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Marcelo pede ao Governo para "pôr os olhos" na Stellantis e duplicar taxa de execução do PRR

O CEO da Stellantis, Carlos Tavares, diz que este ano a fábrica de Mangualde vai bater recordes de produção, com previsões de 87 mil veículos produzidos, acima dos 82 mil do ano passado. 

Ricardo Ponte
02 de Julho de 2024 às 18:43
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O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, deixou esta terça-feira um recado ao Governo de Luís Montenegro e ao ministro da Economia, Pedro Reis, para que "ponham os olhos" na Stellantis e na agenda mobilizadora do PRR "Green Auto" que a fabricante de automóveis lidera (e na qual estão integradas 37 entidades diferentes), tendo em conta que esta apresenta já, neste momento, uma taxa de execução na ordem dos 51%. 

O alerta do chefe de Estado foi deixado numa visita à fábrica da Stellantis em Mangualde, no dia em que a empresa assinalou o início da produção de veículos elétricos nesta unidade em Portugal, que se encontra no top 3 das fábricas a nível mundial (de um total de 90) com menor custo de produção e maior competitividade. Neste momento a fábrica tem capacidade para produzir 12 viaturas (térmicas ou elétricas) por hora, podendo este número crescer para 17. 

O CEO da Stellantis, Carlos Tavares, diz que este ano a fábrica vai bater recordes de produção, com previsões de 87 mil veículos produzidos, acima dos 82 mil do ano passado. 

Sobre o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), Marcelo disse que o Governo tem de conseguir uma taxa de execução global na ordem dos 50% ou, pelo menos, duplicar a que tem sido registada até agora (23%). "Não temos todo o tempo do mundo para executar o PRR. O Estado tem de pôr os olhos na Stellantis e imitar este exemplo para aumentar a taxa de execução do PRR. São recursos únicos e limitados no tempo", disse Marcelo, acrescentando que a fábrica de automóveis em Mangualde é também um exemplo de como este tipo de projetos não estão dependentes de quem está no Governo. "Este investimento nasceu com outro primeiro-ministro e outro Governo, mas mantém-se com o atual Governo e o atual primeiro-ministro, disse. 

"Da mesma maneira que com a Stellantis foi possível ter, em relação à agenda mobilizadora, 51% de cumprimento em um ano, é preciso que o PRR, todo ele, a taxa de cumprimento se aproxime dos 51% e os ultrapasse rapidamente. O ministro da Economia diz que a Stellantis é um exemplo para a economia portuguesa imitar. Eu diria também que é um exemplo para o Estado português imitar com fundos que são nesta dimensão únicos. Únicos no tempo e únicos na sua concentração imediata", concluiu.

No final da cerimónia, Marcelo Rebelo de Sousa disse ainda aos jornalistas que a taxa de execução do PRR, "apesar de uma recuperação que houve no ano passado, em relação a anos anteriores, está ainda muito baixa". "Uma diferença muito grande entre o dinheiro que temos disponível, que já está contratualizado e que já chegou às entidades intermédias, mas está em termos burocráticos a ter dificuldades em chegar ao destinatário final", disse, alertando que o tempo que está pela frente "é muito limitado" (dois anos e meio), já que o prazo final de execução do PRR é o final de 2026.

"Temos de recuperar rapidamente, sabemos que temos taxas de execução que são melhores de que outros países europeus, mas isso não nos consola, temos que melhorar", avisou.

O Presidente da República elogiou ainda como a unidade fabril da Stellantis em Portugal conseguiu adiantar em mais de um ano a produção de veículos elétricos: de outubro de 2025 para junho de 2024. "Este centro de produção é um dos melhores do mundo. É mérito dos trabalhadores, que assumiram este objetivo e conseguiram atingir as metas muito antes do que foi proposto. Significa um aumento da produção de automóveis da marca em Portugal", disse ainda. Neste momento a fábrica produz já cerca de 32% da energia que consome, com origem em mais de 6.000 painéis solares instalados nos telhados da unidade, mas a ambição é chegar a 2025 com uma percentagem de 50% de autoconsumo de eletricidade. 

"Mangualde é uma unidade com raízes portuguesas, com mais de sessenta anos de história. Esta fábrica, que é uma das três melhores do mundo nos mais exigentes requisitos de qualidade e inovação conta com uma equipa de excelência que, pôs mãos-à-obra e não só cumpriu, como ultrapassou o objetivo inicial de arrancar com a produção de veículos elétricos, prevista inicialmente para 2025. Daqui só podemos tirar bons exemplos", disse.

Por seu lado, o ministro da Economia prestou homenagem à indústria nacional e ao CEO da Stellantis, Carlos Tavares, que classificou como um dos melhores gestores a nível mundial. "Este projeto é um exemplo do que pode e deve ser a economia portuguesa. Um projeto virado para a exportação e a internacionalização, numa área crítica como é a da mobilidade sustentável, e que integra toda uma cadeia de valor. É possível um maior salto de industrialização da economia portuguesa, e o exemplo está aqui. Agora é replicar", disse Pedro Reis. 

Carlos Tavares, que há três anos seguidos recebe Marcelo em Mangualde (depois das visitas de 2022 e 2023), classificou o arranque da produção de elétricos em Portugal como um "dia feliz" e uma "nova era" para a fábrica portuguesa, que a partir de agora passará a fabricar oito modelos diferentes de veículos movidos a baterias elétricas, de passageiros e mercadorias. E sublinhou: "Conseguimos antecipar a produção em mais de um ano".

Para o CEO da Stellantis, este é um passo decisivo para "combater as marcas chinesas que estão a surgir no mercado europeu", garantindo que a empresa que dirige é hoje a número dois a nível mundial mas "está na corrida para chegar ao topo e ser líder de vendas". O responsável falou também de uma competição renhida com a Tesla, em termos de preços e autonomia dos elétricos. 

No dia em que comemorou o arranque da produção de elétricos em Portugal, a Stellantis assinalou também a entrega de 719 veículos elétricos ao Serviço Nacional de Saúde, depois de ter sido a vencedora de um concurso público levado a cabo pelos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde no ano passado, para a compra de veículos elétricos que vão equipar unidades do Serviço Nacional de Saúde do Minho até ao Algarve.

No total, entre Peugeot E-Rifter (300) e Citroën ë-Berlingo (419), a Stellantis vai entregar 719 veículos elétricos, aos quais se juntam 600 estações de carregamento (Wall box de 11Kw/h), às cinco Administrações Regionais de Saúde (ARS) e a sete Unidades Locais de Saúde (ULS). Os veículos Peugeot e Citroën escolhidos para eletrificar a frota do SNS destinam-se a unidades de Cuidados Continuados de Apoio Domiciliário do Serviço Nacional de Saúde, no território continental português.

Neste negócio ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência da UE, que ascende a quase 21 milhões de euros, o SNS adquiriu mais de sete centenas de automóveis elétricos a bateria e sem emissões locais. "A Stellantis está profundamente comprometida com Portugal, na produção industrial, na criação de empregos, na geração de valor e disponibilizando um excelente portefólio de veículos", disse Carlos Tavares.
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