assistência médica.

15 de Setembro de 2016 às 23:43
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As conclusões são de uma série de seis estudos hoje publicada pela revista científica The Lancet, que actualiza dados de há dez anos e revela que há actualmente 210 milhões de gravidezes por ano e 140 milhões de nascimentos.

 

"O progresso ao nível global mascara grandes variações entre países e dentro dos países. (...) Parece uma história boa, mas é uma faca de dois gumes: há boas notícias e não tão boas notícias", disse à Lusa uma co-autora da série, Wendy J. Graham, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

 

Com a mensagem "Cada mulher, cada recém-nascido, em qualquer lugar, tem o direito a cuidados de saúde de qualidade", o estudo conclui que, em termos gerais, o panorama da saúde materna melhorou nas últimas décadas: a mortalidade materna caiu 44% desde 1990 e o acesso aos serviços de saúde materna aumentou significativamente.

 

No entanto, estas melhorias não chegaram para se alcançar o Objectivo de Desenvolvimento do Milénio, que previa reduzir em 75% a mortalidade materna e, pior do que isso, agravaram-se as desigualdades.

 

Em 1990, a taxa de mortalidade materna dos 10 países com piores níveis era 100 vezes mais elevada do que nos 10 países com melhores resultados. Em 2013, a diferença duplicou para 200 vezes mais.

 

Na África subsaariana, por exemplo, o risco de uma mulher morrer na gravidez ou no parto é de uma em cada 36, enquanto nos países ricos esse risco desce para uma em cada 4.900.

 

Outra conclusão do estudo é que o acesso das mulheres aos serviços de saúde materna aumentou consideravelmente e hoje 75% das parturientes do mundo já têm os filhos com a assistência de profissionais qualificados.

 

No entanto, alertam os autores, isto significa que um quarto - quase 53 milhões de mulheres, sobretudo nos países mais pobres ou entre as comunidades mais pobres de outros países - não têm qualquer assistência qualificada no parto. Mesmo entre as que usam os serviços de saúde, muitas não têm acesso a cuidados de saúde de qualidade.

 

Para Wendy J. Graham, "o mais decepcionante [no estudo] é a questão da qualidade dos cuidados que as mulheres estão a receber. As mulheres aceitaram a ideia de recorrer às unidades de saúde - três quartos têm partos em unidades - mas em muitas partes do mundo, a qualidade não é boa, não é o que elas merecem".

 

Segundo o estudo, muitas mulheres experimentam, nas unidades de saúde, um de dois extremos: demasiado pouco e demasiado tarde, por um lado, e demasiado ou demasiado cedo, por outro.

 

Nos países de alto e médio rendimento, assim como nos grupos mais bem-sucedidos dos países pobres, há um risco crescente de sobremedicalização da gravidez e do parto, com utilização rotineira de intervenções não apoiadas em evidência, concluem os autores do estudo.

 

"Cuidados de saúde que são demasiado, demasiado cedo, podem provocar danos, aumentar os custos da saúde e contribuir para uma cultura de desrespeito e abuso", escrevem os investigadores.

 

A episiotomia de rotina é um exemplo desses cuidados, assim como a administração profiláctica de antibióticos no parto, que além de não ter benefícios comprovados pode mascarar uma infecção e contribui para a resistência aos antibióticos, disse Wendy J. Graham.

 

No outro extremo, cuidados maternos que são demasiado poucos ou chegam demasiado tarde põem em causa a saúde da mulher e do recém-nascido.

 

"Uma coisa que demonstrámos é que, em muitos locais, os serviços não conseguem fornecer cuidados em partos não complicados e alguns nem sequer têm serviços básicos, como água ou saneamento. É perturbante pensar que há hospitais que não têm água e saneamento", disse outra co-autora do estudo, Oona Campbell, em entrevista à The Lancet.

 

Segundo o estudo, em quatro dos sete países da África subsaariana estudados, mais de dois terços dos nascimentos em unidades de saúde ocorreram em locais que não tinham infra-estruturas básicas, como água, e mais de metade ocorreram em unidades sem uma urgência obstétrica básica.

 

Outra conclusão é que, a par da redução da mortalidade materna, está a tornar-se mais evidente a morbilidade materna, estimando-se um total de 27 milhões de episódios em 2015, apenas contabilizando as cinco principais causas obstétricas (hemorragia pós-parto, eclampsia, pré-eclampsia, complicações graves resultantes de aborto e sepsis puerperal).

 

Wendy J. Graham lembra que a morbilidade materna está também associada à transição das doenças infecciosas para as doenças não transmissíveis, como a diabetes e as doenças cardiovasculares. "O que isso significa é que há mais mulheres com esses problemas indirectos (...). No passado, algumas dessas mulheres (...) morriam na infância ou não conseguiam engravidar".

 

Para a especialista, a aposta tem de ser na qualidade dos serviços de saúde: "Se nos focarmos na qualidade dos serviços, mais mães e crianças serão salvas, mais morbilidade será tratada antes de se tornar grave e ameaçadora para a vida e haverá mais prevenção. A qualidade dos cuidados é crucial para fazer uma grande diferença na era pós-2015".

 

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